terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A Memória como Ferramenta para o Perdão e Punição

Ao ler o texto de José Carlos da Conceição Coelho sobre a análise da filosofa Hannah Arendt somos levados a interpretar a memória do ponto de vista da justiça. Gera-se uma dicotomia entre perdão e punição que se ligam à memória, ambos com efeitos potencialmente catársicos.

O Regresso do Filho Pródigo - Rembrandt
A memória de um determinado ato pode gerar perdão ou punição, quer seja pelo indivíduo ou pelas instituições de justiça que o representam nas sociedades. O perdão ou castigo têm, em potência, a dupla função de renovar e permitir um novo começo, mas também de reforçar a recordação do passado e ato cometido. Essa recordação permitirá a mudança de comportamento, pelo menos na sua forma idealizada. O castigo pode ser mais severo e simplesmente impedir que o ato seja novamente cometido. Mas em muitas formas de punição há o efeito de redenção que opera sobre e através da lembrança. O mesmo acontece para o perdão. Ambos operam sobre as emoções criando marcos de vida que podem gerar mudanças de comportamento e reabilitações.

A punição poderá gerar um momento tão marcante que faça o indivíduo não querer voltar a repetir o ato para não repetir as consequências que sofreu. O perdão pode ser igualmente marcante por relevar uma capacidade de esperança e valorização do indivíduo perdoado, de que vale a pena esse investimento e aposta. Ambas as vertentes só podem ser concretizadas através da preservação e valorização da memória.

Referência bibliográfica

COELHO, José Carlos. As raízes terrenas do perdão em Hannah Arendt. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2011.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Miséria dos Canais de Documentários em Portugal

Dos imensos programas disponibilizados nos canais de documentários da televisão por cabo em Portugal está cada vez mais difícil encontrar um documentário que valha a pena ser. Infelizmente para nós, telespectadores portugueses, temos poucas alternativas.

Canais como o Discovery, Odisseia e principalmente o Canal de História têm perdido qualidade de uma forma vertiginosa. Grande parte da programação está preenchida com reality shows e programas mais ou menos sensacionalistas, com pouco ou nenhum fundamento científico.

Há uns tempos era muito comum citar aqui alguns dos documentários exibidos nesses canais. Agora nem por isso. Mesmo procurando nas gravações de uma semana inteira pouco se encontra que mereça ser referido.

Isto levou a que criasse a petição “Queremos Canais de Documentários Sérios e de Qualidade em Portugal”. O objetivo desta petição é congregar todas as pessoas que se sentem degradadas com o modo como estes canais têm sido geridos, pois de facto é comum nas conversas diretas e nas redes sociais os comentários a este facto.

Não é habitual partilhar aqui este tipo de textos, mas está em causa de facto um meio para buscar sabedoria. Com a atual programação desses canais dificilmente poderão contribuir para isso.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A origem dos proto-museus: dos tesouros da Idade Média aos Gabinetes de Curiosidades da Idade Moderna

Se os "Schatzmmern" (ou tesouros) se associavam às coleções privadas dos grandes senhores e monarcas, contendo todo o tipo de objetos a que fosse atribuída uma conotação de valor, no sentido de tesouro, na mesma medida estavam relacionados com a itinerância das cortes medievais. Ou seja, a própria coleção teria de ser transportável, uma vez que a corte e governo feudal/senhorial não era permanente (Nicholas, 1999).

Canto de um Gabinete de Curiosidades - Frans Francken II

Por outro lado, os conceitos de "Kunstkammern/Wuderkammern" (gabinetes de curiosidades) ligam-se aos novos poderes instituídos a partir daquilo que é a génese dos primeiros Estados Modernos (Delumeau, 2011), com as cortes permanentes, corpos de funcionários e serventes públicos, exércitos permanentes e capitais formais (Chueca Goitia, 1989; Mumford, 1998).
 Com essa estabilização e sedimentação do poder, que mais tarde dará origem ao absolutismo, facilmente se encontra um a justificação política e social para a estabilização das coleções privadas reais, para o seu desenvolvimento permanente no que seriam os proto-museus, ainda que nessa altura as suas funções ainda estivessem associadas a fins de promoção do poder e prestígio dos seus detentores (Gschwend, 1993).


Referências bibliográficas
  • Delumeau, Jean. “A Civilização do Renascimento”. Lisboa: Edições 70, 2011.
  • Chueca Goitia, Fernando. "Breve História do urbanismo”. Lisboa: Editorial Presença, 1989.
  • Gschwend, Jordan Annemarie. “Catarina de Áustria: Coleção e Kunstkammer de Uma Princesa Renascentista”. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993.
  • Mumford, Lewis. "A Cidade na História". São Paulo: Martins Fontes, 1998.
  • Nicholas, David. “A Evolução do Mundo Medieval”. Lisboa: Publicações Eurapa-América, 1999.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Memória e identidade – Interrelação entre o colectivo e individual

Nas sociedades contemporâneas pós-modernistas, tendencialmente liberais, inseridas no fenómeno de mundialização, apesar das forças homogeneizantes das identidades culturais, persistem as diferenciações associadas a grupos sociais e espaços territoriais (Lacroix, 1999).

Para falar de identidade será necessário começar por definir o que é a memória, pois todas as identidades existem, persistem, mudam, constroem-se, reconstroem-se e reinventam-se (Cuche, 2006), apesar de serem imateriais, nas memórias dos indivíduos. É nesse ambiente, e involucro, que são depositadas, sem que essa deposição seja permanente e estanque.

Segundo a psicofisiologia, existem memórias de curto (MCP) e longo prazo (MLP). Sendo que as MCP relacionam-se mais com a operacionalização de raciocínios imediatos (João, 2010), são às MLP que sistematicamente se recorre para enquadrar as cognições, comportamentos valorativos e atitudes. Esses valores éticos e culturais contribuem para a definição de identidade. Apesar da MCP operacionalizar a prática identitária dos indivíduos, será a MLP que mais a define.

Retrato da Memória - David Szauder
 
Já se referiu que as sociedades pós-modernistas, ou hipermodernas como refere Lipovestky (2010), são profundamente individualistas. Se a identidade coletiva só existe na individualidade dos sujeitos (Cuche, 2006) então dificilmente teremos identidades coletivas unitárias. Entramos na “multi-identidade”, própria das sociedades livres, pois aí, ao contrário dos totalitarismos culturais, cada indivíduo tem considerável liberdade de associação identitária a grupos reais ou mais ou menos imaginários. No entanto, o fator de influência do meio continua a ser relevante e de não descurar. Apesar do individualismo, de modo algum ficam em causa os processos coletivos de identificação ou a identidade coletiva. Ocorrem tanto ou mais, mas agora desenvolvem-se em liberdade, pois são os indivíduos que os escolhem e assumem, pelo menos na parte em que são livres de o fazer. A definição de identidade individual complica-se ainda mais se considerarmos que cada indivíduo assume vários papéis sociais na sua vida, muitos em simultâneo também. Assume várias identidades. A estruturação das identidades coletivas, cada vez mais voláteis, liga-se assim às mutabilidades das sociedades humanas.

