terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As vantagens e virtudes da mediocridade

Estava eu a desfolhar uma revista Super Interessante (SP) à toa e dou por mim a ler um artigo sobre os antagonismos: genialidade e mediocridade. Até aqui tudo normal, ninguém duvida que os termos são opostos e têm significados que servem para caracterizar eventos ou realizações radicalmente diferentes. Podem até ser, cada um dos termos respectivamente, sinónimos por associação de bom e mau. No entanto, no artigo intitulado de “O ataque dos Medíocres” da edição portuguesa de Março de 2011, da anteriormente citada revista, são explorados e explanados tanto os aspectos negativos como positivos, especialmente as vantagens sociais, tantos dos medíocres como dos génios.
Decalcomania - René Magritte
Diz-nos o senso comum, independentemente dessa excelente ferramenta do juízo imediato ser genial ou medíocre, que um génio traz vantagens para uma determinada sociedade na mesma medida em que pode trazer também alguns problemas. Se a inovação, a capacidade de ir além dos limites do comum nos fazem evoluir, e até poderem ser as características que nos tenham tornado uma espécie de sucesso, para além disso existe  também o lado negro da genialidade. Uma sociedade humana precisa igualmente de estabilidade, de ordem, de membros que desempenhem funções mais corriqueiras – mais igualmente importantes -, e até uma certa capacidade de obediência, a bem da  necessária coesão social. Estes pretensos defeitos  e incapacidades da genialidade podem ser então as virtudes da mediocridade. Penso ser aqui que reside o especial interesse do artigo que serviu de base ao presente texto, pois é pouco habitual falar nas “virtudes da mediocridade”.
Como se refere no artigo da SP, os medíocres são extremamente úteis socialmente: garantem a estabilidade; são obedientes e manipuláveis; aceitam e são felizes realizando trabalhos menos complexos e criativos, e mais repetitivos; apreciam a rotina. No entanto, tal como é citado no artigo em causa, a mediocridade pode-se manifestar em três níveis distintos. Luís de Rivera, catedrático de psiquiatria, faz essa distinção:

  • 1º Nível a mediocridade comum - falta de originalidade e hiper-adaptação.
  • 2º Nível a mediocridade pseudo-criativa - semelhante à primeira com o acréscimo pernicioso da imitação dos processos criativos, numa relação com a necessidade de ostentação e indiferenciação do belo e do feio, do bom e do mau.
  • 3º Nível a mediocridade inoperante activa (já numa forma de patologia) – resulta em práticas de assédio enquanto que os anteriores níveis têm, de um modo geral, apenas a incapacidade de reconhecer e identificar a genialidade; estes indivíduos não são produtivos nem criativos, mas possuem um enorme desejo de notoriedade e influência.
Assim, tendo em conta o que se disse anteriormente, e ao fazermos uma breve análise superficial sobre a história da humanidade, parece que quase sempre existiu uma contínua disputa entre génio e medíocres. Parece que, independentemente dos conflitos armados, muitos foram os conflitos entre os inovadores e desalinhados e os ordeiros e “cinzentões”,  ao longo da nossa existência enquanto espécie. No fundo a oposição entre genialidade e mediocridade era muitas vezes a justificação para lutas de poder (relacionamento com a genialidade versus nível de mediocridade inoperante), ainda que esse poder pudesse passar por coisas tão variadas como os hábitos, os costumes, os modos de organização social e até visões do mundo.
Neste caso, como em muitos outros, parece que no meio-termo é que estará a virtude e o caminho para uma sociedade coesa, harmoniosa e com capacidade de progresso, isto porque numa sociedade complexa há sempre muitos papeis a desempenhar pelos vários actores sociais. Penso que com esta afirmação me posso classificar, como dizia no artigo o professor Luís Rivera, como um medíocre pseudo-criativo, pois se analisarmos bem esta afirmação (e até todo o texto) bem que a podemos considerar um plágio que nada traz de novo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Filme “Sem tempo” – onde literalmente o tempo é dinheiro

Assim que vi o trailer do filme “Sem tempo” (ou “in time” no original) fiquei logo de curiosidade aguçada, pois, pelo que demonstravam as imagens, estava-se perante uma ficção social que, a ser bem feita, poderia ser uma experiência cinematográfica muito interessante – daquelas que nos fazem refletir durante e após o fim do filme.

Analisando o filme pelo desempenho dos atores, pela fotografia, guarda-roupa, encadeamento da acção e afins, mesmo com alguns apontamentos bastante interessantes, nada sobressai espetacularmente. Na sequência da ação e do drama até diria que existem algumas partes desconexas. Falta alguma coerência e ligação entre os vários momentos do filme para dar mais coerência a esta ficção. Apesar disso, ultimamente Justin Timberlake começa a esboçar contornos de um artista à moda antiga, um quase humanista que toca várias artes.
Mas agora aquilo que me fez gastar um “post” aqui no blogue com este filme. A ficção social, a sociedade criada para dar o ambiente social ao filme é das mais originais que se têm visto no cinema para o grande público nos últimos anos. Os autores conseguiram, sem recursos a grandes efeitos especiais ou tecnologia, recriar uma sociedade completamente diferente, num futuro desconhecido e estranho, mas que muito nos faz refletir sobre o mundo de hoje e até sobre a intemporal condição humana. Numa altura em que o jargão “crise económica” está na ordem do dia, este filme apresenta um futuro sem dinheiro, onde o tempo é, literalmente, o dinheiro. O que é delicioso - embora "agridoce" -nesta obra é a forma como foi reinventada a noção de tempo e a sua influência nas vidas e sociedades Humanas.
Para melhor enquadramento, sem com isso querer estragar a história e o prazer de assistir a este filme, é adequado fazer aqui uma pequena referência a essa sociedade ficcional criada. Imagine-se – tal como imaginaram os autores – uma sociedade onde toda a humanidade tinha sido geneticamente modificada para parar de envelhecer aos 25 anos de idade, ou seja, todos teriam acesso à imortalidade com o aspeto e vitalidade dos 25. No entanto, a partir dos 25 um relógio biológico introduzido com a alteração genética inicia uma contagem decrescente que marca o fim da dita imortalidade. Ou seja, a imortalidade tinha data marcada, com um tempo a esgotar-se constantemente. Mas esse tempo poderia ser aumentado ou diminuído por transferências. É ai que entra o dinheiro, com o tempo de cada a um a transformar-se no seu dinheiro, isto num vínculo muito pessoal do qual dependia a sua própria vida. Então neste novo mundo o tempo ganha uma nova dimensão comercial. Para viver mais seria preciso ganhar tempo, trabalhando, fazendo comércio e afins, ou simplesmente roubando. Tudo se pagava e comprava com o tempo que cada um transportava consigo no seu “relógio”. Quando o tempo se esgotasse, no relógio de cada, um simplesmente o fim chegava, vinha uma morte inevitável programada geneticamente. Assim, viviam somente – pelo menos em teoria – os que faziam por merecer

Dá então para imaginar quais as consequências desta ficcional da oportunidade de poder ser imortal. Mas seira este modelo justo, quem viveria mais tempo ou mesmo atingisse a imortalidade era quem merecia de facto? No filme fica evidente que isso estava reservado penas aos mais ricos (em tempo). A própria posse do tempo influenciava o modo como o seu portador o via e dependia: “para quê correr quanto temos todo o tempo do mundo”. Os pobres, por outro lado, passavam a vida a correr tentando aproveitar todos os minutos e segundos de uma vida insegura e incerta – apesar do seu aspeto exterior. O paralelismo com a vida de hoje é evidente: as classes mais desfavorecidas trabalham para viver cada dia, enquanto que as mais privilegiadas criam novas necessidades e ocupações para gastar o seu tempo.

