No documentário «Batalhas Lendárias: Moisés perseguição mortal» (ou no original «Batles BC: Moses death chase») é feita, segundo uma perspectiva militar, toda uma nova abordagem ao episódio bíblico do êxodo (saída e fuga do Egipto dos Israelitas por volta do século XIII a.C., depois de uma permanência nas terras dos Faraós de cerca de 400 anos – pelo menos pelo que conta bíblia). Nesse documentário Moisés é apresentado mais como um chefe político e militar do que propriamente religioso, mesmo sem o excluir de tal papel - até porque nesses tempos antigos não se faziam o tipo de distinções de papéis que hoje se tenta fazer.
Viagem de Moisés para o Egipto - Pietro Vannucci Perugino |
Na Bíblia, mais concretamente no livro do Êxodo, é descrita a fuga dos israelitas e a consequente deambulação pelos desertos entre Egipto e Canaã, sempre escapando e evitando a adversidade rumo à terra prometida e aos combates que lá teriam de travar para a conquistar. Até aqui nada de novo mas tudo muda quando se começam a analisar alguns desses eventos, que normalmente são atribuídos a intervenções do Deus dos Israelitas, como meras estratégias e tácticas militares provenientes do génio e chefia de Moisés.
Primeiro, no documentário os Israelitas são tidos como guerreiros ao serviço dos Faraós, dai a sua permanência em terras do Egipto, mais concretamente no Nordeste do delta. Aí formavam um exército irregular controlável - pelo Faraó - que constituía uma barreira entre as riquezas do império do Nilo e potenciais povos invasores.
Foi a alteração de estatuto e das condições de serviço ao Faraó que levou os Israelitas à revolta e à saída do Egipto. Supostamente, perderam o estatuto de defensores e guerreiros para o de agricultores e artesãos. Isto aconteceu porque os Egípcios pois começaram a temer que os Israelitas – que eram um importante força militar - e a considera-los como potenciais invasores e conquistadores.
A perda de estatuto obviamente desagradou aos Israelitas, de tal modo que decidiram levar todos os bens que acharam necessários e, sob chefia de Moisés, partiram rumo à terra prometida. De notar que no texto hebraico a palavra usada para descrever a acção dos israelitas é “saquear” e não “pedir” viveres, provavelmente a razão que levou o Faraó a persegui-los posteriormente.
A perda de estatuto obviamente desagradou aos Israelitas, de tal modo que decidiram levar todos os bens que acharam necessários e, sob chefia de Moisés, partiram rumo à terra prometida. De notar que no texto hebraico a palavra usada para descrever a acção dos israelitas é “saquear” e não “pedir” viveres, provavelmente a razão que levou o Faraó a persegui-los posteriormente.
Milagre da Água que sai da rocha de Moisés - Jocopo Tintoretto |
Já fora do Egipto, é deserto que a astúcia e genial liderança militar de Moisés se manifesta, pelo menos segundo o documentário em causa. Moisés viveu anteriormente muitos anos nesses desertos, o que fazia dele um conhecedor do terreno – um pressuposto fundamental para boas decisões estratégicas e tácticas no que toca ao comando de exércitos. Moisés conhecia também a organização dos exércitos Egípcios e usou essa informação para os derrotar – principio militar de recolha de informações sobre o inimigo.
No documentário analisa-se o episódio da coluna de fogo e nuvem de fumo que acompanhavam a frente, respectivamente de noite e de dia, da marcha israelita, fenómeno que na bíblia é tido como a manifestação de Deus guiando o seu povo escolhido. No entanto esta manifestação pode ter sido apenas uma imitação dos modos de conduzir e organizar exércitos em marcha segundo os preceitos egípcios, pois era comum que usassem recipientes elevados com brasas incandescentes na frente das colunas de marcha dos seus exércitos. Durante o dia tapavam essas brasas provocando fumo que se via à distância servia para guiar os exércitos, durante a noite atiçavam as brasas de modo a formarem um sinal luminoso igualmente visível à distância. Moisés, aplicando o seu génio militar, inverteu este sistema de comando confundindo os Egípcios que o perseguiam. Colocou o recipiente das brasas à cauda da coluna de marcha e não à cabeça, o que fazia crer aos egípcios que os israelitas andavam perdidos e se aproximavam.
