Numa altura em que sociedades pré-históricas – aquelas que desconheciam a escrita – entravam em processo de sedentarização, passavam do período do mesolítico para o neolítico, numa altura em que as atividades recolectoras, como forma de subsistência, começavam a ser substituídas pelas agro-pastoris é momento em que surgem as primeiras construções megalíticas – construções de grandes pedaços líticos, ou seja, grandes rochas e pedras.
Das mais importantes estruuras megalíticas destacam-se os dólmens (ou antas) - para fins funerários (com a devida importância social e demarcação no território envolvente) - e os menires - para fins que relacionados com atividades ligadas à cultura dos vivos (possivelmente o assinalar de algo importante para as comunidades que os ergueram: símbolos de pertença, domínio territorial, culto ou outros culturais/utilitários). Segundo alguns especialistas, estes primeiros monumentos, que até podem ser considerados os primeiros “edifícios públicos”, serviam, para além dos propósitos religiosos, de âncora a comunidades errantes em processo de sedentarização, que dependiam cada vez mais do território que escolhiam e da dinâmica e funcionamento e coesão do próprio grupo.
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Menir de Croisac - autor desconhecido datado de 1893 |
Feita esta primeira introdução ao megalitismo há que justificar então o título do presente texto. As relações das estruturas megalíticas com a religiosidade e cultos pré-históricos são evidentes, e aos cultos estava sempre associada, ou era mermo o centro do próprio culto, a fertilidade. Curiosamente parece que os dois grandes tipos de construções [menires e antas] se associavam a cultos de fertilidade por género/sexo. Ou seja, pelas suas formas de acentuada verticalidade, os menires associavam-se ao sexo masculino e as antas ao feminino. Em Portugal, no menir de Outeiro, em Reguengos de Monsaraz, foi mesmo detetado a abertura na rocha do meato uretral. Outros menires do barlavento Algarvio estão decorados com linhas onduladas – provavelmente associadas às veias e artérias –, igualmente associadas à fertilidade masculina. Por outro lado, pela sua configuração em planta, e por originalmente serem câmaras interiores onde se acedia por uma estreita entrada (podendo incluir corredor), as antas ou dólmens facilmente se podem também associar ao sistema reprodutivo feminino, e assim ao culto da fertilidade feminina.
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Dolmen - John Costello |
Os dados arqueológicos indiciam que o erguer dos primeiros menires possa ter ocorrido antes da construção das antas, e que as antas de construção mais recente e evoluída são aquelas onde a câmara interior é mais definida e existe corredor de acesso ao exterior. Estes indícios podem levar a crer que na pré-história os cultos de fertilidade estavam diretamente relacionados diretamente com os aparelhos reprodutivos masculinos e femininos. Podemos, para além disso, especular que até pode ter ocorrido uma “guerra dos sexos”, pois em alguns menires existem algumas gravações póstumas de símbolos que sugerem vulvas. Tal acontecimento, considerando também as ocorrências de transformações de antigos menires em antas, pode significar que o culto da fertilidade masculina poderá ter sido suplantado, posteriormente, pelo do sexo oposto, ou então terem coexistido em parceria.
Apesar de todas as especulações, ainda que com bases em dados e provas arqueológicas, essa aparente suposição de “guerra dos sexos” pré-história poderá ter sido apenas uma aparência, tal como aquele que supostamente se vive hoje. Afinal, para uma grande percentagem da população, de um ponto de vista sexual, um sexo não vive sem o outro, independente dessa relação ser tensa e de aparente conflito.
Referências Bibliográficas:
"História da Humanidade - Pré História". David Solar e Javier Villalba. Circulo de Leitores, Lisboa 2007.
"Pré-História de Portugal". José Luís Cardoso. Universidade Aberta, Lisboa 2007.