A condição humana – ainda que isso seja uma coisa difícil de definir – é tão colocada em causa no filme que as reflexões que dele podemos retirar são imensas. O facto de ninguém envelhecer para além dos 25 anos acabava com as diversidades etárias sociais: todos tinham a mesma aparência, independentemente da experiência de vida que tinham. Não havia distinção de aspeto etário entre pais, filhos e avós; todos se assemelhavam se conseguissem continuar a ter tempo de vida. Seria suportável viver numa sociedade destas? Apesar dessa possibilidade - ainda que apenas muito ténue na atualidade -, hoje muitos tentam evitar a sua idade, apesar de todas implicações e relações sociais que dai dependem e resultam.

No próprio filme é referido, por uma das personagens com mais tempo da “alta finança do tempo”, que esta sua sociedade “assentava nos princípios do evolucionismo darwinista capitalista, pela sobrevivência dos mais fortes e aptos”, daqueles que tinham mais tempo. Apesar de tudo, se calhar, viver para sempre, ser jovem para sempre, ainda por cima quando isso não está ao alcance de todos, pode não ser assim tão bom e lá grande evolução

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Peças de Lego – uma história de brincadeiras a sério

Fica aqui o registo, depois de consultadas várias fonte na WEB, da história da Lego.
Em 1932 a carpintaria de Ole Kirk Kristiansen começou a fazer brinquedos de madeira em Billund na Dinamarca. A inspiração para a produção de brinquedos surgiu dos modelos de pequena escala que produzia, nessa mesma carpintaria, para apoio ao design, marketing e venda dos produtos de escala real (as primeiras miniaturas foram escadas e tábuas de passar a ferro). Desses primeiros modelos surgiram os primeiros brinquedos em madeira propriamente ditos: carros, camiões, pequenos mobiliários, e outros “brinquedos de empurrar”. Mas a produção de mobiliário de grande escala continuou a ser a principal atividade
.
Escultura em Lego da autoria de Nathan Sawaya

Em 1934, quando Godtfred, filho do fundador Ole Kirk, começou a tomar parte ativa na empresa, foi feito um concurso entre funcionários para encontrar um novo nome para a empresa de brinquedos (consta que o prémio seria uma garrafa de vinho caseiro). Surgiram duas propostas: “Legio”, que se associava a “Legião de Brinquedos”; e LEGO, uma contração de uma frase dinamarquesa “Leg godt” que significava “brincar bem”. Mais tarde, já depois de terem adotado o nome Lego, os proprietários descobriram que em latim o nome escolhido poderia significar também “eu monto” ou “eu construo”.
Foi só em 1947, com o fim da 2ª Guerra Mundial, que a Lego adquiriu uma máquina de injeção de plástico – na altura acetato de celulose - e começou a mudar a matéria-prima dos seus brinquedos. Foi no entanto um inglês que desenvolveu o sistema de montagem e encaixe que hoje vemos nas peças de Lego. Ole Kirk e Godtfred obtiveram umas amostras das peças encaixantes produzidas pela empresa Kiddcraft – os “blocos de construção auto-encaixantes Kiddcraft” – e em 1949 a Lego começaram a produzir a sua própria versão – os “blocos de construção automáticos”. Em 1953 o nome do sistema passou a ser “Lego Mursten” ou “LegoBriks” (ou aportuguesando o termo: “peças de Lego”).
As primeiras vendas foram uma deceção, pois os consumidores preferiam os tradicionais brinquedos de madeira ou metal.
É então que em 1954 surge a ideia de criar todo um sistema de construção, com uma grande panóplia de produtos relacionados e compatíveis entre si. Estava lançado aquilo que tornaria o Lego num sucesso e naquilo que é hoje: um conjunto de peças de plástico, de vário formato e cor, compatíveis entre si que podem ser conjugadas segundo a imaginação dos construtores. Surgiu em 1955 o primeiro tema deste novo sistema: “o tema de cidade”.
Foi uma fatalidade, um incêndio em 1960 que destruiu a maior parte do armazenamento de brinquedos do Grupo Lego, que ditou definitivamente o futuro da produção de brinquedos, que passaria a ser exclusivamente em plástico. A partir de então a marca começou continuamente a desenvolver os seus produtos e a acrescentar sempre mais inovações, produtos e acessórios de peças “Lego”. Em 1962 são introduzidas as primeiras rodas Lego em plástico. Em 1963 o acetato de celulose é substituído por plástico ABS, aquele que ainda hoje é utilizado. Em 1964 são introduzidos os primeiros manuais de construção. Em 1966 são criados os primeiros sistemas de comboios, com motores de 4,5 volts e dois anos depois de 12 volts. Em 1968 abriu o primeiro parque de diversões Legoland com 12.000 m2. Em 1969 surgiu o sistema Duplo, destinado para crianças ainda mais pequenas. Em 1971 a Lego virou-se para o universo mais feminino, com a introdução de peças de mobiliário e “casas de bonecas” em peças de plástico Lego. Em 1972 são introduzidas as peças de casco de navio que permitiam que os barcos flutuassem de verdade. Entre 1975 e 1977 foram introduzidas as peças mais técnicas que permitiram construir verdadeiros mecanismos (aquilo que em 1982 seria a série “Technic”), com engrenagens, rodas dentadas, etc. Em 1978 são então acrescentadas os atuais bonecos de Lego – o primeiro foi um polícia -, tal como os conhecemos ainda hoje. A partir daí começam a surgir muitos outros temas para além do tema da cidade, surge o tema “espaço”, mas tarde em 1983 surge o tema “castelo”, em 1989 os “piratas”, e por ai em adiante muitos mais surgiriam com cada vez mais acessórios que aumentariam o realismo das construções. Em 1999 surgem as primeiras parceiras com temas de autor já estabelecidos, o exemplo de “Star Wars” e “Harry Potter” entre muitas outras, dando um novo fôlego ao universo Lego. Mas foi só em 2003 que se adota uma nova palete de cores para as peças, aumentando ainda mais a gama cromática que, em alguns casos, resultou em mais realismo e possibilidades de criar novos ambientes e construções. Hoje Lego é também marca de videojogos, jogos de tabuleiro, linguagem de programação para robots construídos também em Lego, e até marca de roupa infantil.

Mas muito do sucesso dos “Legos” deveu-se a uma perspetiva educacional dos mesmos. Em 1980, seguindo já muitos educadores que identificavam as possibilidades que estes brinquedos detinham para o desenvolvimento educativo e cognitivo das crianças, a Lego criou o “Departamento do Produtos Educacionais” de modo a explorar ainda mais o potencial educativo dos seus brinquedos.

