quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O filme: Paranoid Park

Paranoid Park foi o vencedor do prémio do 60º aniversário do festival de Cannes de 2007 e é um dos filmes mais conhecidos de Gus Van Sant - confesso que foi isto, aliado a ser um dos DVDs da minha cinemateca, que me levou a escolhe-lo como filme para ver hoje.
Assim que comecei a visionar o filme percebi que tão altas referências tinham a sua justificação, algo que se sentia pelo que se via e ouvia à medida que a película ia rolando – metaforicamente falando é claro pois quase tudo hoje se passa através de meios digitais.
O filme é uma bela conjugação de sonoplastia com sons não naturais à acção mas que, aliados a uma banda sonora diversificada e bem original inserida em momentos precisos, conseguem acentuar a carga dramática e dar movimento ao filme, apesar de muitas das cenas serem lentas. Algumas cenas são dignas de ganhar distinção pela qualidade da fotografia, já outras parecem toscas e não tratadas – muito provavelmente assim apresentadas para caracterizar ambientes mais disfuncionais.
A acção parece desorganizada e quase confusa, mas quanto a mim é só mais uma técnica que o realizador utiliza para descrever os estados de espírito e psicológicos da personagem principal. No filme é dado grande foco às expressões faciais - aqui as expressões das personagens dizem mais que mil palavras.
Quanto à história, bem, sem revelar muito, trata-se de uma história que envolve um adolescente que é colocado numa situação trágica altamente improvável. Esse drama principal que nos é apresentado aloja-se no quotidiano de uma faixa etária muito específica – a adolescência – e numa época muito precisa – a actualidade.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Livro: Platão e um ornitorrinco entram num bar...

 Trago aqui mais um livro de filosofia e humor, desta vez uma edição da Dom Quixote, que tem um curioso título, ora veja-se o nome: «Platão e um Ornitorrinco entram num bar… - filosofia com humor». Thomas Cathcart e Daniel Klein (ambos licenciados em filosofia) criaram uma obra singular. Nela introduzem os grandes temas da filosofia com algumas curtas explicações e explanações mas sempre com anedotas a elas associadas. Trata-se de uma forma bem leve e divertida de fazer uma introdução à introdução da filosofia. Não é de estranhar que o livro faça parte do Plano Nacional de Leitura pois é bem capaz de desmistificar e seduzir jovens e graúdos para a curiosidade pela filosofia.

Deixo então aqui algumas das piadas utilizadas, respectivamente categorizadas segundo os temas filosóficos que tratam.

Metafísica (Racionalismo)

O optimista diz «o copo está meio cheio»
O pessimista diz: «o copo está meio vazio»
O racionalista diz: «o copo tem o dobro do tamanho necessário»

Lógica (argumento indutivo por analogia)
Três estudantes de engenharia estão a debater que tipo de Deus terá concebido o corpo humano. Diz o primeiro:
- Deus deve ser um engenheiro mecânico. Reparem em todas as articulações.
- Eu acho que Deus deve ser um engenheiro electrotécnico. O sistema nervoso tem milhares de ligações eléctricas – defende o segundo.
- Na verdade, Deus é um engenheiro civil. Quem mais passaria um tubo de desperdícios tóxicos através de uma área recreativa? – diz o terceiro.

Ética (virtude platónica)
Numa reunião de faculdade, um anjo aparece inesperadamente e diz ao chefe do Departamento de Filosofia:
- Conceder-te-ei qualquer uma das três bênçãos que escolheres: Sabedoria, Beleza… ou 10 milhões de dólares.
O professor escolhe a Sabedoria sem qualquer hesitação.
Vê-se um clarão de um relâmpago e o professor parece transformado, mas continua sentado a olhar para a mesa.
Um dos colegas sussurra:
- Diz alguma coisa.
- Devia ter pedido o dinheiro – diz o professor.

Ética (o imperativo categórico supremo e a velha regra de ouro)
«não faças aos outros o que gostarias que eles te fizessem; eles podem ter gostos diferentes»

Filosofia da Religião (distinções teológicas)
Um homem chega às portas do céu e São Pedro pergunta-lhe:
- Religião?
- Metodista – responde o homem.
São Pedro olha para a lista e diz:
- Vá para a sala 28, mas não faça barulho quando passar pela sala 8.
Outro homem chega às portas do céu.
- Religião?
- Baptista.
- Vá para a sala 18, mas não faça barulho quando passar pela sala 8.
Um terceiro homem chega às portas .
- Religião?
- Judeu.
- Vá para a sala 11, mas não faça barulho quando passar pela sala 8.
- Até posso compreender que haja salas diferentes para religiões diferentes – diz o homem -, mas porque é que não posso fazer barulho quando passar pela sala 8?
- As Testemunhas de Jeová estão na sala oito – explica São Pedro – e pensam que são os únicos que estão aqui.

