Penso que todos estamos conscientes do ponto a que os discursos políticos podem chegar em hipocrisia e demagogia (no mau sentido).Mas só quando analisamos algumas palavras proferidas por alguns dos políticos mais conhecidos, de hoje e do passado, é que constatamos até que ponto chegaram.
Numa recente conferência, à medida que o orador ia lendo excertos de textos de discursos de um político do passado nacional, eu e a maioria dos espectadores íamos acenando com a cabeça em sinal de concordância sobre aquilo que íamos ouvindo. Mas ,assim que soubemos qual o autor dessas palavras inflamadas e inspiradoras – pensava eu - caiu sobre todos um misto de terror e espanto. O autor era nada mais, nada menos, que Oliveira Salazar.
O orador, o Professor Doutor Luís Reis Torgal, conseguiu plenamente atingir o seu fim: fazer-nos reflectir sobre a capacidade de engano e dissimulação que pode ter um discurso.
Numa recente conferência, à medida que o orador ia lendo excertos de textos de discursos de um político do passado nacional, eu e a maioria dos espectadores íamos acenando com a cabeça em sinal de concordância sobre aquilo que íamos ouvindo. Mas ,assim que soubemos qual o autor dessas palavras inflamadas e inspiradoras – pensava eu - caiu sobre todos um misto de terror e espanto. O autor era nada mais, nada menos, que Oliveira Salazar.
O orador, o Professor Doutor Luís Reis Torgal, conseguiu plenamente atingir o seu fim: fazer-nos reflectir sobre a capacidade de engano e dissimulação que pode ter um discurso.
Salazar a vomitar a pátria - Paula Rego |
Esta história serve para alertar para a necessidade de nos acautelarmos perante palavras bem articuladas e inteligentemente conjugadas, mas que podem servir apenas para iludir e cativar. Quando assim é - e será sempre difícil de prever - não devemos ser demasiado crédulos, caso contrário podemos estar próximos de apoiar outros futuros “Salvadores da Pátria”.
O Estado Novo ficou conhecido por ser uma ditadura onde se limitavam as liberdades individuais e a livre associação (sindicalismo por exemplo), entre outras. Bem conhecido era também o nível de vida de extrema pobreza a que a população estava sujeita, da falta de um sistema de acção social e a inexistência de salário mínimo nacional, já para não falar na falta de muitas outras coisas.
Ficam então aqui excertos de discursos de Oliveira Salazar para análise e reflexão. Analise-se o que foi o Estado Novo na prática e realidade com o que defendia publicamente o futuro Presidente do Conselho de Ministros:
O Estado Novo ficou conhecido por ser uma ditadura onde se limitavam as liberdades individuais e a livre associação (sindicalismo por exemplo), entre outras. Bem conhecido era também o nível de vida de extrema pobreza a que a população estava sujeita, da falta de um sistema de acção social e a inexistência de salário mínimo nacional, já para não falar na falta de muitas outras coisas.
Ficam então aqui excertos de discursos de Oliveira Salazar para análise e reflexão. Analise-se o que foi o Estado Novo na prática e realidade com o que defendia publicamente o futuro Presidente do Conselho de Ministros:
“O salário, por consequência, não tem que ter limite superior, mas pode ser-lhe fixado o limite mínimo, para que não desça além do que é imposto pelas exigências duma vida suficiente e digna.”
“No campo da actividade profissional não deve também o trabalhador estar só.
Naturalmente ele terá tendência para se associar com outros a fim de defender melhor os interesses materiais e morais da profissão. Ora o sindicato profissional é, pela homogeneidade de interesses dentro da produção, a melhor base de organização do trabalho, e o ponto de apoio, o fulcro das instituições que tendem a elevá-lo, a cultivá-lo, a defendê-lo da injustiça e da adversidade.”
Naturalmente ele terá tendência para se associar com outros a fim de defender melhor os interesses materiais e morais da profissão. Ora o sindicato profissional é, pela homogeneidade de interesses dentro da produção, a melhor base de organização do trabalho, e o ponto de apoio, o fulcro das instituições que tendem a elevá-lo, a cultivá-lo, a defendê-lo da injustiça e da adversidade.”