Hoje os fans de Lego levam o brinquedo a novas dimensões para além do propósito de brincar. Hoje existem associações, maioritariamente de adultos, que se dedicam a fazer grandes exposições temáticas com criações próprias – os MOCs. São também conhecidas animações e filmes criadas a partir do movimento, real ou induzido, de cenas com peças lego. Alguns artistas criam também as suas obras de arte com Lego enquanto matéria-prima! Quem sabe que mais sérias brincadeiras estão reservadas para este original e muito particular brinquedo, que já provou ser muitos mais do que aquilo para o qual inicialmente foi pensado!

    segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

    O que é mais seguro: o transporte colectivo ou o individual?

    Provavelmente - digo eu especulando - o senso comum diz-nos que é mais seguro viajar num automóvel ligeiro do que num transporte público, mas parece que estatisticamente, e na maior parte dos casos, não é bem assim. Segundo Daniel Murta*, "os riscos no transporte público são sub-avaliados pelos utentes, enquanto os do transporte público são sobre-avaliados pelos próprios e pela sociedade (por comparação com os primeiros)". Esta noção deve-se a dois factores segundo o autor: a falsa sensação de segurança quando se está ao controlo de uma viatura - no caso do automóvel ligeiro; e, fobias e medos, não comprovados estatisticamente, associados à morte colectiva - no caso do transporte colectivo.
    Remadores no Chatou - Renoir
    Para esta sensação errónea de segurança contribui também  o efeito de tragédia colectiva, muitas vezes explorado e amplificado pela comunicação social e até pelo cinema. Quantos não são os casos mediáticos de acidentes onde a contabilização de vítimas choca e causa medo, quando no fundo muitos mais são os sinistros nos transporte individual. 
    Outro aspecto, este muito mais economicista, que tende a tornar os transportes colectivos mais seguros que os individuais, são as questões relacionadas com os seguros e indemnizações. No transporte colectivo, em caso de acidente, o valor das indemnizações atingiria montantes imensos por se tratarem de muitas pessoas, obrigando isso a que os construtores e operadores cuidem muito mais da segurança - ainda que pelas razões menos correctas. Por outro lado, no transporte individual, os custos e riscos são suportados apenas pelo próprio condutor, quanto muito pelo fabricante de automóvel também.
    Assim, a segurança rodoviária pode ser uma questão económica, mais do que preocupação pela vida humana. Mas que dizer quando se comprova que são os próprios indivíduos que descuidam a sua segurança ao assumirem que, por serem eles próprios os condutores, circulam muito mais seguros. Não pensarão isso todos os condutores? Provavelmente sim, e provavelmente continuarão a pensar, a não ser que, como no caso dos transportes colectivos, a economia faça o seu papel de promotora "segurança".

    Fontes Bibliográficas:
    * Murta, Daniel. "Quilómetros, Euros e pouca terra - Manual de Economia dos Transportes". Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010.

    domingo, 20 de novembro de 2011

    Porque "fumam mal" hoje as chaminés?

    Sempre que começa o Inverno, ou por vezes até o Outono, começam-se a acender em muitos dos lares portugueses lareiras. Por essa altura é comum também surgirem conversas, mais ou menos informais sobre essas mesmas lareiras, sedo já uma constatação habitual a noção generalizada de que: as lareiras de antigamente fumavam melhor, hoje constrói-se cada vez pior!”. Nada poderia ser mais falso!
    Tempestade de Neve - William Turner

    O senso comum leva, obviamente, a associar o problema de escoamento do fumo das atuais lareiras para o exterior dos edifícios à sua própria construção – da lareiras é claro. A associação é normal, no entanto o problema não é das lareiras em si, o problema é do edifício. Mais concretamente, o problema relaciona-se com a falta de ventilação natural dos edifícios de construção contemporânea, que advém da maior estanquidade e isolamentos dos materiais e técnicas construtivas que hoje se utilizam. Ou seja, o problema do fumo surgiu depois de se resolver o problema do mau isolamento dos edifícios mais antigos. Nos edifícios de construção mais antiga, porque tinham tantas frinchas e espaços vazios por onde entrava ar vindo de fora e devido à convecção, o ar-circulava naturalmente de dentro para fora e vice-versa. O ar ao longo dos edifícios, por razões de convexão, circula: entrando ar frio do exterior e saia o mesmo ar depois de aquecido pela chaminé. Ou seja, antigamente: criava-se ventilação natural direccionada que forçava o fumo a sair pela chaminé. Este fenómeno era tanto mais acentuado quando maior fosse o vento. Esses fenómenos podem ser chamados de "efeito de chaminé".
    Apesar do isolamento dos edifícios ser benéfico do ponto de vista energético, mesmo que fumem mal as chaminés, isso fará com que tenhamos menos ventilação natural e que as renovações de ar possam não ser as suficientes para dispersar alguns maus odores e até gases nocivos e perigosos para a nossa saúde que se formam dentro dos edifícios.
    Curiosamente, se pretendermos que as nossas chaminés de construção recente “fumem” melhor há que instalar sistemas de ventilação mecânica ou então deixar de isolar tantos as casas. Qualquer uma das soluções traz acrescimentos de consumo energético para manter uma determinada temperatura. Resta saber se a degradação do Ambiente – associada aos crescentes consumos energéticos e emissões poluentes correspondentes - vale mais que um ambiente interior com alguns gases perigosos e o desagradável e visível fumo?

    Ficam as seguintes opções:
    •    Acender a lareira, passar algum frio, não isolar a casa e deixar a chaminé "fumar bem";
    •   Acender a lareira, evitar o frio, isolar a casa e ficar com fumo no interior e outros gases nocivos;
    •    Acender a lareira, evitar o frio, insolar a casa e gastar energia a ventilar o fumo e outros gases perigosos para fora;

    •    Acender a lareira com um recuperador de calor (que custará mais dinheiro e nos "afastará mais da chama"), evitar o frio e insolar a casa, sem esquecer outros gases perigosos;
    •    Não acender lareira, isolar a casa, usar outras técnicas e fontes de calor (que tendencialmente gastam mais energia) e evitar o fumo, mas alguns gases perigosos ficam sempre lá.

    Bem, confuso e complexo, até porque a solução ótima obriga a uns quantos cálculos e escolhas pessoais ou dependentes dos contextos… não obstante de habitualmente ser a última opção a melhor. No fundo, interessa é mesmo isolar a casa quanto baste (por exemplo, reguladores em fachadas e caixilharias que permitem controlar a entrada de ar) para garantir alguma ventilação natura para dispersar gases nocivos.  Já a fonte de aquecimento depende, por outro lado, de quanto estamos dispostos gastar com isso. Mas uma lareira é sempre uma lareira, afetivamente e emocionalmente as sensações que liberta são outras.

    Será que, pensando em todo o trabalho e questões que levanta, vale sequer iniciar uma conversa sobre como fuma uma chaminé?

    Nota: para mais informações sobre ventilação natural de edifícios fica a seguinte sugestão: "Ventilação Natural de Edifícios de Habitação" da autoria de João Carlos Viegas, numa edição do LNEC de 2002.

    domingo, 13 de novembro de 2011

    Os primeiros "Homens" eram necrófagos?

