Quando apreciamos as pinturas e telas mais conhecidas sobre combates, guerras e triunfos militares, raramente se registam os horrores e atrocidades desses conflitos. São imensas as pinturas heroicas de guerra, de heróis destemidos e exércitos vitoriosos com as suas insígnias e símbolos a reluzir. Mesmo que não sejam tão encenadas, as pinturas de guerra tentam demonstrar figuras e atos de heroísmo. A violência pode estar presente, mas quase sempre como mero enquadramento de guerra, com um morto ou outro, não muito desfigurado de modo a manter a sua dignidade.
Mas neste género de pintura destacou-se um homem singular, Francisco de Goya, que terá, muito provavelmente, sido o primeiro grande pintor a retratar os horrores e atrocidades da guerra. Goya viveu em Espanha durante as invasões e ocupação napoleónicas. Viu e presenciou o terror da guerra. Nas suas pinturas não há gloria militar. Isso é ainda mais evidente nas suas gravuras de guerra entre 1815 e 1820 (aqui apresentadas no texto com alguns dessas gravuras). Os líderes militares e soldados não são heróis, muito pelo contrário. São quase monstros ou então seres vazios de humanidade, quase autómatos descaracterizados que espalham horror.
Isso talvez tenha acontecido por Goya ter visto os seus compatriotas massacrados, mas também pelo seu natural génio que florescia pelo obscuro das suas criações. Goya aparece como o mestre do tenebroso. Habitualmente poucos encomendavam obras aos grandes pintores registando as derrotas, talvez dai esta singularidade. A obra de Goya contrasta, por exemplo, com a de Jacques Louis David, que, mais ou menos, pela mesma época se ocupava em registar com glória e pompa os triunfos militares napoleónicos.
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