“Quando pelos seus órgãos a sua acção tem decisiva influência económica, o Estado ameaça corromper-se. Há perigo para a independência do Poder, para a justiça, para a liberdade e igualdade dos cidadãos, para o interesse geral em que da vontade do estado dependa a organização da produção e a repartição das riquezas, como o há em que ele se tenha constituído presa da plutocracia dum país. O Estado não deve ser o senhor da riqueza nacional nem colocar-se em condições de ser corrompido por ela. Para ser árbitro superior entre todos os interesses é preciso não estar manietado por alguns.”
Oliveira Salazar, excertos de discursos entre 1928 e 1934
Oliveira Salazar, excertos de discursos entre 1928 e 1934
Pequenas notas históricas:
ResponderEliminar- O sindicalismo era totalmente controlado pelo governo,ou seja, pelo Presidente do Conselho.
- O Estado Novo ajudou, e muito, a criar grandes fortunas, estabelecendo monopólios privados.
- O regime chefiado por Salazar, e depois por Marcelo Caetano, não contribuiu em nada para o aumento da igualdade nem fez nada pelos direitos dos trabalhadores.
sabine (http://sabine77.wordpress.com/)
Exactamente. A minha leitura foi muito semelhante ao que refere.
ResponderEliminarSó falta voltar a referir que o primeiro salário mínimo só apareceu depois do 25 de Abril.
Existem diferenças entre o que se passou antes e depois do 25 de Abril.
ResponderEliminarComo todos sabem não havia liberdade para dizer mal do governo; hoje, foi dada essa liberdade, e a quem serviu?
Não havia direito à greve; hoje, foi dado esse direito, e quem tem tirado partido disso?
Podía-se construir casa através de empréstimo da caixa de previdência; acabou-se essa facilidade.
O país era unido, solidário e pacífico; hoje, sem solidariedade e aterrorizados, o poder prende pessoas de bem e toma à força empresas e propriedades, em nome de quem?
Havia um país com ordem, respeito e sem criminalidade; hoje, sem ordem, sem respeio e onde o crime se vulgarizou e o criminoso é protegido e bem tratado.
Não havia incêndios florestais; hoje, uma calamidade, é só chegar o verão!
A economia era forte e saudável e não havia desempregados; hoje, temos uma economia desbaratada, o crescimento aniquilado e o desemprego aumentou progressivamente
Tudo em favor de quem?
Abraços,
LUmeNA
Este último comentário da LUmeNA exige uma resposta rápida sem mais demora.
ResponderEliminarO País da ditadura não era seguramente solidário pois não existia segurança social, um sistema universal de reformas ou sequer um serviço nacional de saúde. Pode-se dizer que era tudo menos solidário, pelo menos o Estado, não o era seguramente. Só tinha acesso a bens e serviços, hoje considerados básicos, quem era bastante abastado. Já para não falar na estupidificação de um Povo que hoje lutar por elevar os seus níveis de iliteracia e escolaridade, sinónimo do nosso atraso face á Europa desenvolvida.
Ninguém hoje toma empresas à força, nem percebo o que quer dizer com isso. Até é o próprio Estado que injectar e organizar programas de recuperação.
Não havia um País de ordem, havia um País reprimido, onde milhares fugiam pelas fronteiras ou morriam numa Guerra Colonial. Não há hoje mais crime, simplesmente como existe liberdade de imprensa somos informados do que efectivamente acontece.
A economia tinha uma moeda forte e tinha ouro, mas estávamos sós, pobres, com condições de vida de uns pais do 3º mundo. Isso não é riqueza mas sim extrema pobreza.
Havia desemprego apesar de ocultado pelo Estado. Mas não era tão elevado como agora pois muita da população ainda vivia de agricultura de subsistência, mais um sinal de subdesenvolvimento.
Em suma melhorámos muito felizmente e melhoraremos mais se para isso trabalharmos.