    Quando imaginamos os nossos antepassados, as primeiras espécies Homo – aquelas com nomes difíceis de decorar e a lembrar de aspeto simiesco -, e pesamos nos seus modos de subsistência vem-nos à memória, de imediato, a caça/recoleção. Mas, se nos centrarmos na aurora das primeiras espécies nossas antecessoras, quando a tecnologia que tinham e dominava eram os próprios primeiros exemplos de tecnologia, não será difícil admitir que caçar seria difícil. As espécies Homo não tinham presas, mandibulas, garras ou outras valências biológica que fizerem deles caçadores naturais, para o serem teriam de recorrer à tecnologia.
    Homo Erectus - Zdenek Burian

    As primeiras realizações tecnológicas – a primeira tecnologia -, sendo que tudo tem um princípio e se desenvolve inicialmente de algo simples, não passavam de pedras toscamente talhadas que poderiam ser usadas para o corte, a precursão e o raspar. Ou seja, seria muito difícil, ou até impossível, caçar com essas ferramentas. Mesmo com o melhor dos bifaces ninguém conseguiria caçar um herbívoro de médio ou grande porte, ou outro animal mais pequeno que era tendencialmente mais rápido. Há que notar que não existiam ainda lanças, arcos, flechas ou fundas que permitissem caçar à distância. Ou seja, a carne que os primeiros Homos poderiam aceder era, quase com toda a certeza, a proveniente da recoleção. Tal como recolhiam frutos, bagas e raízes das espécies vegetais recolhiam também a carne de animais feridos ou mortos. Logo, há grandes probabilidades, já para não dizer certeza, que os antepassados da espécie Humana seriam necrófagos. Só depois com o desenvolvimento tecnológico foi possível caçar de facto animais vivos.
    Foi essa capacidade, de retirar o máximo sustento do meio que contribuiu para o evoluir das espécies de hominídeos, incluindo a nossa: o homo sapiens. No entanto, essa capacidade de aproveitamento, quando levada ao extremo – e os casos ao longo da nossa história (escrita e não escrita) foram muitos, veja-se por exemplo as alterações ambientais na Ilha de Páscoa e em maior escala na Austrália – tem impactos negativos na biodiversidade, no próprio ambiente e, agora, até no próprio clima. De um ponto de vista muito pessimista, poderemos dizer que a Humanidade de hoje está, em parte, a ser necrófaga, pois se continuarmos a descuidar do planeta, poderemos estar a alimentarmo-nos de um moribundo, morrendo nós com ele [o planeta terra].

    Referências Bibliográficas:
    • Cardoso, João Luís. "Pré-História de Portugal". Lisboa, Universidade Aberta, 2007.
    • Solar, David e Villalba Javier. "História da Humanidade - A Pré-História". Barcelona, Editorial Oceano, 2005.

    domingo, 6 de novembro de 2011

    Memorial do Convento - A frase mais longa num romance

    Muitos portugueses admiram Saramago por ser o nosso único prémio Nobel da literatura, uns contra vontade - pelas polémicas, personalidade e escolhas de vida -  e muitos outros genuinamente pela monumentalidade do seu trabalho. Normalmente, a primeira crítica que se arremessa contra o desaparecido autor é a sua pontuação (ou falta dela). Sem dúvida que pode ser de difícil leitura - o que até pode ser bom. Não sei se o nosso Nobel não pretendia complicar propositadamente a sua escrita. Será que queria que os Portugueses se esforçassem e dedicassem mais tempo à leitura? Pois ler uma coisa “complicada” demora forçosamente mais tempo. Será que estava a criticar-nos pelos nossos parcos hábitos de leitura e, logo, dificuldades em compreender textos um pouco mais complexos e arrojados do ponto de vista da pontuação.
    Procissão da verdadeira cruz na Praça de S. Marcos - Gentile Bellini

    Pegando na polémica pontuação a que Saramago recorria, queria referir aqui um excerto de uma das suas obras, que por acaso até foi a que lhe deu o prémio Nobel - Memorial do Convento. Confesso que uma frase em especial dessa obra me surpreendeu, isto porque deve ser das maiores frases escritas até hoje num romance: desenvolve-se ao longo de 7 páginas! Provavelmente isto pouco de novo tem para muitos de vós, até porque a obra passou a ser de estudo obrigatório no ensino secundário.
    Voltando à longa frase que me fez escrever este texto. Na minha opinião Saramago demonstrou com esta opção e criação o seu génio. A frase em causa relata uma procissão. De início, por ser uma descrição, somos levados a ler rapidamente para chegarmos à acção, para pegarmos de novo na história das personagens. No entanto, a frase parece interminável, e à medida que avançamos mais rápido tenderemos a lê-la cada vez mais rapidamente. Esta estratégia do escritor faz com que o leitor entre numa dinâmica acelerada, ganhando todo o evento uma vivacidade frenética muito própria. Assim, à medida que sentimos o movimento de todo o aparato descrito, que serve para descrever toda uma sociedade - as suas características, as suas injustiças, hipocrisias, crenças e inocências –, entramos na visão que o autor quer transmitir do evento em causa e suas implicações. Saramago faz assim uma longa descrição, que até se torna rápida e dinâmica, numa sequência de contra-sensos e absurdos que vai salientando. 
    Concordando-se ou não com a visão do autor, é magistral o modo como o faz!

    sexta-feira, 28 de outubro de 2011

    "As confissões de Schmidt" - o poder de escrevermos sobre nós próprios

    O filme “As confissões de Schmidt” conta a história de um homem banal, com defeitos e virtudes, numa vida igual a tantas outras onde não se destaca nada nem nenhum evento relevante;  a personagem principal nem sequer tem qualquer característica particularmente interessante. Mas é nisso mesmo que o filme ganha o seu interesse, a banalidade de uma vida comum comprova-se aqui que pode ser interessante. Para isso contribui muito o actor, a sua prestação e performance. Jack Nicholson prova, neste filme, ser um dos melhores actores norte-americanos vivo, sendo a sua presença suficiente para tornar um filme corriqueiro num bom filme.
    A história, de um modo resumido, é a de um homem a viver uma fase decisiva da sua via, provavelmente a última que viverá; conta-se o episódio de um homem que passa pelo se derradeiro processo de expiação e reflexão. O filme transmite a ideia de um Schmidt que passou uma vida sem reflectir sobre si e o mundo em que viveu e vive, que só o fez quando começou, por acaso do destino, de um modo indirecto a escrever sobre si próprio
    Tentando tirar daqui uma reflexão: por vezes umas palavras pessoais que provoquem um “clique” é tudo o que precisamos para reflectir sobre nos e o nosso lugar no mundo, e hoje, como as novas tecnologias da informação, isso pode passar pelo clique do teclado.

    sábado, 22 de outubro de 2011

    País ou Estado mais pequeno do mundo?

