Tal como a tradução direta do inglês indica um “freelancer” é uma lança livre. A origem do termo estará relacionada com a Idade Média, quando os cavaleiros “alugavam” a sua lança. Ou seja, trabalhavam ao serviços do senhor feudal que os contratasse, isto porque era responsabilidade desse senhor garantir a seguranças das suas terras e participar em guerras, desencadeadas por ele ou a quem devesse vassalagem. No sistema feudal cada proprietário, ou “gestor” em nome doutrem, de terras devia vassalagem a um senhor de estatuto superior, que em teoria gerava uma cadeia de ligação até ao próprio rei. O rei (que supostamente era o maior dos senhores, num sistema que não conhecia ainda os valores do nacionalismo nem a organização do Estado Moderno), ou os vários senhores feudais poderiam solicitar aos seus vassalos (dependentes hierárquicos) serviços militares, quase sempre contabilizados em homens de armas ou abastecimentos, para além dos habituais impostos cobrados das mais variadas formas. Num sistema em que a moeda era escassa, o imposto poderia ser cobrado e pago em horas de serviço, dependendo da especialidade das pessoas em causa.
Excerto da Tapeçaria de Bayeux |
Ao analisarmos a Tapeçaria de Bayeux, referente à batalha de Hastings de 1066, que confirmou a conquita do reino de Inglaterra pelo Duque da Normandia (que curiosamente era vassalo do rei de França), ficou evidente a importância que a cavalaria deteve no campo de batalha. Nesta tapeçaria, que é um verdadeiro documento de suporte histórico, registam-se visualmente as mudanças e diferenças entre as táticas militares dos exércitos anglo-saxónicos, que defendiam Inglaterra com as suas táticas de infantaria pesada que recorria maioritariamente a grandes machados, e a flexibilidade do exército normando e da sua cavalaria conjugada com outras unidades militares especializadas, tais como arqueiros. Na batalha de Hastings ainda se ilustram alguns dos cavaleiros a usar as suas lanças como armas de arremesso e penetração de estocada, mas sem transmitirem o potencial de carga da cavalaria que ficaria associada ao imaginário popular dos torneios medievais.
Excerto da Tapeçaria de Bayeux |
Posteriormente, os cavaleiros passaram a dominar os campos de batalha, sendo os “tanques da idade média”, e a lança usada nas cargas de cavalaria de modo semelhante ao que se representa nas recriações contemporâneas dos torneios medievais. O cavaleiro passou a usar a sua lança de uma forma mais sólida e integrada, criando uma simbiose artificial entre a arma, o seu corpo, a armadura e o cavalo, como arma que permitia transferir eficazmente e com precisão a força da carga do cavalo contra os oponentes. Terá sido isto a fazer destacar o valor das lanças, ao ponto de representarem os próprios cavaleiros.
Séculos depois, o termo foi adaptado, já na época contemporânea, para qualquer profissional que “alugasse” os seus trabalhos de forma temporária para a realização de um determinado serviço, habitualmente relacionado com uma ou mais áreas de especialidade, reforçando a sua individualidade.
Nota: o documentário "Sword, Musket & Machine Gun: Britain’s Armed History " foi exibido em Portugal no canal Odisseia, com informação disponível em: http://odisseia.pt/programas/combate-armado-da-espada-a-metralhadora/
Fontes vídeo e online:
• “Freelancer”. Wikipédia. [em linhas], disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Freelancer
• Sword, Musket & Machine Gun: Britain’s Armed History. [documentário vídeo] Trailer disponível em in: https://www.youtube.com/watch?v=OgYQ9d0rRQU
Foste bibliográficas de apoio
• NICHOLAS, David. A Evolução do Mundo Medieval: Sociedade, Governo e Pensamento na Europa: 312-1500. Lisboa: Públicações Europa-América, 1999.
• SOLAR, David; VILLALBA, Javier (Dir.). História da Humanidade: Idade Média. Barcelona: Circulo de Leitores: 2007.