Aconselho vivamente a investigar e estudar melhor este período da nossa história. Por exemplo ver os documentários "Portugal um retrato Social", do Professor António Barreto, seria um bom princípio., dado que mostra a evolução no pais ao longo dos últimos 40 anos.
Obrigado pelo comentário, com certeza ficámos mais esclarecidos todos.
Eu colocaria como título deste excelente post:
ResponderEliminarA Hipocrisia do Discurso Político
Um abraço
António Nunes
Obrigado pelo elogio. Mas isso seria uma afirmação demasiado lacta e generalista.
ResponderEliminarApesar de tudo continuam a existir bons políticos e bons discursos.
Quero felicitá-lo pelo seu post. O seu prisma individual aqui expressado, o qual subscrevo plenamente, é uma das maiores verdades neste país que vive não só uma crise financeira, mas também uma crise política, pela falta de política de qualidade!
ResponderEliminarSem dúvida, alguns dos melhores discursos políticos não foram feitos pelos políticos mais moralmente habilitados para o efeito. Mas esse facto não invalida que o conteúdo, embora com base hipócrita, não coincida com os anseios e aspirações das pessoas. O verdadeiro problema coloca-se porque quem os faz, fá-los pensando precisamente nisso - é aquilo que querem ouvir! (Façam o que eu digo mas não o que eu faço!).
Infelizmente (para muitos e felizmente para outros tantos) é o país que temos, governado pelos políticos que "elegemos"!!!
Para onde navega o nosso barco com comandantes assim?
Porque temos o país, que hoje temos?
ResponderEliminarPorque o povo português continua a elegê-los?
O problema não reside apenas na classe política, mas sim no âmago da moral pública da sociedade portuguesa. Concentra-mo-nos demasiado nos políticos, é pura perda de tempo.
A corrupção, o enriquecimento ilícito, as cunhas, as luvas, a conivência, os conflitos de interesse, o abuso ou mau uso do poder, a pedofilia, são estas as características da "atmosfera" da sociedade portuguesa.
Afinal o que faz falta neste país?
Penso que a primeira prioridade para a educação, erradicação do analfabetismo, uma vergonha! Onde está a vontade política?
Porque temos índice baixo de escolaridade? Antigamente tínhamos a Grécia atrás de nós, hoje já nem isso podemos dizer, entre outras tantas deficiências, na sociedade portuguesa.
Hoje com tantos escândalos e ninguém se movimenta. Deixou de haver causas para haver casos e pouco mais.
Como dar a volta a isto tudo, sem que se caia de novo em erros do passado. É um grande desafio. Enorme mesmo. Fazer regressar a ética e também "a palavra", para o desenvolvimento comum e social.
O meu comentário anterior, estava a fazer simplesmente a diferença notória sobre o sistema em Portugal. Claro, que não concordo com um sistema de ditadura. Mas, hoje ainda estamos pior.
"Para onde navega o nosso barco com comandantes assim?" Eu, diria de outra forma: Qual o nosso destino com políticos acomodados?
LUmeNA
Um texto como o anterior é a demonstração de um acto político por si só, logo não perder tempo com política é não perder tempo a analisa-lo em primeira instância e em última também não usarmos do nosso tempo para analisar a sociedade. Política significa o estudo e acção perante a sociedade, pois “Polis” em Grego clássico significa mais que cidade, significa sociedade.
ResponderEliminarSe efectivamente se discorda dos sistemas político vigente, dos Partidos, dos Líderes, há bom remédio. Adoptar uma atitude pró-activa é a solução e defender a causa comum onde deve ser defendida, que é através da política. Tudo o resto de pouco ou nada serve. Se os cidadãos se afastam da política como poderem querer mudar ou melhorar algo? Desculpas superficiais não são desculpa, os problemas enfrentam-se lutando e trabalhando, não através da indiferença e do afastamento.