Existencialismo
Duas vacas estão num campo. Diz uma para a outra:
- Que pensas sobre a doença das vacas loucas?
- Que me interessa isso? – diz a outra – Eu sou um helicóptero.


Filosofia da Linguagem (a filosofia da imprecisão)
Uma mulher de 80 anos entra na sala de convívio dos homens do lar de terceira idade. Ergue o punho o ar e anuncia:
- Quem adivinhar o que tenho na mão pode fazer sexo comigo esta noite!
- Um elefante! – grita um velhote ao fundo da sala.
A mulher pensa durante alguns instantes e responde:
- Resposta certa!


Agora para saber mais, incluindo as relações destas piadas e histórias engraçadas com a Filosofia e devida explicação por parte dos autores, nada como lerem toda a obra!.- coisa que se faz muito rapidamente!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Afinal de onde vêm e quem são os idiotas?

Algumas palavras têm origens etimológicas bem curiosas. Algumas têm um significado actual que sofreu tantas alterações que pouco se relaciona com o seu significado original. A palavra «idiota» é em parte uma delas – posso dizer que fiquei um tanto ou quanto “idiota” quando descobri a sua origem.
Escritório de algodão em Nova Orleães - Edgar Degas
Tinha acabado de passar a vedação que dá acesso à acrópole de Atenas quando a nossa guia se detém junto do anfiteatro de Heródoto Ático. Aí, depois de fazer uma introdução aos vários monumentos que iríamos ver e de fazer uma breve antologia da história política e social da democracia ateniense da antiguidade, faz-nos a seguinte pergunta em espanhol: Sabem qual a origem e significado a palavra idiota? Ninguém foi capaz de responder, mas logo ouvimos a sua explicação, evitando um prolongado silêncio quase constrangedor devido à nosso ignorância. Segundo ela o termo idiota era um adjectivo usado para caracterizar todos aqueles, que durante a vigência da democracia em Atenas, não se interessavam ou não estavam disponíveis para participar no governo e assuntos do Estado Democrático – pois a existência de tal forma de governo pressupunha o envolvimento e participação de todos os cidadãos, podendo e devendo todos estar de igual modo disponíveis para governar. Todos ficámos espantados com tal explicação.

Posteriormente fiz uma pequena investigação sobre a etimologia da palavra de modo a testar a veracidade destas palavras. Parece que o termo em grego antigo seria «idiótes», palavras que significava “homem privado”, ou seja, homem sem interesse pela causa pública. Os antigos gregos consideravam, ou não fossem especialistas em política e filosofia, que todos os que não participavam activamente no governo das suas polis, aqueles que não eram políticos, era porque não tinham a devida capacidade intelectual para tal. Mais tarde o termo «idiota» foi readaptado e reutilizado pelos romanos para caracterizar todos aqueles que eram incapazes de acções e raciocínios complexos, entre outras lacunas intelectuais.

Na actualidade acho que é caso para dizer: as idiotices de alguns (segundo o modelo romano) levam outros a optarem pela idiotice (segundo o modelo grego). Provavelmente é só mais um dito de um idiota da minha parte…

