terça-feira, 22 de abril de 2014

Qual o nome desta época em que vivemos?

Quando pretendo tratar qualquer assunto relacionado com a sociedade e o tempo em que vivemos custa-me saber como nomeá-la. Costumo utilizar o termo: sociedade e época contemporânea. Mas, historicamente falando, a época Contemporânea, por convenção, começou depois do marco que foi a Revolução Francesa. Foi há muito tempo, e neste tempo aconteceu tanta coisa que se nos compararmos com as sociedades de até há menos de 100 anos não nos parecem, à luz dos nossos dias, nada contemporâneas. Mais estranho ainda seria utilizar o termo sociedade ou época Moderna, pois essa é anterior à própria era Contemporânea, que historicamente se situa entre a Idade Média e a Idade Contemporânea. Assim, os termos correntes de “moderno” e “contemporâneo” soam a estranho. Mas, pessoalmente, ainda me parece mais estranho quando alguns pensadores seguem pelo “Pós-Moderna” e “Pós-Contemporânea”. E se a isto adicionarmos o pensamento e teoria que defendem a chegada ao “fim da história” – no sentido em que a história tende para algo que se pode prever ou que já nada de substancialmente diferente do que hoje existe irá acontecer -, fica ainda mais estranho compreender o nosso mundo atual, e situarmo-nos nele.
A Elevação da Cólera - Arman


Esta é uma época de incerteza, mas talvez seja assim a visão que todos têm do seu próprio tempo e momento em que vivem - existem imensos relatos históricos disso. Esta sensação pode ser apenas um sentimento normal e recorrente ao longo da história: que o momento contemporâneo é sempre mais incerto e inseguro do que o passado. Isso pode ter muitas explicações, mas uma delas seguramente é a herança e sentimento de enquadramento histórico. Podemos saber pouco do passado, e não apreciar o estudo da história, mas conseguimos encontrar mais certezas nele - pois a nossa vida sociedade tende a enquadrar-nos historicamente - que no presente, e ainda menos no futuro.
Se somos modernos desde finais do século XV, contemporâneos desde o final do século XVIII, o que somos hoje? Como se chamará esta época? Contemporânea ainda faz sentido do ponto de vista histórico? E do das outras áreas do saber? Gilles Lipovetsky chama-lhe época Hipermoderna e do Hiperconsumo, propensa à deceção. Outros optaram seguramente por outras nomenclaturas e terminologias, pois outras disciplinas e áreas do saber seguem também as convenções suas próprias histórias – por mais estranho que pareça – para definir divisões do passado, especialmente porque são quase sempre artificiais e apenas conceptuais.
Resta saber se uma visão contemporânea, por mais válida e fundamentada que seja neste momento, corroborará a visão histórica que o futuro fará de nós.
Bibliografia:

Lipovetsky, Gilles; "A sociedade da Deceção", Edições 70, 2012.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quando os Ministros eram escravos

Numa conferência sobre alterações climáticas, realizada no Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, assisti a uma intervenção digna de mais uma curiosidade para registar aqui no blogue. Em jeito de comentário, quando se tratava da importância dos decisores políticos nas medidas, políticas e soluções para os impactos das alterações climáticas, o professor Alveirinho Dias partilhou, entre muitas outras coisas, algo digno de despertar surpresa. Curiosamente, nada teve que ver diretamente com ambiente, geologia ou afins.
O Ministro (Sacerdote) patinador - Henry Raeburn
O professor reportou para a etimologia da palavra Ministro. Supostamente, segundo ele, ministro seria alguém a quem os romanos designavam como gestor caseiro, habitualmente um escravo. Ou seja, os romanos abastados delegavam essa missão (esse ministério, essa tarefa) aborrecida e trabalhosa de gerir num escravo. Se fosse um mau gestor, simplesmente era “substituído”. A tal referência histórica serviu para que a plateia refletisse sobre os nossos atuais gestores ministros, de como se delega neles ainda essa tarefa chata de gestão da coisa pública, sem grande preocupação e com bastante irresponsabilidade cívica por parte dos próprios cidadãos. A ligação com a condição de escravo ou servo da própria palavra dá-se pela composição associada ao termo “minor”, que se subordina ao maior, ao “magis”, que compõe a palavra “magíster”. Nessa altura o “minister” obedecia ao “magíster”. Esta relação de dependência foi sendo dissipada pelas épocas seguintes, ainda que tenham subsistido as duas funções, magistrado e ministro, numa lógica de separação de poderes dos tempos contemporâneos.
No entanto, tendo em conta o atual momento em Portugal, o professor considerava, em jeito de brincadeira e de alerta para a tomada de consciência, que neste momento os escravos destes ministros seriamos nós, e não ao contrário como seria no tempo da antiga Roma.
Independentemente das mensagens políticas e cívicas fica a curiosidade etimológica capaz de despertar reações bem variadas. Ficam também algumas referências – as possíveis – para fundamentar este texto.

Referências bibliográficas
Online Etymology Dictionary, “Minister”, disponível em:
http://www.etymonline.com/index.php?term=minister

Wikipédia, “Ministro”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ministro

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