segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A ditadura em Portugal caiu (indirectamente) devido à NATO?

Como sabemos, Portugal foi um dos países fundadores da NATO. Hoje faz todo o sentido, mesmo que a Guerra Fria esteja lá longe, que um país com o sistema político que hoje é vigente em Portugal faça parte da NATO - Isto se considerarmos que a NATO era uma organização que pretendia defender as democracias ocidentais do bloco comunista de Leste liderado pela URSS. Mas faria sentido quando Portugal era uma ditadura?
Par da fantasia de Walt Disney a dançar  - Paula Rego
Recentemente foi exibido no Canal de Historia um documentário que trata este assunto. Esse trabalho intitula-se «Portugal e a NATO» e é da autoria de Alexandra Pereira e Rui Pinto de Almeida. Esta questão com que iniciei o texto tenta ser respondida neste documentário, fazendo uma análise histórica do período desde os anos 50 até ao final da Guerra Colonial.
Os autores referem que só foi possível a Portugal, em pleno apogeu do Estado Novo, protagonizar este papel devido à sua situação geopolítica e estratégica. Mais concretamente pela necessidade dos EUA precisarem de ter uma base militar a meio caminho entre os continentes Americanos e Europeu.  Daí a presença em território nacional de forças dos EUA na Base da Lajes nos Açores – que ainda hoje continua activa e um ponto estratégico operacional da NATO. Assim, os EUA, suportaram uma ditadura que, apesar de não apoiarem formalmente, era tolerável e preferível a ver a URSS avançar mais sobre a Europa e ameaçar a hegemonia Americana sobre as nações democratizadas. Aqui se demonstra o pragmatismo, quase maquiavélico, da política externa Americana da altura da Guerra Fria.
Desta relação entre Salazar e a NATO surgiram dois acontecimentos nacionais que valem a pena ser referidos e que, de um certo modo, condicionaram a história portuguesa das décadas seguintes: as formações que a NATO deu aos oficiais portugueses, tendo-lhes disseminado alguns dos ideais e valores da liberdade e democracia – veja-se o caso das iniciativas do General Humberto Delgado e dos Capitães de Abril; o afastamento e isolamento internacional em que Salazar colocou Portugal - daí a frase "orgulhosamente sós" - ao utilizar, sem autorização dos EUA, as armas fornecidas pela NATO nos teatros da Guerra Colonial quando deveriam ser apenas para defesa contra os soviéticos numa eventual guerra.
Assim, indirectamente, a NATO acabou por fazer cair o Estado Novo e contribuir para que se restaurasse a Democracia em Portugal, ainda que passado muito tempo e tendo acontecido muitos incidentes até isso se ter realmente concretizado.

17 comentários:

  1. Como o texto foi escrito ontem já muito tardiamente, hoje tive de lhe dar uns toques assim num instante para ficar mais perceptível e coerente.

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  2. Excelente artigo. Já tinha ouvido falar do envolvimento dos EUA no Golpe Militar de 25 de Abril de 74. Agora consigo juntar as peças e perceber melhor essa situação. Se souberes que esse documentário repete no Canal História diz-me por favor. Fiquei curioso...
    Um abraço

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  3. Obrigadíssimo. Nada nos prova que o envolvimento foi directo, mas mesmo assim certos acontecimentos levaram a outros e por ai em diante.
    Como o documentário é de origem nacional não repete tanto como os outros. No entanto daqui a um ou dois meses deve voltar a ser exibido.