Esta dificuldade de definição de identidades no mundo globalizado leva a que sejam os próprios indivíduos a querer olhar para o passado, para a memória (histórica ou mítica) como modo de encontrar identificações pessoais, para garantir algum tipo de sentimento de pertença coletiva (Rodrigues, s.d.). Assim procura-se a tangibilidade trazida pelo património, que pode ser material ou imaterial. Essa necessidade pode recorrer mais à memória coletiva, que é menos estruturada, mítica e não localizada com precisão temporalmente, ou a uma visão mais estruturalista e científica da história (Le Goff, 1984). Esta distinção técnica pode não ser consciente por parte dos indivíduos. Na era da liberalização da informação e do poder de comunicação dos Media, a informação tende a ser produto de consumo, sendo que cada indivíduo será sujeito a essa análise, mesmo que inconscientemente. Essa liberdade contrasta com a ação tradicional dos Estados-Nação, tão ávidos de garantir a coesão social e étnica dos seus espaços territoriais pro razões políticas. Hoje são os próprios indivíduos a reconstituirem as suas árvores genealógicas, arquivarem as suas fotografias e outros registos.

Assim, os conceitos de memória coletiva e individual estão estritamente ligados, pois dificilmente existirá um sem o outro, apesar de todas as forças uniformizadoras exógenas aos indivíduos. As identidades resultam de ambas as memórias, apesar de se puder considerar que, mais que nunca, os próprios indivíduos têm a necessidade em se identificarem a si e aos grupos a que pertencem, também eles de limites difusos e mutáveis.

Algumas referências bibliográficas
  • CUCHE, Denys - A noção de cultura nas ciências sociais, Lisboa: Fim de Século, 2006.
  • JOÃO, Maria Isabel - Memória, História e Educação. Noroeste. Revista de História, 1, Braga: Universidade do Minho, 2005.
  • LACROIX, Michel - O Princípio de Noé ou a ética da salvaguarda, Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
  • LE GOFF, Jacques - Memória. In Enciclopédia Einaudi. vol. 1, Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1984.
  • LIPOVETSKY, Gilles - Os tempos Hipermodernos. Lisboa: Edições 70, 2013.
  • RODRIGUES, Donizete - Património cultural, Memória social e Identidade: uma abordagem antropológica.

domingo, 8 de novembro de 2015

Como as placas tectónicas definem a vida na Terra


Mont sainte victoire - Cezanne

Quando se fala em placas tectónicas surgem sempre os sismos e terramotos, maremotos e todos os efeitos nefastos que provocam para a vida humana. Mas, provavelmente, sem o movimento dessas placas, devido ao núcleo geologicamente ativo, não haveria vida humana na Terra. Podia até haver outro tipo ou forma de vida, mas como a nossa seria pouco provável.

Sem o movimento das placas tectónicas não haveria montanhas. Sem elas, que estão em constante crescimento, já o planeta teria sido erodido, nada faria barreira aos ventos e toda a superfície estaria coberta por água. O clima seria completamente diferente, sem a variedade que conhecemos e condições propícias ao tipo de vida que hoje existe. Estes são só alguns dos efeitos, há muitos mais.

Os terramotos podem ser destrutivos, mas é dessa actividade geológica do planeta que a vida nasce, morre e se reinventa em novas e adaptadas formas.
 
Algumas referências para saber mais sobre placas tectónicas:
http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/onde_sismo.HTML

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A importância histórica dos documentos e arquivos comuns

Livros e papeis numa mesa - Catherine M. Wood
Tal como refere Françoise Choay, existe uma crescente pressão para a patrimonialização de objetos e tradições. Já Michel Lacroix vai mas longe, diz mesmo que tudo pode ser património.

De facto, segundo as correntes da Nova História, especialmente da escola francesa dos Analles, aprofunda-se o interesse pela história da vida quotidiana, ou até mesmo “coisas banais” como ensaiou Daniel Roche. Assim, se a historiografia pode se dedicar a todos os temas históricos, sendo para isso necessário considerar todos os documentos e fontes, por mais comuns e não patrimoniais que possam parecer, ou seja, por não constituírem um objeto artístico, raro ou antigo. O conceito de património é assim também colocado em causa, uma vez que se liga àquilo que será capaz de invocar da memória e conhecimento do passado, isto para além do monumento comemorativo clássico.

Deste modo qualquer documento pode ser um valioso património de importância histórica, mesmo que contenha imprecisões ou erros de descrição histórica. Através da sua análise, veracidades à parte, tanto intencionais como involuntárias, poderá sempre ajudar-se a recriar informações historicamente relevantes, nem que seja o facto de reforçar teses de falseamento de determinadas realidades. Isso obriga a que as bibliotecas e arquivos sejam enquadrados na mesma escala valorativo historiográfico, sendo que pela sua dimensão ganham ainda mais importância e potencial patrimonial.

Referências Bibliográficas:

  • Choay, Françoise - A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2010.
  • Lacroix, Michel - O Princípio de Noé ou a ética da salvaguarda. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
  • Roche, Daniel – História das coisas Banais. Lisboa: Teorema, 1998.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Frente Popular - Quando toda a Esquerda se uniu numa coligação de governo

Diz-se que a história pode ser memória, mas na prespetiva coletiva que resulta da coincidência e partilha das memórias individuais subjetivas. A história tentará escapar a essas fragilidades da memória, mas as ligações existem sempre, nem que seja pela nossa consciência atual e memória ir beber também alguns dos seus conteúdos à história.
 
Bem, isto tudo para relembrar um episódio de história que se liga à realidade política contemporânea portuguesa.  

Cartaz alusivo à Frente Popular Francesa

 
Em 1936 formou-se em França o governo da Frente Popular. Os efeitos da  Grande Depressão massacravam mais uns países que outros, mas muito poucos lhe escapavam, especialmente as democracias liberais como a francesa. Entre 1930 e 1935 o número do desemprego em França subiu de 12.000 para 500.000. A crise eternizava-se sem que as políticas deflacionistas dos governos liberais conseguissem reverter a situação.
 
Tanto a esquerda como a direta mais radical contestavam os governos liberais de então. A esquerda mais moderada pedia soluções inspiradas em Keynes, no New Deal, e no intervencionismo e regulação da economia. A direira tendia para as soluções fascistas, enquanto que a extrema esquerda pendia para os movimentos revolucionários, comunistas ou outros.
 
Desse caos e instabilidade política surgiu então uma novidade política improvável. Surgiu a Frente Popular: uma ampla coligação de esquerda. Estavam incluídos partidários comunistas, socialistas e radicais sob o lema: "Pelo pão, pela paz e pela liberdade". Apesar das clivagens históricas entre as várias fações de esquerda, a coligação formou governo e governou de facto mudando a história. Propôs-se como objetivo principal deter o avanço fascista em França, de modo a evitar o que acontecera na Alemanha e Itália.
 
Apesar desta união de esquerda, os comunistas estiveram ausentes dos governos, o que não impediu a coesão do projeto político de ampla coligação.
 
A Frente Popular foi responsável por notáveis impulsos na legislação social, reforçada e apoiada pelas grandes mobilizações grevistas que envolveram civicamente a classe trabalhadora. Foi um momento simbólico de libertação social. Isso forçou o patronato a pedir ao Governo uma mediação para o conflito que resultou nos "Acordos de Matignon".
 
Os novos acordos permitiram assinar contratos coletivos de trabalho entre empregadores e assalariados, em que se aceitava a liberdade sindical e se previam aumentos salariais. Pouco depois surgiram novos diplomas que implementaram as 40 horas de trabalho semanal e 15 dias de férias pagas por ano a todos os trabalhadores. Estas medidas permitiram criar um clima de paz social e combater a crise económica. Aumentou o poder de compra e criou-se mais emprego devido à diminuição dos horários de trabalho.
 
