sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Sociedade Portuguesa é Malthusiana?

Muitas coisas se poderiam dizer sobre a sociedade portuguesa, adjetivações boas e más. Uma delas é que se trata de uma sociedade Malthusiana [1]. Não se trata de um palavrão ofensivo, nem pouco mais ou menos, mas também, analisando o seu significado demográfico, social e económico, pode não significar nada excecionalmente bom.
Pastor - Amadeo de Souza Cardoso
A teoria Malthusiana, de um modo muito resumido, defendia que o crescimento da população, por assumir, tendo em conta os registos históricos estatísticos, um crescimento com base numa progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos seguia pelo crescimento aritmético, daria origem a uma incapacidade futura de alimentar a população. Para além dos dois crescimentos a tempos diferentes, criando o tal défice entre alimentos e pessoas a alimentar, a produção de bens agrícolas teria sempre um limite máximo que não poderia ser ultrapassado [2].
As teorias Malthusianas, que defendiam o controlo apertado da natalidade, foram refutadas depois da revolução industrial devido aos novos desenvolvimentos tecnológicos que fizeram subir muito a produtividade agrícola.
Atualmente, os índices de natalidade de Portugal nas últimas década observa-se uma forte queda [3]. A natalidade não está a assegurar a reposição das gerações. Isto deve-se, muito provavelmente, independentemente de razões do crescente individualismo da sociedade portuguesa, aos recursos disponíveis. Já não se trata de alimentação propriamente dita, mas mais de todos os custos que acarreta uma vida contemporânea em que a competitividade pode depender muito das condições de partida dos indivíduos. Ou seja, há, tendencialmente, a noção de que os meios que as famílias dispõem não são suficientes para proporcionar a um número considerável de filhos os padrões de vida ótimos e que os farão ter sucesso de um modo geral.
Assim, a sociedade portuguesa assume comportamentos neomalthusianos, para o bem e para o mal. Característica nem sempre replicada em paises semelhantes ou coparáveis a Portugal.
 
Referências
[1] - Arroteia, Jorge Carvalho; 2007. "Leiria e o pinhal litoral : sistema geográfico e contextos de desenvolvimento". Universidade de Aveiro.
[2] - "Teoria populacional malthusiana", disponível na Wikipédia.
[3] - "Nascimentos e Fecundidade", disponível na Pordata.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O fraco crescimento da economia portuguesa deve-se aos serviços?

Pretende-se com este texto aproximar algumas explicações para os atuais défices, e que vêm de alguns anos, para o fraco crescimento e performance da economia portuguesa. Fica então esse arriscar de conjeturas.
Auto-retrato com o grupo da Brasileira  - Almada Negreiros
 
O processo de desenvolvimento económico de um país pode-se simplificar, apesar de todos os erros e imprecisões provenientes do particular, em três fases interligadas (Costa et all, 2011):
  1. O desenvolvimento de uma economia arranca com um setor agrícola dominante, com uma produtividade e riqueza associada que cresce lentamente.
  2. Posteriormente, ocorre a industrialização, ocorrendo uma transferência dos recursos e da produtividade dos setores primários para o novo setor naturalmente mais produtivo, tendencialmente o mais industrializado.
  3. Por fim o crescimento económico é dominado pelo setor dos serviços, num setor que tende a apresentar níveis de produtividade e taxas de crescimentos inferiores ao industrial. Com esta terceira fase, as transferências de produtividade e recursos acumulados, tendem a fazer reduzir a própria produtividade de toda a economia, pois como se disse o setor secundário (indústria) é, regra geral, mais produtivo que o terciário (serviços).
Seguramente que existirão muitos casos particulares a escapar a esta simplificação, mas deste modo pode-se ter, pelo menos, uma noção básica dos principais e mais comuns processos de desenvolvimento que seguem as economias padrão.
Tendo em conta que a economia portuguesa tem vim a cair nos últimos anos, e mesmo em décadas anteriores tem crescido abaixo do que seria expectável, a partir do modelo anterior, e cruzando-o com outros dados, poderemos tentar encontrar algumas explicações e constatações.
Num outro texto já se abordou aqui no blogue o problema da baixa produtividade como um dos principais condicionantes da economia portuguesa (Amaral, 2010). Partido desse axioma poderemos encontrar na evolução e predomínio dos setores de atividade em Portugal uma possível explicação para a nossa pouca produtividade e fraco crescimento económico. Se atendermos a que a industrialização foi bastante tardia em Portugal, e que quando ocorreu assentou, salvo algumas exceções, em processos tecnologicamente pouco intensivos e que recorriam a mão-de-obra barata e não especializada, poderemos perceber o pouco valor acrescentado que traziam já na altura. Se atendermos que esse período de crescimento industrial não foi muito extenso e que o setor nunca foi sequer dominante (ver texto sobre emprego; INE, 2013), facilmente compreendemos que nunca se acumularam os capitais necessários para uma industrialização mais tecnológica e com mais valor acrescentado. Os acréscimos de produtividade e capitais vindos do setor agrícola e do industrial possível, mesmo que reduzidos, passaram quase diretamente para o novo e ascendente setor dos serviços (Costa et al, 2011). Assim, nestes complexos processos de transferências de produtividades e capital, fomentou-se precocemente um setor terciário sem ter existido uma indústria de suporte forte. Logo, ficamos muito limitados na nossa produtividade, condicionando assim o nosso crescimento e pujança económica global.
Muitas outras teorias e explicações válidas à parte, estas palavras são apenas uma tentativa de aproximação à compreensão do atual estado económico de Portugal. Provavelmente, antes de atuar, seria necessário primeiro estudar e perceber.

Referências bibliográficas
  • Amaral, Luciano; 2010, “Economia Portuguesa, as últimas décadas”. Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa.
  • Costa, Leonor Freire; Lains, Pedro; Miranda, Susana Munch; 2011, “História Económica de Portugal – 1143-2011”. Esfera dos Livros, Lisboa.
  • INE; 2013, “Portal do Instituto Nacional de Estatística”. Acedido entre 15 de Maio e 30 de Maio de 2013: http://www.ine.pt/xportal
 

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