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  4. Ok. Assim que souberes de algo diz-me por favor.
    Abraço

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  5. Complementam o quadro outros factores (i) a impopularidade da guerra do ultramar na população e nas hierarquias militares (ii) o advento da burguesia industrial e financeira (iii) o controlo estatal da economia (iv) a decadência da burguesia agrária (v) aspirações de ascensão social da população urbana

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  6. E muitos mais factores seguramente!
    Obrigado pelo contributo

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  7. Frederico Duarteoutubro 26, 2010

    De facto é discutivel se o Armamento utilizado na Guerra colonial seria ou não utilizado sem "autorização" da Nato. Neste ponto as fontes são um pouco antagónicas, todavia efectivamente utilizámos material da Aliança Atlântica e tivemos o apoio dos estados unidos da América na Guerra Colonial, até ao Presidente Kenedy ter tomado posse e decidido uma alteração da política externa Americana.
    Existe uma pequena incorrecção no artigo que é afirmar que a base das Lages é uma base da Nato, o que é falso! É tão só e apenas uma base militar americana, diga-se de passagem que é a mais importante base existente fora dos States (único lugar do mundo onde estão estacionados os B52).
    Portugal entrou na Nato porque tinha que entrar, pois era de importância estratégica fundamental para o estado novo pelo simples facto de se opor ao bloco soviético.
    Deixo a nota final de congratular os americanos pela sua quase maquiavélica política externa, pois prefiro ser influenciado por um poderoso estado democrático do que por uma qualquer ditadura (de esquerda ou direita)

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  8. Bem, foi algo consciente este erro. Porque na verdade a base é portuguesa, mas sob administração Americana. Ou seja, penso que dizer que é uma base NATO - sendo que os EUA são o testa de ferro desta aliança -, onde mais aliados operam, não está muito longe da realidade.
    Mas obrigado pela dica caro Frederico Duarte.
    Sim, também prefiro ser influenciado por uma democracia do que por uma ditadura.

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  9. A NATO apoiou a ditadura salazarenta. E depois apoiou a contra-revolução. Que grande fabricante de "democracias". E continua a levar democracia ao mundo. Veja-se o caso do Afeganistão... E os "aliados" também transformaram o Iraque numa bela democracia. Viva a NATO!

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  10. Já agora, a propósito da NATO, vejam esta campanha em favor de Paz e contra a NATO:

    http://www.pazsimnatonao.org/apelo/as-organizacoes/

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  11. Inês Nascimentooutubro 28, 2010

    @Micael: Como sempre, muito interessante. Gosto de vir aqui frequentemente: aprendo sempre imensas coisas! Obrigada.

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  12. Está agora a ver, Micael, quem é esse Frederico Duarte... :) Sabe imenso, dos meandros do que levou à Revolução do 25 de Abril.
    http://paramimtantofaz.blogspot.com/
    Como o mundo é pequeno. :)

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  13. Não percebi cara Helena, porque diz que o mundo é pequeno?

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  14. Foi no seguimento do meu comentário ao 25 de Abril, pois ainda não tinha acabado, e não foi publicado, um link com um trabalho de pesquisa de Frederico Duarte de Carvalho, e para mim é a mesma pessoa: chamado "O Fim da Democracia" Com certeza que foi para moderação sem o Micael ver... Como sigo os blogues dele e venho encontrá-lo aqui... :)

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  15. Tenho a impressão que o comentário que aqui escrevi,não foi publicado.Nêsse comentário eu manifestei a minha estranhesa pelo facto de Micael Sousa escrever que a NATO influíu indirectamente no derrube da Ditadura clerical fascista do Estado Novo,o que é de estranhar pois o Tio Sam mafioso e flibusteiro que pretende o Domínio do Mundo inteiro,forja e apoia Didaturas de cariz fascista ou feudais em diversas partes do Globo.E na terra do Tio Sam,
    quem quer que seja que manifeste ideias de cariz socializante,é apelidado de comunista.

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  16. Se publicou algum comentário caro José Gonçalves peço desculpa mas não dei por ele. Quando aos EUA apoiarem ditaduras é um facto. No caso nacional apoiaram mesmo a de Salazar, mas como digo no texto, mesmo sem quererem, indiretamente, acabaram por espalhar os princípios e valores da democracia. Provavelmente não contavam com isso. Daí o termo "indiretamente".

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