Sabe-se hoje, estatisticamente, que a corrupção é tendencialmente mais evidente nas sociedades não democráticas. Muitas da actual corrupção em Portugal provem ainda da sociedade ditatorial anterior ao 25 de Abril. Só se pode combater a corrupção através da educação e formação cívica da população. Durante o Estado Novo nunca houve o real interesse em que a população fosse plenamente informada e formada, dai a ainda grande dificuldade em algumas pessoas saberem distinguir o que é a esfera pública do que é a privada, a verdadeira razão da corrupção. Dada a grande acção de desinformação e de impedimento de acesso à informação real a que várias gerações foram submetidas, por um Estado que queria uma população obediente, apesar de ignorante, hoje ainda subsistem sintomas dessa grande acção de tentativa “estupidificação” de Povo.
Não vou voltar a falar das conquistas sociais e de liberdades individuais, que essas são por mais que evidentes e porque até já falei nelas.
Quanto à educação as evoluções foram gritantes e espectaculares. Em 1960 a taxa de analfabetismo em Portugal rondava os 40%, hoje é menos de 10%. Em 1960 a escolaridade obrigatória em Portugal era o primeiro ciclo (ensino primário) hoje é o ensino secundário. Em 1940 a havia menos de 15.000 alunos no ensino superior em Portugal, em 2009 eram mais de 373.000. Para mais informações consultar o site do INE (Instituto Nacional de Estatística) em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=82890475&PUBLICACOESmodo=2
A evolução é óbvia embora eu defenda que o Ensino superior deva ser gratuito de modo a aproveitar a totalidade das nossas valências intelectuais.
Já que se fala de pedofilia há que relembrar o caso Ballet Rose que abalou a moral hipócrita do Estado Novo. Até se fez uma série televisiva sobre esses acontecimentos. Isto não são problemas de agora.
Se ninguém quiser assumir o leme, especialmente os mais dotados e componentes, ai sim navegaremos à toa.
Em primeiro lugar, felicito-te Micael pelo excelente post (aliás, como me tens vindo a habituar)! Para além de muito esclarecedor, o teu texto evoca um tema super pertinente considerando o contexto sócio-político que vivemos.
ResponderEliminarLi com atenção as opiniões de outros/as leitores/as interessados/as e não me abstive de tecer alguns comentários...
De facto, considero um erro crasso falar-se que, depois do 25 de Abril, Portugal se tornou num país pouco ou nada solidário, sem respeito pelo/a próximo/a e com poucos apoios sociais. Mais grave ainda considero falar-se que antes do 25 de Abril Portugal era um país pacífico e unido! Pois bem, quando dominam sistemas políticos autocratas, quando a moralidade se baseia nos valores de uma única pessoa, sendo que estes estão longe de convergir nos direitos humanos, como é que se pode falar em pacifismo e em solidariedade?
Existem problemas sociais e problemas graves e preocupantes. Existe criminalidade e existe desemprego. Existe pobreza e analfabetismo. Mas não existia antes do 25 de Abril? As mulheres tinham de se dedicar ao trabalho doméstico e a serem cuidadoras da família. Os/as pobres não tinham qualquer oportunidade no sistema de ensino. As opiniões não podiam ser expressas, nem sequer pensadas. As regras eram rígidas e intolerantes. Os apoios sociais não existiam e as preocupações para com o/a próximo/a ainda menos!
Já nasci na década de 80, mas basta-me falar com os/as meus/minhas avôs/avós e pegar em livros de história para perceber que também não existia solidariedade provinda do Estado. Havia, sim, uma solidariedade primária…em que familiares e vizinhos/as ajudavam, com géneros, quem lhes estava mais próximo/a. Mas esta prática ainda se verifica hoje!
Se existe mais individualismo? Existe. Mas não é problema isolado, é um fruto (negativo, talvez) do processo da Globalização. E este é outro tema que nos levava a horas de conversação.
Estou convencida que muitos crimes e muitas situações socialmente degradantes que agora analisamos já ocorriam num elevado número antes do 25 de Abril! Mas, felizmente, os meios de comunicação social começaram a poder desenvolver a sua principal missão: INFORMAR. Agora, com a liberdade proporcionada através da luta de muitos/as ascendentes nossos/as, podemos conhecer, pesquisar, informarmo-nos sobre os areais mais movediços que nos rodeiam!