Tudo o que aqui foi referido resulta de uma decalcação quase integral do manual de História 12ºA - O Tempo da História, da Porto Editora,  adotado para o  ensino formal em Portugal. Não se trata de uma peça de propaganda ideológica. Longe disso, é apenas  história factual e conhecimento geral definido como importante para o percurso escolar nacional. Este conhecimento, mais que a dimensão escolar, é também útil por questões cívicas e políticas para a população em geral. Mas para isso é necessário que faça parte da memória coletiva e não apenas uma matéria a decorar pelos estudantes do ensino secundário.
 
 
 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Pais Desesperados – Uma série de proximidade cultural

Fais Pas Ci, Fais Pas Ça” é uma série de sucesso em França que está neste momento a ser exibida em Portugal na RTP2. Trata-se de humor, do tipo sitcom, sobre famílias.

Até aqui tudo normal. Mas é dessa normalidade que a sua exibição em Portugal se torna original. São imensas as séries de humor e muitas as que tratam temas da família, sendo a esmagadora maioria delas de origem americana. Embora essas séries tenham qualidade, ou mesmo muita qualidade, os enquadramentos, os valores, cultura e identidades que transmitem não têm a devida correspondência com a sociedade Portuguesa. Mesmo com os processos de mundialização mais que enraizados há coisas que continuam a ser estranhas, que nada têm que ver que a cultura portuguesa ou sequer europeia. Por exemplo, a dicotomia Este/Oeste, Democratas/Republicanos, os desportos, o Dia de Ação de Graças e o peru no natal, os subúrbios de casas em madeira, as armas livres e a proibição do álcool até aos 21 anos não encaixam.
 
Esta série francesa, por outro lado, aproxima-se muito mais da nossa realidade. Quer queiramos quer não, a cultura francesa é muito mais próxima da portuguesa. Tratando a série de assuntos da lide social e familiar estas proximidades tornam a série muito mais interessante. Notamos as referências ao catolicismo cultural, ao futebol, às cidades de organização europeia, ao sistema de ensino e saúde públicos, à política da União Europeia, à dicotomia Esquerda / Direita, o multiculturalismo e conflitos religiosos, as relações familiares e etc. Todas essas coisas, e muitas outras que obviamente não posso aqui citar, enquadram a serie na cultura europeia e assim aproxima-a da nossa, a portuguesa.
 
A série tem imensas referências hilariantes À vida privada familiar, especialmente nos diálogos e suas subtilezas, coisas que podiam e acontecem nessas famílias por ai fora. Recorre a um humor inteligente, bem enquadrado socialmente sem temer entrar em temas da religião, política, desigualdades sociais, racismo e outros que, por vezes, são deixados de fora para garantir alguma neutralidade não ofensiva.
 
Por isso, se quiserem ver uma série onde se podem identificar aqui têm a sugestão: Fais Pas Ci, Fais Pas Ça (Pais Desesperados).

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Hipermodernismo hiper resumido

Na cama - Ron Mueck
Lipovertsky, como poucos filósofos contemporâneos, fala em linguagem do nosso tempo para o nosso tempo. Claro que não resiste à caracterização e utilização de termos sociológicos e filosóficos. Usa o termo "Hipermodernismo" para distinguir estes nossos tempos do "Pós-Modernismo". Os tempos "hipermodernos" não são um "pós-pós-modernismo", mas sim um "Pós-modernismo" exacerbado, exagerado e potenciado.
 
Então, de um modo muito simples, o hipermodernismo é próprio das sociedades democráticas e liberalizadas da mundialização. São as sociedades em rede, de complexas relações e interrelações mas onde o individualismo se reforça. É a era do "híper" tudo. Da velocidade, do imediato e do fugazmente intenso. Dá-se o primado do individualismo e do consumismo.
 
No entanto, nem tudo é, supostamente, negativo. Os indivíduos híper reforçados pela sua hiperliberdade são guiados por um novo modelo hedonista. Procuram os prazeres e a felicidade. Nada disso significa o fim dos projetos coletivos, mas a adesão a esses projetos só ocorre em liberdade, sem os ditos indivíduos os valorizarem e considerarem benéficos. O hedonismo liga-se à solidariedade e ao prazer do envolvimento nas causas nobres, geradoras de felicidade.
 
Mas estas liberdade e individualismo também geram frustração e deceção, tal como Lipovetsky refere na sua obras "Sociedade da Deceção". A liberdade tem estes paradoxos e os tempos "Hipermodernos" são complexos e vertiginosos.


Referências bibliográficas:
  • Lipovetsky, Gilles. "Os tempos hipermodernos". Lisboa: Edições 70, 2011.
  • Lipovestky, Gilles. "A sociedade da deceção". Lisboa: Edições 70, 2012.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A busca da identidade diferenciadora através do património literário

A memória humana pode ser precária. As memórias podem assim estar em constante mutação e adaptação. Elas são, no entanto, património de uma dimensão imaterial, passíveis de fundamentarem processos identitários dos indivíduos, que ganham força de necessidade estruturante nas sociedades pós-modernistas estritamente imbuídas nos processos de mundialização e globalização.
O Rabi - Andre Martins de Barros
Partindo da originalidade de Petrarca, que definiu um novo método de leitura e abordagem ao livro enquanto fonte de conhecimento, longe das tradições rígidas que colocavam a importância na preservação em forma de decorar, surgem os processos criativos de interpretação do conhecimento e memórias registados. Desde então os processos de reinterpretação dos documentos escritos não sessaram. Um exemplo contemporâneo disto são as contantes reanálises e reinterpretações dos grandes escritos clássicos (incluindo os textos sagrados), renovados nas suas leituras e que muitas vezes são redescobertos e reinventados como peças essenciais de um património cultural e imaterial coletivo de determinada sociedade. É essa mutação da memória e sua capacidade de adaptação aos tempos que podem tornar um documento escrito, apesar de antigo, num património imaterial constantemente útil e renovado nas suas interpretações para o sustentáculo das entidades que se querem preservar nas sociedades mundializadas.
Algumas Referências bibliográficas:
  • AAVV. Enciclopédia Einaudi- Memória e História. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa Da Moeda, 1987.
  • Lacroix, Michel. O Princípio de Noé ou a ética da salvaguarda. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
  • Lipovetsky, Gilles. Os tempos Hipermodernos. Lisboa, Edições 70, 2013.

 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Monotonia Urbanistica de Nova York - A especulação Imobiliária

O mundo está repleto de cidades. Apesar de muitas seguirem planos urbanísticos semelhantes todas são diferentes. Não poderia ser de outra forma, pois a sua história, os seus habitantes, as atividades que nelas acontecem, o clima e ambiente, entre outros moldam-nas.

Nova York é única, por todas as razões anteriormente referidas, mas o seu desenho urbano pouca originalidade tem. O crescimento desta cidade, fundada por holandeses que na altura lhe atribuíram o nome de Nova Amsterdão, explodiu no século XIX, especialmente no que toca à ilha de Manhattan. Vivia-se a revolução industrial nos E.U.A. e Nova York era um desses polos industriais e comerciais mais importantes. A pressão e especulação urbana eram enormes. O crescimento contínuo e galopante.
 