sábado, 18 de setembro de 2010

Algumas razões para a existência de corrupção nos Partidos Políticos

Na obra ‘Corrupção e os Portugueses – Atitudes, práticas e valores’, da autoria de Luís de Sousa e João Triães, são avançadas algumas teorias que explicam a relação entre os partidos políticos e a corrupção – a razão de ocorrerem e porque são propensas essas instituições a essas práticas. Este fenómeno e explicado de um modo tão simples e objectivo – sem recurso a um discurso anti-partidário ou a favor de uma qualquer ideologia –, por isso que penso que vale a pena trazer aqui algumas palavras dessa obra ao blogue.
As tentações de Santo Estevão (ou Antão) - Hieronymous Bosch
 Segundo Carlos Jalali, o autor do texto – pois esta obra é um compêndio de vários textos direccionados para assuntos específicos mas sempre dentro do mesmo tema -, que aborda e discute este assunto, o afastamento dos cidadãos face aos partidos políticos torna-os mais propensos aos actos de corrupção. Ora vejamos as palavras do autor:
“Por um lado, este afastamento leva a uma redução do número de militantes, reduzindo as receitas provindas dessa fonte. Por outro lado, aumenta os custos: os partidos não podem recorrer aos seus militantes para as suas campanhas, tendo de recorrer a outras e dispendiosas formas de campanha. Por outro lado, a consequente redução da identificação partidária obriga os partidos a competirem por um mercado eleitoral mais amplo, o que também obriga a maiores gastos.” (pp. 140)

São estas dependências cada vez maiores de capital para viverem, actuarem e fazerem campanhas e iniciativas várias, devido à cada vez maior falta de militantes e participação política dos cidadãos, que fomentam e fazem com que o manto da corrupção paire e caia muitas vezes sobre os partidos políticos.
A meu ver, isso poderia e deveria ser combatido com mais participação política dos cidadãos através dos vários partidos existentes ou novos que se pretendam criar, algo que resultaria seguramente em mais benefícios para a sociedade no geral, e diminuiria a tão indesejada corrupção destas instituições que deveriam ser, por natureza, anti-corruptas e defensoras do bem comum.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nike - uma Deusa Grega que deu origem a uma famosa marca

Nike - Paionios
Ignoramos a origem e significado de muitas das actuais marcas. Uma delas, por ser uma das mais conhecidas marcas de desporto e roupa, merece umas quantas palavras pois tem uma origem que remonta a lendas, mitos, religiões de há vários milénios e até de eventos históricos da antiguidade.
Nike era a Deusa Grega da Vitória, uma deusa representada como uma jovem alada. Os atenienses tinham especial devoção por esta deusa e ergueram templos em sua honra para assinalar as vitórias militares que foram tendo. Muitas vezes esses cultos eram conjugados com outros dedicados à própria Atena – deusa protectora da cidade de Atenas, deusa da sabedoria e da guerra justa.
 Consta que os Atenienses, quando ganharam a Batalha de Maratona (490 a.C.), enviaram o seu melhor corredor, de seu nome Filípides, para levar a notícia da vitória  até à cidade de Atenas. A velocidade era urgente pois os Persas tinham prometido que quando chegassem a Atenas destruiriam a cidade, violariam as mulheres e torturariam até à morte todos os que encontrassem. Por isso, tinha ficado decidido que se os soldados atenienses perdessem a batalha as mulheres matariam os seus próprios filhos e se suicidariam de seguida, evitando colocar os seus destinos nas mãos dos Persas. O mensageiro percorreu os cerca de 42 quilómetros que separavam Maratona de Atenas – razão para a distância da actual prova olímpica da maratona (prova que não constava nos jogos olímpicos da antiguidade) – tendo parado somente quando chegou à acrópole (local mais alto e importante de uma cidade grega) de Atenas de onde gritou Nike!!! (Vitória), anunciando assim aos atenienses que tinham ganho a batalha contra os Persa. Conta a lenda que o corredor morreu de exaustão (ou de desidratação) assim que acabou de fazer o seu bem-aventurado anuncio. Esta História/Lenda é um exemplo de quando a história toca sem fronteira verdadeiramente definida o mito. Dificilmente sabemos a verdade dos acontecimentos, até porque Herodoto diz que Filípides foi primeiro a outras cidades-estado gregas pedir ajuda, pois não era certo que a vitória fosse completa devido aos enormes recursos do Império Persa, tendo para isso percorrido em 2 dias mais de 200 quilómetros.

Friso de Nike em Éfeso
No século passado a marca Norte-americana Nike foi criada por inspiração e alusão directa à Deusa grega da Vitória, obtendo dela o seu nome e o seu símbolo que é alusivo às asas dessa mesma divindade mas também ao modo como é representado o vestido da Deusa ao vento um friso que ainda hoje se encontra na cidade de Éfeso na Turquia. Para além dessas explicações, também era comum na antiguidade utilizar como saudação ou gesto de vitória um sinal que se fazia com a mão aberta unindo todos dedos à excepção do polegar, formando uma espécie de V assimétrico, algo muito parecido com o actual símbolo da conhecida marca de desporto.
Apesar de muitas das nossas actuais invenções e criações poderem parecer muitíssimo originais, a grande maioria delas vive de ideias do passado.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O mais revolucionário dos revolucionários portugueses: Hermínio da Palma Inácio