Claro que não é apenas o Estado que tem a responsabilidade de impulsionar comportamentos solidários e de erradicar os problemas sociais, nós todos/as, homens e mulheres, sociedade civil temos a obrigação de ser pró-activos/as, de agir, de alertar outros/as e de lutar por um mundo melhor!
“Existem diferenças entre o que se passou antes e depois do 25 de Abril” SIM! E FELIZMENTE porque hoje tenho OPORTUNIDADES que os/as meus/minhas ascendentes não tiveram!
Não queremos políticos/as acomodados/as, mas queremos ainda menos uma sociedade civil resignada!
Eu faço a minha parte, denunciando situações socialmente inaceitáveis e apresentando as minhas ideias e reclamando os direitos humanos acima de tudo! Mesmo não mudando o mundo…podemos contribuir com uma pequena diferença!
Ora não arrastando a tertúlia eu gostava de recordar o seguinte, se enquadrarmos o discurso à época, e se analisarmos Portugal contextualizando-o com o cenário internacional (e até nacional no seu passado recente) veremos que os discursos não eram assim tão descabidos e "mentirosos", se quisermos. Afirmar que Salazar ou qualquer outro líder político aponta objectivos ambiciosos aliciando ao voto e depois não os cumpre porque é mentiroso ou algo do género é similar a apontar todos os políticos como tais, o que até é tentador, mas não é esse o discurso comum, o de positivismo, o de um futuro brilhante? Qual o político que venceu uma eleição ou se manteve no poder com um discurso de derrota e amargura?
ResponderEliminarUm outro ponto... e desculpem qualquer coisa porque acordei agora e ainda não estou desperto o suficiente para fazer um texto elaborado e aprumado...
Continuam a falar de Portugal durante o Estado Novo com as fronteiras do Portugal de Hoje! Portugal, quer queiram, gostem ou desejem esquecer era um pouco MAIOR! Já imaginaram gerir um país como a França apenas com um cidade industrializada e meia dúzia de barcos, com um povo analfabeto e em constante tumulto político?!?!
O Estado Novo cumpriu a sua parte da história, teve coisas boas e coisas más, mais, se perderem algum tempo a ler sobre por exemplo Moçambique ou Angola na década de 60 vão ver as enormes diferenças sociais entre Portugal continental e essas "províncias"!
Bom, mas estou a desviar-me do que queria aqui dizer... o discurso hipócrita...! Se estivéssemos em 1922 não acharíamos estes discursos hipócritas, na verdade se vivêssemos em Portugal durante a 2GM acham mesmo que alguém em Portugal afirmaria que estava insatisfeito por não participar na Guerra?!?! Pelo contrário, o Fascismo salvou-nos da Guerra! É curioso, pode ser até ofensivo para alguns, mas é um facto, mesmo para quem, como eu, prefere a Democracia mesmo sem nunca ter provado outra forma de governo!
Não vale a pena chover no molhado! Tudo se resume a: o discurso político é hipócrita quando analisado à posteriori? (sem dúvida) Quem vota nos políticos é hipócrita? (não! Negligente talvez, depende de como é feito o voto, contexto, nível de conhecimento do programa político, etc.).
Edgar B.
Muito obrigado pelo comentário Edgar, pois mesmo que possamos não compartilhar da mesma opinião, os teus comentários enriquecem sempre os textos do blogue em causa e fomentam a discussão, de uma forma informada e estruturada.
ResponderEliminarMas vou ter de discordar em dois pontos que me pareceram relevantes e que não tinham sido abordados anteriormente: O colonialismo Português e a Segunda Guerra Mundial.