Mapa de Nova York de 1897
O urbanismo da cidade é fruto do planeamento aplicado ao capitalismo especulativo. De notar que o crescimento que se dá nessa altura ocorre de modo a manter altos os preços dos terrenos. Isto era possível através da indiferenciação urbana. Ou seja, as ruas eram todas iguais nas suas características, tal como os quarteirões. Até os nomes foram evitados, ficando cada avenida apenas associada a um número, coisa que ainda hoje ocorre.

Esta opção urbana permitiu que todas as novas zonas tivessem o mesmo valor, pois, eram, ao nível do planeamento urbano, iguais. No entanto criou uma malha ortogonal monótona, ao contrário do que acontece nas outras grandes metrópoles.  Só o Central Park, Broadway, Rockefeller Center e algumas zonas ribeirinhas têm algumas daquelas características urbanas distintivas que as fazem sobressair da envolvente e favorecem as múltiplas atividades urbanas, especialmente a fruição de um espaço público de usos múltiplos – A herança do mundo greco-latino e sua valorização do espaço público da ágora, fórum e praça. Esta monotonia é especialmente visível na zona mais interior, na envolvente do Central Park.

Apesar de ser interessante por muitos motivos, incluído as atividades sociais, económicas e culturais, e até o edificado e o próprio local de implantação da cidade, o urbanismo de Nova York foi aborrecidamente manipulado para assegurar a especulação imobiliária.
 
Referências bibliográficas
  • Goitia, Fernando Chueca. "Breve História do urbanismo”. Lisboa: Editorial Presença, 1989.
  • Mumford, Lewis. "A Cidade na História". São Paulo: Martins Fontes, 1998
 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Ciprestes - Árvores Corta-fogo

Área ardida e árvores que resistiram a Incêndio em Valência em 2012
Constatações e estudos recentes de cientistas espanhóis concluem que o Cupressus sempervirens, que é um tipo de cipreste natural do mediterrâneo, tem uma muito elevada resistência à ignição e combustão inicial por incêndio florestal. Isto deve-se à estrutura morfológica da árvore em si e à sua capacidade em absorver grandes quantidades de água que mantém mesmo nas condições de seca adversas.
Prevê-se a possibilidade destas árvores poderem ser utilizadas em faixas corta-fogo florestarias, contribuindo para a redução do potencial de alastramento de fogos florestais.
Tendo em conta que o clima mediterrâneo é propenso aos incêndios florestais nas épocas estivais e sendo esta espécie autótone poderá ser de facto uma boa medida de engenharia florestal para mitigar o efeito dos incêndios florestais. Por outro lado, as alterações climáticas aindam vão sujeitar ainda mais o nosso território ao risco de incêndios.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Sideways - Um fIlme que Sabe a Vinho

Aqui está um filme interessante. Há coisas muito originais neste filme, apesar do traçado geral do enredo ser algo visto noutras histórias. No fundo relata-se a viagem de dois amigos em jeito de despedido da solteiro para um deles. Até aqui nada de especial, mas é o local e o tipo de actividades que planeiam fazer para diversão que se torna interessante. Vão percorrer, de automóvel, a zona vinícola da Califórnia. Estes amigos não são os típicos vintões ou trintões que aparecem normalmente neste tipo de filmes de despedidas de solteiro. São quarentões e o ritmo da viagem é bem diferente, feita, ou pelo menos idealizada, para saborear bons vinhos.

Quase parece que o filme foi patrocinado pela indústria do vinho. A sensibilidade das personagens manifesta-se pela forma como degustam, debatam e analisam os vinhos. Bebem-se quantidades imensas desse néctar neste filme, mais do que parece ser aconselhável.  Mas bebe-se por prazer e em honra da arte de o produzir. Por momentos parece quase um documentário ou uma formação inicial de introdução ao vinho.

Paul Giamatti encarna a personagem principal, de um professor apaixonado por vinho. Destaca-se a anos-luz das restantes pela sua interpretação. Consegue transmitir a profundidade da sua personagem culta, deprimida, falhada mas ainda com força para saborear um copo de vinha na companhia certa. As restantes personagens não parecem ser também conseguidas, mas talvez porque sejam apenas interpretações realistas de pessoas normais. Acima de tudo isto é um filme que simula uma história que poderia muito bem ser real, com pessoais reais.

A fotografia e banda sonora contribuem para a construção do ambiente vinícola e de viagem.

Apesar de ser considerada uma comédia, Sideways conta uma história de pessoas maduras, com alguns toques de humor e bastante drama. Centra-se muito na personagem principal, complexa como o ser “vivo” que é o vinho que corre amadurecido neste filme.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Afastamento entre ciências naturais/exatas e ciências sociais - O fator histórico

Pegando num livro, quase por acaso, dedicado a cosmologia, centrado no tempo e em explicações com base num universo entrópico e ligado aos sistemas irreversíveis, próprios da termodinâmica, encontro algo que ensaia uma explicação simples para a diferença entre ciências sociais e naturais. Aliás, essa referência vai mais longe, e serve para explicar o afastamento entre disciplinas e até as apetências e gostos que podemos (ou nos fazem) ter por determinados assuntos.

Os Amantes - Magritte

O livro em causa é o “Nascimento do Tempo” de Llya Prigogine. No início desse ensaio o autor usa a dimensão histórica para distinguir as ciências sociais das ciências naturais (ou ditas exatas). Ou seja, as ciências sociais são completamente dependentes e imersas em realidades históricas: estudam objectos que têm sempre uma dimensão histórica. Imaginemos, por exemplo, a sociologia, que ao estudar uma sociedade não pode descurar que essa sociedade existe num momento histórico próprio que a define, ou então a psicologia, em que um perfil psicológico corresponde a um indivíduo historicamente existente, que é sempre produto do seu tempo. Por outro lado, as ciências exatas e as mais abstractas, como a Matemática, podem viver (supostamente) fora da dimensão histórica no que toca aos seus objectos de estudo. Podem ser tão abstractas que dispensam esse enquadramento ou envolvente. Embora isto não seja de facto assim na acumulação de saber, pois desenvolver estudos, seja qual for a disciplina, faz-se sempre uma recolha histórica de saber (ver "Um investigador é sempre um Historiador"). O conhecimento disciplinar pode ser visto como um acumular histórico desse conhecimento de especialidade, logo é quase impossível escapar à história de um ponto de vista epistemológico. No entanto, o objeto pode estar mais ou menos afastado das dimensões históricas, ainda que seja difícil o completo afastamento, mesmo para a matemática, tendo em conta que, tal como se disse anteriormente, existe sempre inerente a história da própria matemática quando a praticamos.

Mesmo que possa ser uma realidade relativa, esta simples dimensão que separa as duas grandes áreas científicas pode contribuir para explicar o afastamento disciplinar entre as duas áreas. No fundo, apesar de todas as diferenças, o que as separa é a história. Talvez seja por isso que os estudantes das áreas científicas naturais e exatas tenham alguma tendência para o distanciamento face à história, e vice-versa para as ciências sociais.