Um dos actuais best-sellers nacionais é um livro sobre História - estranho pois os tops de vendas costumam ser ocupados apenas por romances e ficções. O livro ‘Histórias Rocambolescas da História de Portugal’ da autoria de João Ferreira é um misto de livro de curiosidades, jornalismo de investigação e compêndio de episódios caricatos e muito particulares da História de Portugal. Não se trata de uma obra académica de História mas tem o grande mérito de fazer despertar no público geral, através da sua leitura, o interesse e o gosto pela História Nacional – pois os vários episódios são, na medida do possível e não fastidiosamente, argutamente completados pelo indispensável enquadramento histórico.
(sem título) - Jean-paul Riopelle
Da obra de João Ferreira poderia ter escolhido muitas das várias referência rocambolescas – segundo as palavras do autor – mas decidi-me a escolher aquela que mais me surpreendeu e que penso ser a menos conhecida. Escolhi o episódio onde são relatadas as aventuras de Hermínio da Palma Inácio (1922-2009), episódio rocambolesco intitulado de ‘Palma Inácio – o último revolucionário romântico’. Palma Inácio foi o derradeiro revolucionário português do século XX, quiçá de toda a História de Portugal. Tinha formação em mecânica de aeronáutica militar e curso de piloto civil. Já em 1947 participou numa tentativa falhada de golpe de estado encetada pelo General Marques Godinho, tendo por isso sido preso e torturado pela PIDE – apesar de ter sido durante 12 dias sujeito à tortura da “estátua” nunca denunciou o seu contacto. Em 1949 concretizou uma fuga rocambolesca: saltou de uma janela a 15 metros de altura com o auxílio de 4 lençóis amarrados; durante o salto foi detectado pelos guardas, os quais derrubou tendo desaparecido juntamente com aos transeuntes que passavam; posteriormente fugiu para Marrocos num cargueiro.
Concretizada a primeira fuga, foi viver para o Brasil onde montou duas empresas de modo a acumular capital para futuras acções revolucionárias, mantendo-se sempre em contacto com a resistência ao regime de Salazar.
Em 1961 coloca em prática a ‘Operação Vagô’: P. Inácio torna-se o primeiro «pirata do ar» ao, em conjunto com 5 companheiros, controlar e desviar um avião da TAP, fazendo-o sobrevoar algumas cidades do sul (Barreiro, Setubal, Beja e Faro) em voo rasante de modo a bombardeá-las com panfletos revolucionários anti-regime e a evitar ser detectado pelos caças da força aérea; a operação de sequestro foi realizada sem qualquer violência (tendo a tripulação chegado mesmo a colaborar e os passageiros a se aperceberam do sucedido só quando aterraram e foram brindado com champanhe, rosas e um pedido de desculpas de Palma Inácio) e plena de sucesso, tendo novamente P. Inácio fugido às mãos do Regime Salazarista e voltado ao Brasil.
Em 1967 decide, em conjunto com outros revolucionários de esquerda, pôr em prática um assalto que financiaria mais actividades revolucionárias e feriria o orgulho do regime. Assim, assaltam à cara destapada – pois tratava-se de um acto político - a delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz, tendo o grupo fugido com o equivalente a uns actuais 5 milhões de euros para França. Com esse dinheiro os assaltantes políticos compraram armas na Checoslováquia e tentaram pôr em marcha mais uma acção revolucionária que pretendia ocupar a Covilhã. A operação falhou e P. Inácio foi novamente preso e novamente fugiu, desta vez dos calabouços da PIDE. Em 1972 entra clandestinamente em Portugal com um novo plano revolucionário em mente: raptar uma alta figura do regime. O plano de rapto é descoberto e P. Inácio é mais uma vez preso. Desta vez só foi libertado de Caxias depois do 25 de Abril.
A partir de então não encetou mais nenhuma actividade revolucionária, a não ser a de recusar qualquer cargo político. Em 2000 foi condecorado com a Ordem da Liberdade. Morre em 2009 num Lar, cuja mensalidade era paga por amigos devido à sua falta de meios financeiros.

Em suma: um verdadeiro revolucionário!

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A Busca pela sabedoria - criado em Agosto de 2009 por Micael Sousa



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