    Numa recente conversa à mesa, discutia-se entre amigos qual o país mais pequeno do mundo. A discussão começou por centrar-me mais naquilo que distinguia um País de um Estado. Nem sempre a distinção entre estes dois conceitos é óbvia – os pratos e talheres foram nossas testemunhas -, pois o termo País pode ser utilizado para nomear um Estado ou outra Entidade Política – por exemplo federação de Estados. De um modo simplista e pragmático, País e Estado podem ser consideramos a mesma coisa, se assim forem considerados por outros países e estados - o risco de paradoxo aqui é evidente, pois caso ninguém reconhecesse outrem não existiriam Países ou Estados. Confuso (1)(2)! 
    Para ser mais simples ainda, apesar dos termos poderem significar a mesma coisa, um Estado relaciona-se mais com o governo e o país com o espaço territorial (3), ou seja, Estado com a dimensão política e País com a geográfica (4). Apesar desta distinção, política e geografia aparecem muitas vezes relacionadas uma com a outra: a política (no sentido da organização e gestão de sociedades humanas) relaciona-se ou acontece para ou numa determinada geografia e a ocupação humana e exploração dos recursos partem sempre de um tipo de política, por mais simples que seja.
    Estas simples explicações, ou até talvez mesmo ingénuas, servem para a introdução àquele que é o propósito deste texto: Estado ou País mais pequeno do mundo. O Estado ou país – neste caso discutível para alguns - oficial mais pequeno do mundo será o Vaticano. Mas existe um, ainda que não sendo reconhecido por outros Estados ou países, que consegue ser ainda mais pequeno que o Estado Pontífice; falo de Sealand.
    Sealand situa-se no Mar do Norte mas não é uma ilha, nem sequer tem terra, rochas ou areias. Sealand é uma plataforma militar marítima construída durante a 2º Guerra Mundial como posto avançado para prever e prevenir os ataques alemães, tendo sido no final da guerra utilizada como apoio ao ataque continental do Aliados às forças nazis que ocupavam a Europa continental (5)(6). Mas é depois da guerra, e de ser abandonada pelos ingleses, que a história desta antiga plataforma – intitulada até 1966 de Rough Towers - ganha contornos de excentricidade, um tanto ou quanto burlesca.
    Em 1967 a estrutura é ocupada por Roy Bates, alguns familiares e amigos. Baytes autonomeou-se príncipe, constituindo assim o principado de Seland. Desde então começou a emitir passaportes e selos de correio, criou uma constituição, um hino e uma bandeira, tendo até cunhado dólares de ouro e prata (5)(6). Esta bizarria só foi possível de manter por a plataforma hoje estar fora das águas territoriais inglesas, a umas meras 3 milhas.
    Mais haverá para contar sobre sealand, mais casos caricatos: chegou a ter um golpe de estado - encetado por um alemão - e de um terrível incêndio. Até a crise financeira passou por Sealand, com o príncipe herdeiro disposto a vender o seu principado (5).
    Mesmo com todos os esforços dos seus governantes, Sealand não é considerado um país ou Estado de facto, pois nenhum outro o reconheceu como tal.

    Referências e Notas:
    (1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado
    (2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADs
    (3) Definição de Estado: Nação organizada politicamente. Fonte: Infopédia, disponível em http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/Estado
    (4) Definição de País: - espaço demarcado por fronteiras geográficas e dotado de soberania própria; estado; nação. Fonte Infopédia, disponível em http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/Pa%C3%ADs
    (5) http://pt.wikipedia.org/wiki/Sealand
    (6) http://www.sealandgov.org/

    terça-feira, 11 de outubro de 2011

    Meia-Noite em Paris - uma epifania de filme de Woddy Allen

    Soa a meia-noite e inicia-se a viagem ao passado. Quantos não olham para o que se passou na história – pelo menos a que conhecem - com nostalgia de uma época que não viveram nem conheceram, mas que atrai como desejo de escapar à realidade contemporânea. Presunções à parte, estas primeiras duas frases poderiam ser o mote e apresentação do mais recente filme de Woody Allen, falo do “Meia-Noite em Paris”.
    Voltei agora do cinema e sinto ainda as sensações das imagens e sons da visão que Allen transmitiu da mítica cidade das Luzes, da cultura, da liberdade e do romance; a Paris de postal é o fundo recorrente, com a sua arquitectura, arte, cultura e alma. Allen retrata também Paris pelo modo como ele próprio vê os vários artistas que por lá passaram e mais tarde seriam os grandes nomes da arte e cultura de todos os tempos.
    Quem apreciar arte não poderá ficar indiferente a este filme, pois trata-se de uma verdadeira montanha russa a percorrer montras de onde podemos conhecer os artistas e autores célebres do passado. Os planos de Paris são muito belos, a música, embora não muito gaulesas, é adequada. Os actores, à excepção do principal que parece um pouco desadaptado do papel que seria suposto desempenhar, vestem magistralmente as suas personagens (o Dali é Magistral!).
    Meia-Noite em Paris é um filme bem ao estilo do autor/realizador; quando a ficção ultrapassa os limites do que poderia ser real a estranheza não se mostra e nota - em Woody Allen passar do real ao surreal e fantasioso é por vezes tão natural que nem damos por isso. O modo como mistura irrealidades com realidades, sendo que isso normalmente é apenas o contexto e ambiente para tornar a história principal mais emotiva, não nos desvia do verdadeiro enredo.
    Pegando naquilo que me parece ser a história principal, eu diria que o filme, sem “estragar o filme” para quem ainda não teve o prazer de o ver, retrata algo tão simples como: a história de um escritor em crise, crise de identidade, com aventuras pelo presente e passado que culminam numa epifania transformadora.


    Afinal quem não procura uma [epifania] para dar sentido à sua vida?

    sábado, 1 de outubro de 2011

    Terá a "Troika" vindo da Rússia?

    A palavra Troika tem sido utilizada neste último ano em Portugal de forma constante, pois foi o termo adoptado pela equipa constituída pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, criada para resgatar Portugal (entre outros países) e a sua dívida estatal, adoptou um nome que soa a trio. Como a crise afecta directamente, mais do que provavelmente esperavam os portugueses inicialmente,  palavra vai-se repetindo.
    Mas afinal de onde vem o termo Troika? Terá sido inventado aquando da crise das dívidas soberanas especificamente para representar a união das 3 entidades anteriormente referidas? 

    Troika de Inverno - Yuri Aleksandrovich Sergeyev

    Bem, parece que não. Parece que foi uma adopção de uma palavra russa. Originalmente a palavra Troika (1) em russo servia para nomear o conjunto de três cavalos a um carro (carruagem, carroça ou trenó). No fundo significa uma associação, uma composição de três entidades que se unem para algo.
     
    Terá então a Troika, que tem visitado Portugal, sido constituída para “puxar”, numa relação com a palavra russa, Portugal da crise?
     