Certo que a vida o nível de vida das colónias era muito superior ao das populações na metrópole, mas ai é que reside a questão, parece que havia Portugueses de primeira e Portugueses de segunda. Uma violação clara aos conteúdos e mensagem dos discursos de Salazar. Já agora há que referir também a razão dessa riqueza e melhor qualidade de vida dos Portugueses no Ultramar. Não seria só possível à custa de um colonialismo que, mesmo que indirectamente, explorava essas mesmas colónias e populações locais? Não posso aceitar o argumento de que os Africanos não saberiam viver sem o nosso domínio, pois isso até pode ser interpretado como racismo e xenofobia.
Realmente Salazar evitou que Portugal entrasse na 2ª Guerra Mundial, mas não seguiu essa mesma política aquando do surgimento dos primeiros movimentos pela independência das colónias de então. Não soube evitar uma Guerra que para Portugal foi ruinosa e, acima de tudo, desnecessária. Logo, retirou-nos de uma, que até foi um motor de desenvolvimento, com o hoje bem sabemos, para nos colocar numa outra onde estávamos isolados e de onde nada lucramos. Foi essa mesma Guerra Colonial que impediu que pudéssemos optar por uma “Commonwealth” à Portuguesa e que propiciou uma afastamento ente Portugal e as antigas colónias, com todas as desvantagens económicas e culturais dai provenientes, que só hoje começam a ser ultrapassadas, por exemplo com os investimentos e parcerias em Angola.
Quanto às mentiras e hipocrisias dos discursos de Salazar não são inocentes, pois é uma questão de Ideologia. Nessa altura, aquando dos discursos que cito, ainda não era evidente a orientação Fascista e Totalitarista do nosso futuro ditador, apesar da ditadura ser já uma realidade.
Bom eu aqui sou obrigado a simular uma entrada num outro debate... o que é uma colónia? E porque essas "colónias" queriam independência?
ResponderEliminarSendo isto apenas uma simulação vou ser sucinto: se Angola e Moçambique são uma "colónia" então porque os Açores e Madeira também não são independentes? Se é devido ao facto de ser deserta então porque Cabo Verde é independende? Se é pela distância então porque as Falkland aind pertencem ao Reino Unido?
Segundo ponto: a guerra da independência foi utilizada como palco da guerra fria! Sobretudo pela URSS e depois da independência pelos EUA como resposta! Seriam estas "colónias" independentes hoje se não fossem palco de algo muito maior fora das mão do Estado Novo o de qualquer outra forma de Governo?
E a nossa resposta deveria ser livrar-mo-nos delas só porque eram desejadas por outros? Que faremos então quandos os EUA ou a UE nos requisitarem (directa ou indirectamente) os Açores e suas base? Da-mo-lhes através de uma independência ou directamente...!?
Ponto 3: e em Portugal (continental) não havia portugueses de 1ª e de 2ª? Pobreza, discriminação, racismo, etc.? Havia e ainda há em democracia!
Ponto 4: Continuo a não considerar os discursos hipócritas e mentirosos porque à época não o seriam e é injusto hoje olhar para trás e fazê-lo!
A nossa CPLP vai chegar mais longe, as coisas estão a levar o seu tempo, ainda não existem quadros competentes tanto lá como cá (a verdade é essa) e experientes! Se não fossem as independências apressadas (como se de um incêndio se tratasse) hoje as coisas teriam sido diferentes e guerras civis evitadas!
Edgar B.
Continuando a debater o tema, que agora tende para o papel colonial Português, e na sequência do último texto do Edgar, concordo com as questões levantadas no ponto 1.
ResponderEliminarA meu ver, independência a Angola, Moçambique e Guiné-Bissau fazem o seu sentido, quer pela dimensão, quer pelo sentido de autonomia e cultura já previamente existente antes do colonialismo Português, mas realmente cabo verde e S. Tomé e Príncipe e Macau pouco sentido fazem, pois antes da intervenção Portuguesa não existia ocupação Humana. No caso de Macau existia uma pequena aldeia de pescadores que foi cedida pela Império Chinês por serviços prestados pelos Portugueses no combate à pirataria local.