Num outro episódio Moisés usou as chamas para novamente enganar os egípcios. Numa determinada noite, quando os egípcios acampavam perto de si, colocou fogueiras entre o seu povo e os Egípcios, permitindo-lhe esgueirar-se durante a noite mesmo em frente aos olhos egípcios sem ser por eles notado. Já na altura se sabia uma luz numa noite escura oculta o que se passa para além dela. Foi nessa derradeira fuga que Moisés utilizou novamente os seus conhecimentos do terreno, atravessando o Mar de Juncos - e não o Mar Vermelho como se costuma afirmar. Esse Mar era uma espécie de pântano, muito afectado pelas marés e pelos ventos, sendo que em marés baixas e com ventos favoráveis podia de ser atravessado a pé. De manhã, quando os Egípcios tomaram consciência que tinham sido ludibriados decidiram atravessar o Mar de Juncos de Imediato. No entanto, nessa altura, a maré começava de novo a subir e inutilizou os carros de combate egípcios – a principal forma de combate dos faraós – que ao tentar atravessar se atascavam no pântano alagado.
Num outro episódio Moisés usou as chamas para novamente enganar os egípcios. Numa determinada noite, quando os egípcios acampavam perto de si, colocou fogueiras entre o seu povo e os Egípcios, permitindo-lhe esgueirar-se durante a noite mesmo em frente aos olhos egípcios sem ser por eles notado. Já na altura se sabia uma luz numa noite escura oculta o que se passa para além dela. Foi nessa derradeira fuga que Moisés utilizou novamente os seus conhecimentos do terreno, atravessando o Mar de Juncos - e não o Mar Vermelho como se costuma afirmar. Esse Mar era uma espécie de pântano, muito afectado pelas marés e pelos ventos, sendo que em marés baixas e com ventos favoráveis podia de ser atravessado a pé. De manhã, quando os Egípcios tomaram consciência que tinham sido ludibriados decidiram atravessar o Mar de Juncos de Imediato. No entanto, nessa altura, a maré começava de novo a subir e inutilizou os carros de combate egípcios – a principal forma de combate dos faraós – que ao tentar atravessar se atascavam no pântano alagado.
Por estes e outros episódios, tendo em conta uma análise militar, bem que Moisés, a ter existindo enquanto figura histórica, pode ter sido um dos melhores generais e estrategas da história militar.
Moisés é, talvez, uma das figuras mais enigmáticas da História,dentro ou fora da tradição judaico-cristã ou até islâmica.Recordo-me, mas muito vagamente, de um documentário, suponho que passado no "Canal de História", a respeito das suas qualidades de general e estratega que o Micael Sousa aqui se propôs realçar, e, se bem me lembro, nesse mesmo documentário procurou-se desmisticar de certa forma o carácter do homem que ele foi salientando-o como uma pessoa por vezes irada, conflituosa e de duvidosa postura moral. É o próprio mistério que ainda rodeia a esta personagem bíblica, bem como a sua acção no "Êxodo", que o torna fascinante aos olhos dos historiadores e dos amantes da História. Portanto, talvez seja este mais um post d'"A busca pela sabedoria" subscrever numa próxima publicação do "Clube de História de Valpaços" nas categorias "Curiosidades [Universal]", entre outras a ponderar, propondo-me já, em nome da equipa, reservar a nossa solicitação e antecipar respectiva gratidão.
ResponderEliminarUm Abraço!
Sim, o documentário que fala Leonel Salvado é muito provavelmente o mesmo que aqui expus. Como os conteudos do dito documentário são muito extensos e profundados, dediquei-me apenas a alguns dos eventos que normalmente têm uma visão mitológica e que nele são vistos de um ponto de vista estratégico e militar.
ResponderEliminarDeixo o texto inteiramente à disposição para divulgação, fazendo sempre a devida referência, tal como eu mesmo o faço neste caso para o nome do documentário.
Os agradecimentos são todos meus.
Abraço
Viva Micael
ResponderEliminarComprei recentemente (mas ainda não consegui começar a lê-lo) um livro que descreve as estórias curiosas da História de Portugal. Nessas estórias pretende-se contar o que realmente aconteceu ou terá acontecido em contraposição com a versão oficial dos manuais oficiais da História de Portugal e que se têm ensinado nas Escolas ao longo dos tempos.
