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A rendição de Breda - Velasquez |
Um mosquete é uma arma de fogo, uma das primeiras portáteis a terem sido usadas em larga escala nos campos de batalha europeus pela infantaria. Os primeiros mosquetes surgiram durante o séc. XVI, mas só começaram a ser preponderantes nas operações militares a partir do séc. XVII e XVIII, tendo sido depois gradualmente substituídos pela espingarda de pederneira (apesar de alguns autores continuarem a chamar a estas espingardas mosquetes). Devido ao seu peso, os primeiros mosquetes, eram disparados sobre varas com forquilhas, de modo a equilibrar e reduzir o esforço necessário para os manusear. O carregamento da arma fazia-se pela boca, despejando primeiro a pólvora pelo cano e depois introduzindo a esfera de metal, que seria o projéctil. O disparo acontecia premindo um gatilho que, mecanicamente, punha em contacto o rastilho (tinha de haver um rastilho sempre acesso) com a pólvora no interior do cano, provocando uma explosão que resultava na expulsão da esfera, dando origem ao tiro propriamente dito. Demora cerca de 3 minutos cada ciclo de disparo – algo muito moroso até para a época, o que obrigou a que fossem tomadas algumas medidas de minimização desta grande condicionante. Apesar disto era uma arma versátil, pois qualquer soldado com o mínimo de treino o poderia disparar.
Os primeiros mosqueteiros estavam armados também com espadas, mas eram principalmente apoiados no campo de batalha por lanceiros, que os protegiam da cavalaria inimiga ou de outras unidades militares capazes da lutar corpo-a-corpo com armas brancas. Só posteriormente se optou por organizar os batalhões de mosqueteiros em linhas de disparo, que se revezavam durante os ciclos de disparo. O uso das baionetas é ainda posterior a isto, somente nos finais do séc. XVIII, quando as espingardas de pederneira são já de uso generalizado, é que a possibilidade de acrescentar estas lâminas à exterminada das armas de fogo permitiu dispensar o apoio dos lanceiros, pois as próprias espingardas podiam ser usadas como lanças.
Agora que, tendo recorrido aos meus parcos conhecimentos na área, fiz esta introdução explicativa, sobre o que é um mosquete e quais as suas implicações e funcionamento, gostaria de levantar a questão que me propus no título e apresentar algumas possíveis respostas.
Então, porque associamos um mosqueteiro a alguém que combate de espada? Não deveria ser então intitulado de espadachim ou “rapieristas”, pois usavam espadas do tipo “Rapier”?
Existem várias razões e explicações que podem servir satisfatoriamente para explicar este fenómeno. Algumas delas fui encontrando em bibliografia e documentários diversos, dos quais destaco o livro: “Uma história da Guerra” de John Keagen, onde também podem ser encontradas informações mais especificas e bem estruturadas das informação que usei como introdução desta questão.
Provavelmente a principal razão se deva à popularidade do romance “Os três Mosqueteiros” de Alexamdre Dumas, escrito em pleno séc. XIX. Obra esta repleta de ficção e influenciada pela corrente literária da época - o Romantismo. No entanto, apesar da ficção e tendências estilísticas literárias a acção é baseada em alguns acontecimentos históricos autênticos.
O Romance de Alexandre Dumas relata as aventuras de D´Artagnan e seus companheiros (Athos, Porthos e Aramis) membros da “Guarda dos Mosqueteiros do Rei”, neste caso do rei de França, Luís XIII. Nesse romance literário os heróis vivem aventuras repletas de duelos e combates de média e grande escala de espadas em riste, assumindo-se o mosquete como uma arma marginal. Provavelmente os verdadeiros mosqueteiros combatiam também de espada, dadas as limitações dos seus mosquetes, mas de qualquer dos modos a sua arma principal seria sempre a dita arma de fogo. Dumas deixou-nos este legado que ficou gravado na memória colectiva muito provavelmente por ter considerado o mosquete uma arma pouco nobre e digna de um verdadeiro herói (um pensamento comum na época em que viveram os mosqueteiros e posteriormente). Isto porque, lutar com uma espada era visto como algo sublime e digno, uma arte acessível apenas aos mais dotados e que possibilitava duelos e combates regidos pela conduta do cavalheirismo e nobreza de ser. Por outro lado, o mosquete era a arma do soldado comum e do povo. Pois, disparar um mosquete, era algo que até o menos sofisticado e mais tosco dos camponeses poderia fazer (pensamento da época), a custos mínimos, quer de tempo quer de dinheiro, o que assumia um potencial bélico notável. Até havia quem considerasse cobardia combater com armas de fogo, pois, com elas, era possível abater o mais ilustre dos cavaleiros com o mais miserável dos disparos.
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O povo guiado pela liberdade - Delacroix |
As primeiras armas de fogo tiveram também o impacto de democratizar a sociedade, pois a partir de então o povo pode pegar em armas e desafiar os exércitos dos grandes senhores e monarcas (absolutistas), especialmente a cavalaria (combater a cavalo era apenas reservado à nobreza e seus partidários). Não foi por acaso que a revolução francesa se fez de mosquetes, espingardas e pistolas em punho. sendo esta apenas um exemplo das revoluções que puderam acontecer dai em diante.
(repito aqui obra: "Povo Guiada pela Liberdade " do pintor francês Delacroix ,pois ilustra na perfeição este último paragrafo)