Provavelmente a verdadeira multidisciplinariedade e cruzamento de saberes, cada vez mais valorizados em simultâneo com a especialização, só acontecerá quando se conseguir ligar a ciência no seu todo através da história, e não usar a história como meio de separação.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Afastamento entre movimentos de esquerda e igrejas – uma razão urbanística

Os movimentos de esquerda, operários de socialistas e anarquistas raramente tiveram ligação com as igrejas católicas ou protestantes instituídas. Foi assim logo desde o nascimento e ganhar de força destes movimentos, logo nos inícios de século XIX. Essa luta e reivindicações nascem e crescem à medida que a sociedade e era industrial transformam os Estados. O impacto nas populações da industrialização foi imenso, daí o recurso ao termo “revolução”, embora esse efeito não seja apenas social.
Demónios de Krupp - Heinrich Kley
O afastamento entre as igrejas e os movimentos de esquerda pode ser explicado pelo tradicionalismo e modelos sociais doutrinados. As igrejas ligavam-se ao poder político instituído e sustentavam, à sua maneira, as hierarquias e valores antigos. As igrejas tendiam ao conservadorismo social e não à mudança e inovação que propunham e estavam na génese dos movimentos socialistas, esquerdistas e anarquistas. Apesar disso, posteriormente, essa tendência foi rompida com os movimentos de democratas e trabalhadores cristãos, que no século XX muito se aproximaram da social-democracia, dos ditos socialistas mais moderados.

Mas voltemos às origens do século XIX. Para além das razões ideológicas referidas anteriormente, há razões materiais e urbanísticas que podem justificar o afastamento entre movimentos operários e igrejas. Com o crescimento exponencial das cidades na era industrial, devido ao crescimento demográfico e esvaziamento dos campos, as estruturas urbanas destruturaram-se. Os bairros cresceram em torno das fábricas que atraiam massas de trabalhadores às cidades. O planeamento urbano inicial dessa primeira explosão industrial foi incipiente ou mesmo inexistente. As cidades cresciam por si, sem regra nem critério para além do economicismo puro. Nessas novas zonas habitacionais, sem condições de higiene e salubridade do edificado e onde o espaço público era uma miragem, não existiam as estruturas públicas básicas. Nem as igrejas tiveram capacidade de se adaptar a esta realidade. Grande parte dessas comunidades operárias viviam num vazio eclesiástico, sem igrejas e seus sacerdotes, tal como era habitual nas aldeias e vilas de origem e onde essa organização se foi instituído e implementando ao longo dos séculos anteriores.

Agora podermos fazer as seguintes perguntas. Como seria se as comunidades operárias urbanas tivessem sido enquadradas pelas igrejas instituídas? Ou será que, mesmo se tivesse existido esse cuidado de planeamento urbano e de serviço religioso, nada mudaria?
 
 
Algumas referências bibliográficas
Rémond, Réne; "Introdução à história do nosso tempo - Do antigo regime aos nossos dias", 1994.
Chueca Goitia, Fernando. "Breve História do Urbanismo", Editorial Presença, 1996.

 

terça-feira, 21 de julho de 2015

Ágora – Um filme sobre um período obscuro do cristianismo

 
Muito tempo depois do que contava pude finalmente ver “Ágora”. Trata-se de uma recriação de um episódio histórico que terá mesmo acontecido. Como se diz: “Um filme baseado em factos verídicos”. Na prática tal aspeto, por si, nada garante de qualidade e interesse para a obra, pois pode muito facilmente desviar-se das fontes históricas e desinformar em vez de informar, uma vez que o formato ideal para isso seria o documentário. Mas claro, baseando uma ficção em casos reais, como é habitual fazer-se, é a possibilidade de fazer chegar conhecimento do tema ou história do filme a um público mais vasto, ainda que podendo perder-se originalidade no processo criativo, ou não fosse difícil conjugar a fidedignidade histórica com os rasgos de criatividade quase sempre deturpadores, especialmente pelo incutir de valores da atualidade e outros que tornam os filmes históricos anacrónicos.

Mas sobre o filme em concreto.” Ágora” regista as mudanças sociais, políticas, religiosas e culturais que ocorreram com a afirmação do cristianismo no seio do Império Romano, já numa fase de decadência. A ação passa-se em Alexandria, uma das cidades mais dedicadas ao ensino e conhecimento da antiguidade, nos finais do século IV e inícios de século V d.C., exatamente no período em que se considera o início do fim antiguidade tardia. Retrata-se parte da vida da filósofa Hypatia, das convulsões entre pagãos e cristãos em ascensão. É um registo em filme do choque entre o mundo antigo clássico e o novo mundo cristão que daria origem aos valores cristãos ocidentais e até à influência islâmica posterior. Grande parte destes conflitos violentos acontecem no espaço público da cidade, sendo provavelmente dai a origem do nome "Ágora" - que seria o espaço público onde acontecia a vida cívica das cidades gregas.

Existem pouquíssimos filmes sobre esta época em que se foca a violência que acompanhou a implantação e domínio do cristianismo sob o Império Romano, em que de perseguidos, e depois tolerados, os cristãos passam a ser perseguidores, contribuindo para o fim da antiguidade clássica em simultâneo com outros acontecimentos, tais como as invasões bárbaras e a posterior queda do Império Romano do Ocidente. Fica evidente como a política vivia ligada à religião e vice-versa, de como muitas opções religiosas tinham impactos e fundamentos políticos, independentemente da coerência teológica.

O filme não será brilhante no seu todo. Diria somente que é extremamente interessante. Os desempenhos das personagens são aceitáveis, destacando-se Rachel Weisz no papel principal com um bom desempenho. Parecem existir algumas pequenas incoerências no enredo e na construção de algumas personagens, mas nada de muito grave se considerarmos o ambiente e o enquadramento do filme o mais importante. O guarda-roupa, cenografia e fotografia estão bem conseguidos, especialmente a opção por algumas cenas filmadas de modo invertido, de pontos de vista diferentes e em certos planos aéreos.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A pintura anti-Heróica de guerra por Goya

Quando apreciamos as pinturas e telas mais conhecidas sobre combates, guerras e triunfos militares, raramente se registam os horrores e atrocidades desses conflitos. São imensas as pinturas heroicas de guerra, de heróis destemidos e exércitos vitoriosos com as suas insígnias e símbolos a reluzir. Mesmo que não sejam tão encenadas, as pinturas de guerra tentam demonstrar figuras e atos de heroísmo. A violência pode estar presente, mas quase sempre como mero enquadramento de guerra, com um morto ou outro, não muito desfigurado de modo a manter a sua dignidade.
Mas neste género de pintura destacou-se um homem singular, Francisco de Goya, que terá, muito provavelmente, sido o primeiro grande pintor a retratar os horrores e atrocidades da guerra. Goya viveu em Espanha durante as invasões e ocupação napoleónicas. Viu e presenciou o terror da guerra. Nas suas pinturas não há gloria militar. Isso é ainda mais evidente nas suas gravuras de guerra entre 1815 e 1820 (aqui apresentadas no texto com alguns dessas gravuras). Os líderes militares e soldados não são heróis, muito pelo contrário. São quase monstros ou então seres vazios de humanidade, quase autómatos descaracterizados que espalham horror.
Isso talvez tenha acontecido por Goya ter visto os seus compatriotas massacrados, mas também pelo seu natural génio que florescia pelo obscuro das suas criações. Goya aparece como o mestre do tenebroso. Habitualmente poucos encomendavam obras aos grandes pintores registando as derrotas, talvez dai esta singularidade. A obra de Goya contrasta, por exemplo, com a de Jacques Louis David, que, mais ou menos, pela mesma época se ocupava em registar com glória e pompa os triunfos militares napoleónicos.
 

terça-feira, 30 de junho de 2015

Porque se chama Invicta à cidade do Porto?