E vem-me à lembrança um professor de História Geral e Económica (assim se chamava a disciplina no ex-ICP actual ISCA Porto) que a primeira vez que se dirigia aos seus alunos era só para nos informar do livro que poderíamos comprar de acordo com as orientações oficiais, mas aconselhava que estivéssemos atentos às aulas que a História que ele nos ia ensinar era muito diferente do que vinha no livro.
Lá passámos o ano todo a tirar apontamentos!...
Bom trabalho, boa análise, Micael.
Um abraço
António Nunes
Já agora, só para temporalizar o contexto do meu comentário anterior:
ResponderEliminarO prof. em questão era o nosso querido Jofre, nós a ouvir e a ver a PIDE (anos 60) a entrar no Instituto (ali à Rua de Entreparedes no Porto)à procura do Jofre. Alguns de nós (putos de 17, 18 anos) a pisgarem-se pelas janelas das casas de banho, um alvoroço de todo o tamanho.
E lá ficávamos sem professor de História durante duas semanas, pelo menos. Uma miséria!
Micael, uma vez assisti a um programa de arqueologia na TV (eu vejo essencialmente noticiários e documentários)sobre a Palestina e falou-se de Moisés. Pelo que os arqueólogos disseram a existência de Moisés é muito duvidosa. O único sítio onde se fala dele são os textos religiosos judaicos ou Torah, integrados no que os Cristãos chamam de Velho Testamento. Ora, pela descrição da sua vida, era suposto que houvesse muitos textos sobre ele, já que era considerado um príncipe ou da alta nobreza Egipcia. Não há um único texto egípcio referindo a Moisés chefe dos Judeus. Quando aprendi História, também aprendi que um facto histórico deve ter várias documentos históricos que provam a sua existência. A conclusão tirada, foi que os rabis inventaram Moisés para unificar as tribos judaicas e foram buscar a inspiração a Misis um Deus menor dos Egípcios com uma descrição de vida quase idêntica à de Moisés. Depois a existir, não se compreende como poderiam estar 40 anos no deserto dada a distância do mar vermelho à Palestina. Também não se compreende como poderiam milhares de pessoas sobreviver no deserto quando naquele tempo a esperança média de vida não chegava aos 40. Tudo isto é uma mistificação que à custa de ser repetida parece verdade.
ResponderEliminarPartilho as suas questões e dúvidas. Todas elas sem excepção. Estamos em sintonia.
ResponderEliminarAqui o texto e o documentário nem sequer questionam isso. Referi o dito documentário pois permite uma leitura mais tangível, segundo uma visão militar e de gestão, dos eventos narrados no Êxodo normalmente vistos como mitológico/religiosos.
Todas as questões que levantou também residem em mim e no modo como vejo e acho que deve ser analisada a História. Mas como, normalmente, um estudo histórico ou pseudo-histórico resulta em textos muito longos optei neste caso apenas pela visão militar do Moisés bíblico.
O seu contributo aqui deixado foi sem dúvida útil e pertinente. Obrigado pela partilha.
Mais, Micael, não havia ainda o canal de Suez ao tempo, porque então foi Moisés para o sul, junto ao Mar Vermelho e não para norte onde havia um largo istmo e que toda a gente sabia. Pela descrição do velho testamento, Moisés era um militar Egipcio logo não iria levar o seu povo judeu para uma zona que há partida não teria escape possível. A Biblia não apresenta explicação para esta decisão minimamente incoerente. É como a descrição da aniquilação de Sodoma e Gomorra. Os arqueólogos judeus já as descobriram. Pela descrição da Bíblia, deveriam haver imensos esqueletos nas cidades fulminadas por Deus. Sabes quantos eles descobriram? Apenas 2. Os guardas de uma torre de defesa que caiu e ficaram soterrados. Depois como é que eu hei-de acreditar nisto tudo?
ResponderEliminarÉ como diz, é uma questão de crença. No entanto este documentário constrói várias possíveis explicações, com base em conhecimentos vários (história, arqueologia, práticas militares, etc.). Isto só se partirmos do principio que realmente existiu um Moisés e um Êxodo, mas ter existido uma personagem e história semelhante, esta possivel descrição dos eventos é muito mais verosímil.
ResponderEliminarApesar de toda esta embrulhada cheia de lendas e absurdos,todavia a biblico-judaico-cristã Religião,adoptou os Dez Mandamentos que constam nas Tábuas da Lei que Moisés recebeu de Javé/Jeová que é o Padre Eterno dos cristãos.
ResponderEliminarCredo quia absurdum est,disse o filósofo.