    Referências: 
    (1) - http://pt.wikipedia.org/wiki/Troika

    domingo, 25 de setembro de 2011

    Quando o Rococó era pejorativo

    Rococó foi o estilo artístico dominante na maior parte da Europa do século XVIII, tendo sucedido ao estilo Barroco, ainda que se possa dizer que foi integrante do seu precursor. Até aqui nada de novo e de especial a salientar - no fundo é cultura geral. Mas interessa aprofundar um pouco mais o tema para outras reflexões. O Rococó caracterizava-se pela frivolidade, leveza de ser dos temas e dos ambientes. A pintura que se insere nesse estilo tratava temas relacionados com o amor, a "boa vida", ou certas vezes apenas a nudez embelecida. Diz-se que era um tipo de arte meramente decorativa, especialmente criada para a aristocracia e seus mundos cor-de-rosa, ainda que executada com grande talento e técnica.
    O baloiço - Jean-Honoré Fragonard
    O termo Rococó terá sido inventando, pouco depois da Revolução francesa, por um discípulo de Jacque-Louis David; tratava-se de uma alusão à palavra rocaile, que significava um tipo de ornamentação à base de conchas e pedras usadas habitualmente em fontes e grutas. A palavra estava carregada de ironia e desdém, tendo sido considerada um pejorativo pelos artistas do Neoclassicismo, o estilo dominante a partir dos finais do século XVIII e inícios do século XIX.
    Este exemplo da história da arte permite algumas reflexões sobre a cultura e a nosso modo de organização social. Hoje a palavra Rococó pode até nem ser lá grande insulto, mesmo havendo quem a utilize como adjectivo de frivolidade. Tal como a arte, muitas das concretizações humanas passam pelo processo de novidade, aceitação e refutação; são construídas coisas novas que dão lugar a outras novas depois de um processo de desconstrução. Quantas não são as vezes em que algo tem de ser denegrido para que outra coisa nova se possa impor no antigo espaço ocupado pela sua precursora?
    Dirão os moralistas que isso é negativo, pois os valores perdem-se. Mas, provavelmente, os mais progressistas dirão em sentido contrário que esse é um aspecto positivo da condição humana: a incessante procura de algo novo, de modo a que a vida possa ser melhor, isto num mundo de constantes mudanças e adversidades para o qual é preciso encontram novas respostas.
    Este exemplo faz-nos pensar, entre muitas outras coisas, sobre o valor das coisas, os próprios valores e o quanto o período histórico condiciona tudo isso.

    Fonte: Arte - Grande Enciclopédia, civilização editora.

    quinta-feira, 15 de setembro de 2011

    Quando os heróis nacionais não coincidem com as fronteiras - Garibaldi

    Cá por Portugal, provavelmente por termos fronteiras continentais definidas há séculos – se excluirmos o caso de Olivença –, Estado e Nação significam, na prática, a mesma coisa. Mas, em muitas regiões da Europa os dois conceitos são bem diferentes, muito devido à história geopolítica desses locais, com fronteiras a mudarem e territórios a alternar de Estado para Estado. Em certos países, alguns dos seus heróis e personalidades famosas não nascerem nesses mesmos países que hoje os reclamam com orgulho. Casos como o de Garibaldi são quase caricatos.
    Homenagem a Giuseppe Garibaldi - Rubens Fogacci
    O conhecido revolucionário italiano, que muito contribuiu para a unificação de Itália (numa altura em que outras Estados controlavam partes do actual território italiano), e até para as independências e afirmações nacionalistas da América do Sul (Rio Grande do Sul, Uruguai, Brasil, etc.), afinal não nasceu no actual território de Itália. Garibaldi nasceu em Nice, na sua altura Nizza , uma cidade que pertencia ao ducado da Sabóia. Ou seja, Garibaldi nasceu na actual França, mesmo que na altura o território ainda não fosse francês. Parece paradoxal que Garibaldi tivesse conseguido unificar a Itália sem que a sua cidade natal fosse integrada nesse projecto nacional, uma frustração para o próprio e, provavelmente, para os italianos de hoje, que recordam Garibaldi um pouco por todo o país através da toponímia e de estátuas em alguns dos locais mais nobres das suas cidades. Curiosamente Garibaldi é também reconhecido como herói em França. Não é também por acaso que foi na época de Garibaldi, ao longo do século XIX, que se “inventaram” muitas nacionalidades e até o próprio nacionalismo na Europa, sendo de então a criação do Estado-Nação de forte cariz nacionalista, um tipo de Estado forte, sustentado nas populações - características, cultura, necessidades, etc. - e não na figura de um monarca despótico. Essa "invenção" teve aspectos positivos, pois dotaram os Estados de uma força que permitiu reforçar a protecção social, as liberdades e a implementação, em alguns casos, de mais liberdade. No entanto existiu o reverso da medalha e nem todas as experiências foram positivas. Muitos Estados-Nação, munidos de forte sentimento nacionalista, muitas vezes associado a um culto da superioridade da raça levou à xenofobia, ao expansionismo desumanizante e a constantes estados de guerra - as Guerras Mundiais, por exemplo. 
    Mas Garibaldi é lembrado por ter sido um dos principais defensores de um projecto socialista para as nações que viviam ainda algemadas pelos Estados Policiais absolutistas do século XIX. Por isso, e pelo seu envolvimento em muitos palco no antigo e novo mundo, Garibaldi é um herói Internacional.  
    Discordando ou não das tendências políticas desta personagem histórica, há que reconhecer no homem o mérito de ter tentado algo novo, algo diferente com o intuito de libertar os Povos da opressão - um idealista, mas alguém que devemos recordar com estima!

    terça-feira, 30 de agosto de 2011

    2 anos e 2 dias - aniversário do blogue "A Busca pela Sabedoria"

    Por razões muito pessoais, positivas e de grande alegria, só hoje me é possível registar mais um evento que também me alegra. O meu primeiro blogue, o blogue das pesquisas e aquisições informais e casuais de saber, dos pequenos retalhos de informação vários e variados, fez 2 anos de vida. A esta celebração aproveito para partilhar, reforçando, que é um prazer escrever (mesmo com alguns erros e gralhas para mal de quem lê) neste espaço, de receber as vossas visitas e de através disso querer e poder buscar ainda mais saber.

    O casamento da razão e do estudioso II - Frank Stella
     
    Hoje a Busca pela Sabedoria faz 2 anos e 2 dias de idade, surgiu como necessidade de registar saberes e curiosidades, como imperativo da força até então oculta que exigia uma actividade intelectual sobre a variedade de todos os saberes com que me ia cruzando, e que hoje continua tão viva como quando surgiu.  
    Obrigado a todas e todos!

    quarta-feira, 24 de agosto de 2011

    Filme: "Planeta dos Macacos: a origem"

    Acabo de sair do cinema, de ver "Planeta dos Macacos: a origem".  Par além deste período de férias - umas bem atarefadas e pouco dadas a descansos e relaxes - que convida a uma ida ao cinema, foi a curiosidade de ver se de facto a minha percepção ia de encontro às críticas ao filme. Depois de ponderar um pouco, ainda com os créditos a passar na sala, ainda antes das luzes lentamente se começarem a acender, conclui que: sim. Sim, também concordo que está bom! Penso que não desaponta quem aprecia o género e as prequelas. Diria que é um filme de ficção cientifica "suave", com doses de acção q.b., capazes de chamar a atenção dos que se entediam mais facilmente. Quando às prequelas, à compatibilidade e enquadramento com os filmes mais antigos, tendo em conta o fio condutor da história, não choca. A origem está lá, ainda que tenuemente explicado as posteriores consequências. São muitas as nuances que fazem a ponte entre os dois filmes: missão espacial perdida;  cavalos; o símbolo da janela; etc e tal.
    Saliento, embora isto possa ser mesmo só uma interpretação ainda mais pessoal que as outras, que houve um certo redireccionamento na história supra-filme. Pois, a leitura que fazia dos antigos "Planeta dos Macacos" levava-me a concluir que a queda da civilização humana se tinha dado devido a uma lenta e contínua degradação e corrupção da própria humanidade, e não a um evento súbito e apocalíptico.
    Apesar de alguns possíveis exageros ao nível dos dotes dos símios (cordas vocais incluídas), até que o todo não causa estranheza. Temos filme coerente com o ontem e o agora.
    A performance dos actores está muito aceitável, com uma James Franco - com a sua costela de português - à altura das exigências. A fotografia também.
    Macaquices à parte, tendo de haver uma moral, ou morais, no filme, escolheria aqueles que se relacionam com: a crítica ao lucro a qualquer custo e sem pensar nas consequências; e o domínio da razão perante a emoção - ainda que a razão preceda da emoção.

    quarta-feira, 3 de agosto de 2011

    Uma monarquia pode ser totalmente democrática?