Quando se refere o nome da cidade do Porto é muito comum usar em simultâneo o epíteto ou título de “Cidade Invicta”, que é o mesmo que dizer “cidade invencível”.
Então mas de onde virá este honroso titulo? Será alguma influência dos efeitos das vitórias do seu clube de futebol local? Não, nada disso, a razão é histórico/política e remonta a alguns séculos.
Cerco do Porto - Marques de resende. Fonte: http://www.historiadeportugal.info
Recuando na história, constata-se que a cidade foi tomada pelos mouros em 715, sendo apenas reconquistada por Vimara Peres em 868, fundando-se assim o Condado Portucalense. Depois não se regista mais nenhum ataque significativo, com a dilatação das fronteiras em direção a sul. Ou seja, invencível perante os mouros não foi, que de facto ocuparam o território por mais de um século.
Depois o Porto surge associado a alguns grandes feitos da história de Portugal. De notar o apoio imediato ao Mestre de Avis, em 1385, e o contributo para a expansão ultramarina, que lhes atribuíram o título honroso de “tripeiros”, por terem escolhido comer as entranhas dos animais e cedido a carne limpa para o esforço nacional da conquista de Ceuta e sua consequente expansão.
Mas é no século XIX que nasce a principal razão do título. Não terá sido a resistência às invasões francesas, pois foram terríveis para a cidade que nãos lhes conseguiu resistir. No entanto, durante as Guerras Liberais (1832-1834), o Porto foi cercado pelas tropas absolutistas depois do desembarque no Mindelo das tropas liberais apoiando D. Pedro IV, que lutava para garantir o trono à sua filha, a futura D. Maria II, e consequentemente a implementação do liberalismo em Portugal. O Porto demonstrou-se invicto perante os assalto de D. Miguel, tendo sido um ponto-chave para mais tarde assegurar a vitória dos liberais liderados por D. Pedro em todo o país.
D. Maria II então que atribui posteriormente o título de Invicta cidade do Porto, constando ainda hoje essa referência no seu brasão municipal.

Referências Bibliográficas para aprofundar:
  • Câmara Municipal do Porto – História da Cidade. Consultado em 24/06/2015. Disponível em: http://www.cm-porto.pt/historia-da-cidade
  • Bonifácio, Maria de Fátima – Reis de Portugal - D. Maria II. Temas e Debates, 2007.
  • Martelo, David - Cerco do Porto 1832-33 – A Cidade Invicta. Prefácio, 2001.
  • Mattoso, José – História de Portugal – Antes de Portugal. Vol. I.  Editorial Estampa, 1997.
  • Mattoso, José – História de Portugal – O Liberalismo. Vol. V. Editorial Estampa, 1998.
  • Santos, Eugénio - Reis de Portugal - D. Pedro IV. Temas e Debates, 2007.
  • Wikipédia – Porto. Consultado em 24/06/2015. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Porto

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Quem reconstruiu o Castelo de Leiria?

Quem conhece o Castelo de Leiria tem presente a sua peculiar forma, pouco habitual em Portugal. O castelo, especialmente pelas suas arcadas góticas dos paços do castelo, viradas a sul para a cidade, é um miradouro único. Desse espaço “romântico” podemos ver toda a baixa, mas da torre de menagem vigia-se quase todo o concelho e outras terras além.
Ao contrário de muitos outros castelos que se encontram arruinados, o castelo de Leiria foi reconstruído. Diz-se que foi Ernesto Korrodi que o reconstruiu, mas isto não é bem verdade.
Korrodi elaborou, em 1898, um projecto de reconstrução do castelo de leiria, muito ao estilo de Viollet-le-duc, adotando um estilo histórico principal para orientar toda a intervenção, partindo das existências e indícios materiais, mas colmatando o remanescente com a sua imaginação e coerência de estilo adotado. Baseou-se na fase joanina, atribuída a D. João I e D. Duarte, o gótico tardio manifestado em parte no Mosteiro da Batalha. Ou seja, o castelo seria mais um paço residencial tardo gótico que uma fortaleza medieval da reconquista.
Essa proposta foi polémica, tanto pelo estilo principal adotado, pois ao castelo de Leiria localmente surgia sempre a menção a D. Dinis e Rainha Santa Isabel, como pela própria solução de reconstrução integral. Já nessa época, Camillo Boito e outros pensadores do património, condenavam esse tipo de solução, considerando-a destrutiva. Para eles, a opção correta seria a preservação das existências e não a reconstrução e seus perigos de desvirtuamento original.
Contudo, a partir de 1915, o castelo, através de pressões cívicas e políticas locais, principalmente através da Liga de Amigos do Castelo de Leiria, dirigida por Korrodi, o castelo começa a ser intervencionado. Surgiram polémicas entre as entidades e responsáveis envolvidos, mas a partir de 1921 as obras são novamente retomadas, já sobre direção indiscutível de Korrodi.
Até 1933, ano em que Korrodi foi afastado do projeto, o castelo foi sendo reparado e estabilizado, garantindo a sua preservação. Korrodi, já nessa altura, não seguia pelos princípios da reconstrução integral. Dos conhecidos 8 arcos existentes nos paços do castelo, apenas reconstruiu 3. Reabilitou e refez apenas algumas partes, mantendo-se o castelo quase como uma ruina romântica, tirando um ou outro caso (torre de menagem e casa do guarda).
Interpretação da reconstrução do castelo de Leiria por Korrodi
Ou seja, a grande reconstrução, com o traçado mais militar, surge depois do afastamento de Korrodi. Foram imensas as intervenções posteriores no castelo. Reconstruíram-se os pisos superiores dos paços do castelo, demoliram-se alterações feitas por Korrodi na Torre de Menagem e Igreja da Pena. Refizeram-se extensas partes das muralhas, torres e barbacãs. Adotaram-se os merlões (ou ameias) retangulares, embora existam vestígios de terem sido piramidais, de inspiração moçárabe. Refizeram-se acessos e ouros “melhoramentos”, tudo isto em plena ditadura do Estado Novo, com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) a concretizar a visão ideológica oficial de fundação nacional militarista e austera, ainda que seguindo parcialmente e nada inovando para além dos projetos iniciais de korrodi.
Recorreu-se imenso a betão, tanto para ligar alvenaria de pedra, como o betão armado estrutural para garantir a estabilidade dos elementos mais antigos. Essas intervenções estão disfarçadas e ocultas.
Assim, a reconstrução do Castelo de Leiria deve-se bastante a korrodi, mas a maioria e maior volume de trabalhos foram realizados posteriormente pela DGEMN em pleno Estado Novo.