Outra questão importante frisada pelo Edgar foi o facto de a Guerra Colonial Portuguesa ter sido palco de acções da Guerra Fria. Basta lembrar a intervenção cubana em Angola.
Mas o que apontava como erro no modo como foram geridos os primeiros movimentos de libertação. Não fosse um estado totalitário e anti-democrático talvez se pudesse ter encontrado soluções pacíficas e adequadas. Foi a incapacidade de diálogo e teimosia que nos arrastou para uma longa Guerra Colonial e que depois da Revolução levou a uma descolonização atabalhoada. Espero que a CPLP possa no futuro emendar a falta de visão democrática das políticas do Estado Novo e efectivamente reforçar as relações culturais e comerciais entre os países membros.
Subscrevo, quase por inteiro, as palavras do leitor Edgar.
ResponderEliminarEu nasci pós 25 de Abril e não "senti" com a pele o país déspota. Por outro lado, não caio na linha quase editorial de uma classe política que só aponta defeitos ao anterior regime e o responsabiliza por quase tudo, e passado mais de 30 anos muitas dos defeitos anteriores continuam presentes, mais ou menos dissimulados.
O que tento analisar são os factos:
- Salazar tomou as rédeas do país numa altura crítica. E se não fosse ele, provavelmente hoje não seríamos Portugal.
- Salazar errou estrategicamente no sentido de manter um império - e pagou caro esse erro.
- Hoje, muitos dos libertadores justiceiros de Abril fazem parte das fileiras de mais de 300 generais portugueses (temos mais generais do que a Europa toda junta), muitos com pensões deveras interessantes.
- Hoje, muitos dos políticos libertadores, gerem o país ao som das suas famílias e amigos - orientando a (pouca) riqueza do rectângulo, não em nome do mérito, mas em nome da afiliação.
A maior falha na transicção foi a própria revolução.
Revoluções com cravos estão para a mudança assim como um esfregão sem detergente está para a louça suja.
A. Almeida
Obrigado caro A. Almeida. Fico muito contente que este texto tenha suscitado um debate construtivo e até mesmo informativo, esse é exactamente o propósito deste blogue.
ResponderEliminarComo bem sabe muitos foram os erros de Salazar e do Estado Novo para além aqueles que identificou. Mas como já foram anteriormente identificados não vale a pena voltar a repetir.
Claro que Salazar não é o "Demónio" em pessoa, e até penso que no fundo até pensou estar a fazer um bom serviço ao país com as suas políticas, mas o facto é que não o fez. Mas a culpa do atraso do país não é só dele, trata-se de um atraso que vem pelo menos de há uns 4 séculos. Eu diria que a partir do momento em que os Judeus são expulsos de Portugal no século XVI e o pais estagna absorto numa transe saudosista e demasiado dependente e ligado a vontades religiosas, quando a maioria dos restantes países europeus deu o salto em frente rumo à modernidade.
Mesmo passados 36 anos da revolução, ainda não desapareceram as feridas e cicatrizes que o antigo regime deixou, pois um regime que se entranhou de tal forma e que tanto moldou a sociedade não pode desaparecer com uma simples revolução, que por sinal até nem foi violenta nem de rotura (uma revolução paradoxal.
Se há heranças que ficam são a cultural e dos costumes, mais do que quaisquer outras.
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(88anos)digo mais uma vez que os velhacos,os espertalhões,os cínicos,os hipócritas,
ResponderEliminaros pulhas os trafulhas da Alta,da Média,da Pequena Burguesia com destaque para os Vigários de Cristo,mas também gente da Plebe que sabiam como tirar o melhor partido da Ditadura clerical-fascista do Estado Novo, agora em liberdade e «democracia»e com o liberalismo económico e financeiro em que cada qual se safa como pode,ÊLES, seus apaniguados e os «filhos da mesma escola»,muito melhor sabem como tirar o melhor partido desta SITUAÇÃO.Só os bem intencionados ou os palermas como eu é que foram,são e serão sempre as eternas vítimas. E não esquecer que ÊLES estão a vingar-se do 25 d'Abril.