    Aparentemente, se desconhecêssemos o mundo que nos rodeia, especialmente se estivéssemos desatentos à geopolítica europeia e só considerássemos o significado das palavras , provavelmente diríamos categoricamente que "Monarquia" e "Democracia" remetem para conceitos opostos e incompatíveis.  Pois, Monarquia, que significa "governo de um ou por um", é exactamente o oposto - se considerarmos que o singular é oposto do plural - da Democracia, que significa "governo do povo ou governo de muitos".  Mesmo que não sejam conceitos antagónicos, são pelo menos incompatíveis do ponto do vista ideal político ou então do semântico/lógico - o que é plural não pode ser singular em simultâneo. Quanto muito, uma Democracia poderia ser singular no sentido de um só governar, mas esse alguém teria de ser o Povo enquanto grupo, ou seja, no trono não poderia haver um só rei vitalício.
    Retrato da família do Rei Carlos IV - Goya
    Supostas incompatibilidades à parte, pela nossa Europa existem muitas Democracias - algumas bem antigas como a Inglesa -  que vivem sobre a alçada de Monarquias. Apesar de serem Democracias de facto, muitas até mais livres e desenvolvidas do que outras que persistem em regimes republicados, afirmo, sem receios, que uma Democracia desse tipo não pode ser uma "Democracia Completa". Isto porque, focando a atenção no exemplo do "Chefe de Estado", basta esse cargo ser vedado ao Povo, mesmo que alguém desse Povo demonstre ser o mais capaz para o assumir o cargo em benefício de todo o dito Povo, para que o "Governo do Povo" seja parcial e logo parcial a concretização da Democracia. Por outras palavras, se o Povo não pode aceder a todos os cargos de chefia do Estado então a Democracia plena ficou por realizar - se se atender ao significado do termo em causa.
     
    Apesar de tudo o que aqui afirmei, não tenho também receio em afirmar - agora numa perspectiva muito mais pragmática - que é preferível uma boa monarquia assente num regime democrático do que uma república assente numa "má democracia"
    .

    sábado, 23 de julho de 2011

    Imperativo categórico: uma visão de nós e dos outros

    Volto mais uma vez - a terceira - ao livro "Platão e um Ornitorrinco entram num bar - Filosofia com Humor" para construir aqui mais um ensaio de texto, mais uma partilha pseudo-filosófica bem-humorada (ou não). 
    Muitas vezes classifica-se "como sendo Filosófico" algo que de facto não o é e que apenas é melancólico ou ininteligível. Neste caso - no caso deste texto - é filosofia da pura e da dura, da séria e sistemática, ou seja, filosofia germânica, mais concretamente, filosofia Kantiana.
    Bailarina - Miró
    Do livro já referido, no subcapítulo "O Imperativo categórico Supremo e a Velha Regra de Ouro" Thomas Cathcart e Daniel Klein registaram mais um rasgo de genial originalidade escrita. Vemos, em curtas palavras, a relação entre o "Imperativo Categórico Supremo" ("Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal") e a "velha regra de ouro" ("Faz aos outros aquilo que queres que te façam a ti").
    No fundo, o Imperativo categórico supremo de Kant não é mais que uma definição refinada da "velha regra de ouro". Podemos ver a "invenção" de Kant como a análise do que pode ter sido a génese dos princípios morais, pois nela descreve como os comportamentos dos indivíduos se podem tornar num código de conduta ou conjunto de regras sistemáticas a seguir, ou seja, na Moral. Mesmo assim parece-me que Kant define principalmente, e mais que tudo, os princípios da ética mais que a própria moral (ver anterior texto "Moral vs. Ética"), pois evidencia que as regras (ou os princípios dos códigos) a adoptar só fazem sentido e são válidas se analisadas, questionadas e se de facto trouxerem mais-valias e ganhos aos indivíduos - individualmente e colectivamente. Fazendo aqui uma analogia abstracta: todo o "Bem" que um individuo A fizer a um B, e um B fizer a um C, e por ai fora, contribuirá para haver uma contínua distribuição de "Bem". Isso será ainda melhor se A conseguir fazer "Bem" a C, a D e outros também, desse modo a eficiência e eficácia da distribuição de "Bem" - se é que assim se pode dizer -, em comunidade, ascende a outro nível. Em última análise, directa ou indirectamente, A receberá sempre "Bem" se o intercâmbio de "Bem" for aceite por uma maioria, uma sociedade por exemplo. Provavelmente o mais complicado aqui é mesmo saber de facto: o que é o "Bem" - coisa difícil de definir, até porque haverá sempre tantas definições de "Bem" como a quantidade de indivíduos pensantes e capazes de sentir.

    As várias religiões, mais ou menos dogmaticamente, foram definindo e aprimorando a "Velha Regra de Ouro", ou veja-se:
    • Hinduísmo, em o Mahabharata: "Não faças aos outros o que não desejas que te seja feito a ti..."
    • Judaísmo, em o Talmude: "O que é odioso para ti, não faças ao teu próximo".
    • Zoroastrianismo, em o Dadistan-i-Dinik: "A natureza só é boa quando não faz a outro ser humano o que não é bom para ti".
    • Budismo, segundo o Dhammapada: "Não magoes os outros de formas que tu próprio considerarias penosas".
    • Confucionismo, em Anacletos: "Não faças aos outros o que não queres que te seja feito a ti".
    • Islão, em Sunnah: "Ninguém é crente enquanto não desejar para o outro o que deseja para si mesmo".