Ver estudo do autor: Breve Introdução à História do Vandalismo do Castelo de Leiria
Referências bibliográficas
CABRAL, João – Anais do Município de Leiria. Vol. I. Segunda edição revista e aumentada. Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1993.
CORREIA, Adélia Caldas – Valores estéticos-urbanísticos de Leiria Seiscentista. “Actas do Colóquio sobre história de Leiria e da sua região”. Volume I. Leiria: Câmara Municipal de Leiria, 1995.
CARVALHO, Vânia; INÁCIO, Isabel - “Relatório: O projecto de investigação arqueológica do Núcleo do Castelo de Leiria: enquadramento, objectivos e resultados”. Leiria: Câmara Municipal de Leiria, 2011.
CARVALHO, Vânia; INÁCIO, Isabel - O projecto de investigação arqueológica do Núcleo do Castelo de Leiria: enquadramento, objectivos e resultados. “Revista da Associação dos Arqueólogos Portugueses”. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, 2013.
COSTA, Lucília Verdelho da – Ernesto Korrodi – 1889-1994 Arquitetura, ensino e restauro do património. Lisboa: Editorial Estampa, 1997.
ESTRELA, Jorge – Korrodi e o restauro do Castelo de Leiria. Leiria: Fundação Mário Soares, 2009.
GOMES, Saul António – Introdução à história do castelo de Leiria. 2ª edição revista e ampliada. Leiria: Câmara Municipal de Leiria, 2004.
GOMES, Saul António – Materiais na região de Leiria em tempos medievais. “História da construção. CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” & LAMOP - LAMOP – Laboratoire de Médiévistique Occidentale de Paris, 2012.
KORRODI, Ernesto – Estudos sobre a reconstrução do Castelo de Leiria. Reedição do caderno de 1898. Leiria, Imagens & Letras, 2009.
MENDONÇA, Isabel & MATIAS, Cecília - Castelo de Leiria. DGMEN - Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 1991-2000.
MENDONÇA, Isabel & MATIAS, Cecília - Castelo de Leiria / Castelo e cerca urbana de Leiria. SIPA - Sistema de Informação para o património. Actualizado em 2010. Consultado em 6 de Junhos de 2015, disponível em:
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3312
NABAIS, António; LOURENÇO, Vitor; FERREIRA, Pedro (coord.) – Torre de Menagem do Castelo de Leiria. Leiria: Câmara Municipal de Leiria, 2001.
SILVA, José Custódio Vieira da Silva – Leiria – 450 anos da Diocese e Cidade. Conferências das Comemorações 1545-1995. Leiria, Arquivo Distrital de Leiria, 1996.
[S.N.] – Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria. 4ª edição ou transcrição da 2ª Edição de 1898. Leiria, Textiverso, 2011.
TOMÉ, Miguel – Património e Restauro em Portugal. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto – FAUP, 2002.
ZÚQUETE, Afonso – Monografia de Leiria – A Cidade e o Concelho – 1950. 2ªEdição. Leiria: Folheto Edições & Design, 2013.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

As condições de vida eram piores na Revolução Industrial que na Idade Média?


A propósito de uma pequena investigação sobre a evolução e história da arqueologia urbana no centro histórico de Leiria para o século XXI, deparei-me com alguns estudos curiosos. A propósito das escavações realizadas na Praça Rodrigues Lobo para instalação de rede de saneamento descobriu-se  e escavou-se uma necrópole medieval.

A Construção de Veneza, Sycambria, Cartago e Roma - Crónica de Bouquechardière de Jean de Courcy
Através desse primeiro estudo arqueológico desenvolveram-se várias outras investigações que permitiram perceber como seria a vida socioeconómica da Leiria medieval. Uma das conclusões mais surpreendentes, e que acrescentam conhecimento de interesse geral, foi a constatação que as pessoas que viviam nessa época eram mais altas que os habitantes de Lisboa do início do século XX. Apesar das difíceis condições de vida, da violência direta e indireta, das pestes e guerras, as pessoas que viveram na época medieval seriam, em média mais altas. De notar que a altura média é um indicador de saúde e qualidade de vida.

Então a idade média não seria um período tão negro com alguns nos querem fazer crer? Talvez não. Esta série de dados é corroborada por outros dados correspondentes a outras necrópoles e cemitérios da mesma época noutros locais. A explicação será do efeito  era industrial, que contribuiu para a diminuição das condições de vida, especialmente entre os operários que viviam em meio urbano e suburbano, sujeitos a difíceis condições de trabalho e com poucas condições higiénicas, sanitárias e alimentares. No caso português, segundo Susana Garcia, a causa não será tanto a industrialização, pois era incipiente no nosso país, mas mais como resultado das instabilidades políticas anteriores.

Aqui se demonstra como uma escavação arqueológica proveniente da necessidade contemporânea de melhorar as infra-estruturas urbanas pode gerar avanço no conhecimento científico de interesse geral.
 
Referências bibliográficas.
ERA, Arqueologia, Lda. - Relatório das Escavações arqueológicas na praça Rodrigues Lobo. Leiria: 2002?

GARCIA, Maria Susana de Jesus - Maleitas do corpo em tempos medievais - indicadores paleodemograficos, de stresse e paleopatológico numa série osteológica urbana de leiria. Coimbra: Departamento de arqueologia da universidade de coimbra, 2007. Tese de doutoramento em antropologia biológica.

GARCIA, S. – “Is the Circumference at the Nutrient Foramen of the Tibia of Value to Sex Determination on Human Osteological Collections? Testing a New Method”. International Journal of Osteoarchaeology - Institute J. Osteoarchaeol. Wiley Online Library, 2010.

GASPAR, Sara Joana Pereira - Determinação do sexo em não-adultos: aplicação de um método métrico para o estudo do dimorfismo sexual na colecção osteológica não-identificada de São Martinho (Leria).Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Universidade Técnica de Lisboa, 2013. Seminário Final da Licenciatura em Antropologia.


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Quando os Media formam consumidores em vez de cidadãos

Existe, desde há alguns anos para cá, uma tendência para o esvaziamento das entidades que tradicionalmente exerciam poder sobre indivíduos e sociedades (Naim, 2014). Essas instituições, políticas, religiosas, corporativas, cívicas e etc., têm perdido o seu peso nas sociedades contemporâneas. No caso das democracias isso traz um problema considerável, pois é a própria sociedade civil que perde (Levine, 2002). Nessa perda de poder há um acentuar de perda nos grupos de pressão, especialmente dos defendiam os mais desfavorecidos e impotentes, habitualmente defendidos por congregações religiosas, partidos políticos e sindicatos. Há que lembrar também Tocqueville (2001), quando demonstrou que era nessas instituições cívicas que se formava a massa humana crítica e ativa que tornavam uma democracia sadia.
Michael Jackson e Bubbles - Jeff Koons
Um outro aspeto curioso passa pelo falhando do efeito cívico previsto para o crescimento da generalização da educação. Muitos dos poderes tradicionais referidos foram-se esbatendo, direta e indirectamente, pelo crescimento da liberdade individual aliada à universalização da educação. No entanto, esse alargamento da escolarização em quantidade e qualidade, não se transformou em reforço da participação cívica e na melhoria das democracias, isto ao contrário do que muitos previam (Ginsborg, 2008). Apesar desse imprevisível marasmo cívico, não significa que as sociedades contemporâneas sejam incapazes de mobilização por causas particulares. Existem mesmo casos de mobilização massiva, especialmente amplificada pelo acesso à Internet. Mas esse envolvimento cívico assume, muitas vezes, contornos efémeros e pontuais, e não uma atitude continuada que faça parte da vivência quotidiana. 

Curiosamente, nesta derrocada de poderes tradicionais os menos afectados têm sido os económicos, especialmente os de grande escala. As sociedades são cada vez mais consumistas, propensas à busca pela constante novidade material. Entra-se assim numa fase de consumismo e individualismo exacerbado. Essas entidades económicas têm saindo reforçadas e continuam a marcar a sua posição de dominância, contribuindo para fabricar a cultura de massas e o consumismo a ela associada. A vida familiar está impregnada destes valores. Não será de espantar, pois os meios de difusão cultural e informativa – os Media – são controlados pelos tais grupos económicos, interessados no reforço das tendências consumistas. O caso da televisão é o mais marcante, por ser o principal instrumento de difusão cultural familiar. Especialmente por esse meio vão-se formando e reforçando consumidores e não cidadãos. A televisão pretende entreter e não formar. Interessam as audiências e o consumo de determinados produtos e serviços. Parece não importar formar cidadãos com consciência política cívica e democrática (Ginsborg, 2008).


Tendo em conta este estado de coisas, não é estranho o afastamento entre o exercício da cidadania política e os valores e hábitos que se ganham através da cultura familiar. No entanto será interessante perceber os efeitos do reforço do individualismo na procura de entretenimento, especialmente porque o uso da Internet – que é um espaço muito mais livre – vai alastrado e porque a televisão também está a evoluir para formatos mais costumáveis em que se pode escolher o que ver e quando.
 
Referências bibliográficas
• Ginsborg, Paul. “A Democracia que Não Há - O que fazer para proteger o bem político mais precioso dos nossos tempos”. Editorial Teorema, 2008.
• Levine, Peter. “Can the Internet Rescue Democracy? Toward an On-line Commons. Democracy’s Moment: Reforming the American: Political System for the 21st Century”.Lanham, MD, Rowman & Littlefield. 2002.
• Naim, Moises. “O Fim do Poder - Dos campos de Batalha às administrações, aos Estados e às Igrejas. Porque ter poder já não é o que era”. Gradiva, 2014.
• Tocqueville, Alexis de. “Da Democracia na América”. Princípia, 2001.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Capitão Falcão - O filme fascista defensor da liberdade e democracia

O primeiro super-herói português é um fascista que idolatra Salazar e o Estado Novo.  Aqui está o mote para o filme “Capitão Falcão” de João Leitão. Obviamente que se trata de uma paródia, mas mesmo assim ainda terá sido um risco considerável avançar com este tipo de produção. Um risco ganho e que reforça o próprio espírito democrático. Criar um filme em torno de um super-herói cuja principal tarefa é derrotar feministas, livres pensadores, artistas, comunistas, democratas, intelectuais, ateus, homossexuais, transformistas e todos aqueles que podem atentar contra o fascismo conservador e hipócrita do Estado Novo é prova de maturidade democrática. Finalmente podemos ser livres e gozar connosco mesmos e com um período negro da nossa história, pois este herói ridiculariza-se a ele próprio e aos valores que defende, sendo a apologia perfeita de tudo aquilo que o antagoniza.
Assim, Capitão falcão é um hino dissimulado à democracia e liberdade. O enredo e os conteúdos do filme sobrepõem-se em camadas que se aprofundam na medida em que se analisam o ridículo de alguns discursos e cenas. Na primeira camada estão os combates, as artes marciais e o cómico básico de sátira aos filmes de super-heróis de Banda Desenhada. Nas restantes camadas critica-se o obscurantismo do salazarismo e mais a fundo a própria sociedade portuguesa, com inúmeras referências à época contemporânea. O manancial de piadas e trocadilhos revelam um trabalho de originalidade na escrita que dão substrato ao filme.
Em tudo se notam as limitações orçamentais, mas tudo acaba por funcionar bem. Os atores são bastante bons, especialmente Gonçalo Waddington que tem algumas performances brilhantes, alternado entre a parvoíce calma e o desvario. Os restantes atores adequam-se, tirando um ou outro papel secundário menos conseguido. A fotografia está igualmente bastante aceitável, embora os cenários e ambientes não sejam muito ricos.
Um aspeto que acaba por prejudicar o filme é a sua duração. Se fosse condensado em menos meia hora provavelmente ficaria no ponto, com a dinâmica de ação mais fluida e sem pausas para o espetador recuperar do rol de (boas) parvoíces contidas na história.
Pela novidade que representa, pelo espírito empreendedor dos criadores, pela originalidade da ideia em si, e como ela surge numa altura em que se coloca em causa a democracia, faz todo o sentido ir ao cinema ver o Capitão Falcão.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A Geopolítica do Médio-Oriente explicada através de "The Game of Thrones"

Benyamin Nethanyaohu terá,  perante o congresso dos EUA, comparado  a geopolítica do Médio-Oriente ao mundo fantasioso de "The Game of Thrones" e à geopolítica de Westeros. Os comentários a este bizarro acontecimento serão seguramente imensos. Deixo isso aos leitores deste texto. Interessante foi o desenvolvimento subsequente e profundamento da comparação em causa, divulgada depois pelo Washington Post e pelo Courrier International.
 

Aqui fica então o resumo do aprofundamento da comparação (traduzido pelo autor deste blogue) entre a várias casas (ou famílias) e grupos que compõem o universo geopolítico do reino de Westeros:
 
Lannisters – Arabia Saudita. É a casa mais rica e mais pujante de Westeros, assumem-se como "fazedores de reis" ou mesmo como os seus influenciadores mais diretos. Os eus assuntos familiares são sempre prioritários. Muitos criticam a sua brutalidade ou o facto do seu poder residir principalmente nos seus imensos recursos naturais. Mias que tudo defendem a sua hegemonia em Westeros, mas estão em cheque pelas suas recentes ações políticas.

Stark – Movimentos democráticos de oposição internos. Os movimentos existentes nos vários países que chegam ao poder mas são derrubados ou que ficam perto de o conseguir mesmo antes de serem esmagados. Tiveram um pequeno momento de sucesso, mas depois são atraiçoados e aniquilados. Alguns membros sobreviventes desta família entram na clandestinidade ou sob a proteção de poderes que não podem confiar.
Baratheon – Autocratas Árabes. Governaram durante algum tempo Westeros. Agora dependem dos Lannister devido às agitações generalizadas no reino, mas tentam encontrar novos aliados fora da sua terra natal.
Targaryen – Estados Unidos da América. São uma dinastia que vem de longe e dominou durante décadas. A sua hegemonia deve-se ao seu superior poder de fogo. As relações de interesses com os Lannisters entraram em crise, Muitos em Westeros desejam o seu regresso e intervenção para garantir a estabilidade do reino.
Greyjoy – Turquia. São nostálgicos da época em que reinavam sobre grandes áreas do território de Westeros. Para todas as outras casas isso são apenas histórias antigas, pois os Greyjoy mantém-se isolados nas suas fortalezas, rodeados de inimigos.
Martell – Irão. Vêem-se como distintos das outras grandes casas de Westeros, de uma origem etnica orgulhosamente diferente. Têm profundo ódio aos Lannisters e Tyrells.
Tyrell – Israel. Possuem um reino prospero. Apesar das diferenças, encontraram uma causa comum com os Lannister.
Os selvagens – os islamitas instalados a norte do muro. Intitulam-se como os povos livres que recusam as regras do sistema instituído.
Os caminhantes brancos – O Estado Islámico. A sua tática de terrível eficácia consiste em recrutar em massa novos membros. Ninguém sabe ao certo de onde vêm e o que querem, mas todos concordam que são abomináveis.
A guarda da Noite – Os Curdos. Estão encarregados da defesa de Westeros das invasões vindas do norte do muro, dos selvagens e dos caminhantes brancos. Há quem pense que são apenas mais uns criminosos.

Os povos dos rios - Iémen, Síria, Iraque e outros. São os povos que pagaram o maior preço com as guerras e destruição entre as grandes casas, pois, outrora, as suas terram eram pacíficas.


Fontes:

 

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