    Em suma, todas as correntes filosóficas e religiosas apresentadas convergem, mais ou menos, no mesmo sentido.
    Na nossa época, onde cada vez mais taras e fetiches vão sendo revelados, é caso para: dizer "há gostos para tudo"; reflectir sobre quais os limites do absoluto e universalidade do "Bem", e até que ponto o  conceito de "Bem" pessoal pode ser exactamente o conceito de "Mal" de outrem. 
    Especulando, quem sabe se o Dogma não serviu e foi inventado com o intuito de evitar que actos de "Bem" dúbios fossem praticados? 
    Não é por coincidência que no livro "Platão e um Ornitorrinco entram num bar - Filosofia com Humor" se refere o caso do masoquismo. Será que poderíamos estar bem, não sendo nós masoquistas, se um masoquista nos proporcionasse a sua noção de bem?
    É caso para citar mais uma frase do livro, neste caso uma dupla citação - pois faço citação de uma citação -, de George Bernard Shaw: "Não faças aos outros o que gostarias que eles te fizessem a ti; eles podem ter gostos diferentes"
    Pois é, gostos temos todos, muitos deles muito diferentes, mas todos temos, com a democratização das sociedades a pretensão de poder optar do que gostar.

    sábado, 16 de julho de 2011

    Nuvens de álcool no Espaço - cervejas e a origem da vida

    Quando se pensa na imensidão do Espaço pensa-se num pano negro salpicado de estrelas, pensa-se em galáxias, planetas, cometas, asteróides e até nos estranho buracos negros, isto quando se trata de pensamentos de leigos é claro, pois estas nem são seguramente as coisas mais bizarras que se podem achar numa busca espacial.
    A atestar isso mesmo existe um documentário, muito resumido e cheio de alusões do nosso mundo que servem de comparações para uma melhor percepção dos fenómenos que ocorrem para além da nossa Terra. O documentário dá pelo nome de "Universo - curiosidades", ou no original "The Universe - strangest things, e tem sido exibido no Canal de História.
    Rapaz da Adega - Chardin
     Uma dos fenómenos que me pareceu mais curioso, e de facto extraordinariamente apropriado para uma referencias espirituosas, foi o das nuvens de álcool em plena imensidão espacial.  Diz-se até no documentário que existem nuvens imensas cheias de álcool etílico, o álcool que bebemos, aquilo que ingerimos, por exemplo, na cerveja. Parece que no espaço existem enormes destilarias!
    Citando os dizeres traduzidos do documentário em causa para a nossa língua: A primeira nuvem de álcool foi detectada em 1975, desde então muitas mais destas estranhas nuvens foram observadas. A nuvem G34.3, que se encontra na constelação de águia, tem 1000 vezes o diâmetro do nosso sistema solar. Na G34.4 há álcool etílico suficiente para fornecer 300.000 canecas de cerveja todos os dias a cada pessoa do planeta terra durante os próximos mil milhões de anos.
    O problema seriam os efeitos secundários. Se beber em excesso pode dar origem a grandes dores de cabeça, aqui, beber um trago era má disposição quase garantida,  pois o álcool etílico em causa encontra-se misturado com cianeto de hidrogénio e alguns outros químicos não muito comestíveis.
    Mas importa referir afinal o que são e como se constituem estas nuvens, ficando mais uma citação do documentário: As nuvens moleculares gigantes são enormes complexos de gases e poeiras. Algumas delas são do tamanho do nosso sistema solar. Os seus núcleos grandes e densos permitem a formação de moléculas complexas que produzem um cocktail cósmico. Nas nuvens inter-estelares são os grãos de poeira que servem como local chave de nucleação para que as moléculas mais simples como o hidrogénio molecular, a água, e o dióxido de carbono se unam e reajam quimicamente para formar moléculas mais complexas como o álcool etílico. Quando os grãos de poeira migram mais para perto do centro da nuvem molecular começam a aproximar-se da estrela central que se está a formar no seu núcleo, isso aquece-os o suficiente para evaporar algumas das moléculas complexas.
    Destas nuvens, ou outras muito semelhantes, por incrível que pareça, formaram-se diversos sistema solares, planetas e até talvez vida! Uma possibilidade espantosa de facto!
     Nas bordas exteriores das nuvens, estes grãos de poeiras congelados com as suas moléculas associadas continuam intactos. Hoje conhecemo-los como cometas. Julga-se que esses cometas possam ser responsáveis por trazer algumas dessas moléculas mais complexas para o interior dos próprios sistemas solares de origem ou de outros que se cruzem nas suas árbitras. É plausível dizer que os cometas podem ter semeado o nosso planeta com essas moléculas - verdadeiros blocos de construção de coisas como os aminoácidos, os quais precisamos para a vida.
    No documentário afirma sem qualquer dúvida que: O nosso sol e a terra formaram-se a partir de uma nuvem inter-estrelar, muito semelhante a esta[s] nuve[ns], e se houver os ingredientes certos, os ingredientes orgânicos certos, temos os ingredientes propícios à vida. Afinal as nuvens de moléculas orgânicas são bastante comuns no espaço. Se pulverizássemos a terra e a transformássemos em pó obteríamos algo semelhante a essas nuvens , pois têm praticamente todos os químicos que nos compõem.

    Curioso como o álcool pode revelar os indícios para a origem da vida. Não obstante, e fazendo aqui uma referência um pouco arriscada, consta que alguns nascimentos nos nossos dias se proporcionaram por noite em que os progenitores estavam bem bebidos, estando ai também o álcool ligado à origem da vida!

    domingo, 10 de julho de 2011

    O optimismo de «A Metamorfose» de Kafka

    Duvido que alguém que leia por completo a obra A Metamorfose de Kafka lhe fique indiferente. Aliás, duvido sequer que quem acabe de ler a última página deste livro não pare, pelo menos uns minutos, para pensar, reflectindo, na vida - se é que não o fez ao longo da leitura da obra -, na sua existência e de todas as existências em sociedade, como a das próprias sociedades humanas que existem, especialmente as contemporâneas.
    O Bestiário - André Masson
    A história é dramática e duramente realista (estilisticamente falando). Dizem e diz-se que representa o desespero humano e as limitações da condição humana, num rol de frustrações fantasiosas e grotescas do característico e realismo de tantas vidas. A discrição é, como já disse, tão realista e crua que as palavras tocam e transportam o leitor para a irrealidade da realidade descrita em A Metamorfose. Mas, apesar de tudo, de tudo o que de negro e desesperante o conto encerra, penso que a história de Kafka pode ter um lado positivo e até optimista.
    Apesar da descrição, que por vezes no arrepia com os ambientes e formas repulsivas, sobre a forma e vivência de Gregor depois da sua metamorfose que o tornou num ser monstruoso semelhante a um insecto, apesar da frieza de tratamento da família para com o modificado Gregor, apesar do fim trágico quase ridículo de Gregor: há uma mensagem positiva na obra. Apesar da desgraça da personagem principal, foi toda a uma família - a de Gregor (pai, mãe e irmã) - que, por causa dessa desgraça, soube sair, ainda que com grande crueldade e frieza, da situação insustentável em que estava e persistia.
    Assim, esta obra poderá ter vários "morais" - num sentido nada dogmático - e um deles pode ser: mesmo da maior e mais estranha das calamidades, podem sempre surgir oportunidades.
    No entanto, esta parece-me uma obra "difícil", não de leitura mas do modo como o leitor tem de lidar com as descrições dos ambientes e da acção, especialmente pelo seu forte cariz psicológico disfuncional patente em todo livro.

    Duvido que alguém que leia A Metamorfose, com olhos de ler e consciência de reflectir, lhe fique indiferente.

    Artigos relacionados

    Related Posts with Thumbnails
    WOOK - www.wook.pt

    TOP WOOK - Arte

    TOP WOOK - Dicionários

    TOP WOOK - Economia e Finanças

    TOP WOOK - Engenharia

    TOP WOOK - Ensino e Educação

    TOP WOOK - Gestão

    TOP WOOK - LITERATURA





    A Busca pela sabedoria - criado em Agosto de 2009 por Micael Sousa



    Introduza o seu e-mail para receber a newsletter do blogue: