terça-feira, 21 de outubro de 2014

Economia e Ecologia - Quase sinónimos quase opostos

Economia e Ecologia são termos que remetem para áreas de atividade por vezes tão distintas apesar de terem origem onomástica semelhante. Ou seja, ambos derivam da palavra grega Oikos, que significa casa. A economia será então, traduzindo literalmente, “a gestao da casa” que será “Oikos + Nomos”, sendo que Nomos significa Lei/costume/gestão. A ecologia será então, traduzido literalmente, “o estudo da casa” que será “oikos + logos”, sendo que Logos significa conhecimento.

Título desconhecido - Walt Kuhn
Esta constatação onomástica (origem dos nomes) levanta, no mínimo, muitas questões. Se o objecto - Oikos, a casa - é o mesmo porque será que estas duas áreas de conhecimento tantas vezes andam em conflito e lados opostos, defendendo visões, praticas e atitudes nem sempre compatíveis. Se a “ lei ou gestão da casa” anda longe do “conhecimento da casa” a casa não pode estar “arrumada”. Hoje em dia, o conceito da sustentabilidade tem vindo a aproximar as duas áreas, uma vez que ambas recorrem a ele e ele próprio só se concretiza na sua plenitude se a sustentabilidade for financeira e ambiental (tal como outras possíveis vertentes, com tendência para o alargamento do conceito).
Ambientalistas como Satish Kumar, entre outros, têm lutado pela aproximação entre economia e ecologia, sendo que coloca a primeira a depender da segunda, defendendo que “para se gerir uma casa é preciso conhece-la primeiro”. Ou seja, para que se faça economia é preciso primeiro fazer ecologia.
Para além dos jogos de palavras em que podemos cair, a aproximação entre economia e ecologia, independentemente de uma eventual guerra pela supremacia disciplinar, é o um caminho inevitável para garantir a sustentabilidade. Garante-se assim, supostamente, a dimensão ambiental e económica das actividades humanas.

Felizmente a tendência será a aproximação entre economia e ambiente, felizmente para todos nós e para as gerações futuras.


Nota: um agradecimento à Telma Fontes pela indicação do ambientalista Satish Kumar para citação neste texto.

Referências bibliográficas:

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Origem das Finanças Municipais - As Muralhas

Muitas das cidades europeias, e também as portuguesas, têm origem na antiguidade clássica, nomeadamente na colonização e desenvolvimento grego e depois romano. Foram esses povos que desenvolveram alguns dos modelos mais complexos e completos de governo cívico. Foi ai que de desenvolveu o próprio conceito de cidadania, cidadão, civismo, e etc.

Ilustração do foral de Évora  de 1501 - Autor desconhecido

No entanto, grande parte da nossa organização municipal das nossas cidades tem origem medieval. As cidades medievais eram, num mundo feudal, polos de liberdade, e onde as relações diretas pessoais de vassalagem eram minimizadas perante um sentimento e concordância colectiva perante as necessidades e desafios comuns da comunidade. São famosos os foros ou forais, por decreto real, onde cada vila e cidade assumiam a sua individualidade, as suas regras particulares de governo e existência perante todas as demais entidades, senhorios e poderes. Esta era uma época das leis particulares e não das leis universais e igualitárias que hoje definem as nossas sociedades.
As finanças municipais surgiram da necessidade de construir muralhas e defesas para comunidade. De início, constituíram-se fundos pontuais para garantir os meios necessários para as fortificações, devendo todos contribuir. Quem não contribuísse arriscava a expulsão. Rapidamente essas contribuições pontuais passaram a ser permanentes e os fundos recolhidos utilizados para outros fins, tais como vias de comunicação e outros serviços públicos.
Havendo necessidade de gerir os fundos e de tomar decisões sobre o desenvolvimento de cada localidade, surgiu a necessidade de estabelecer governos locais. Essas terão sido as primeiras assembleias de “homem bons”, uma espécie de democracia medieval e que terão contribuído também para a constituição daquilo que seriam as câmaras municipais. Obviamente que não eram democracias plenas, até porque a legislação não era universal e os direitos e deveres estavam longe de ser comuns, pois vivia-se numa sociedade hierarquizada, por classes e onde prevaleciam os vínculos feudais. Mas sem dúvida que o carácter excepcional da vida nas cidades constituiu, em tempo medievais, verdadeiros focos e centelhas de liberdade e governo cívico.
 
Referências bibliográficas:
  • Chueca Goitia, Fernando. "Breve História do Urbanismo", Editorial Presença, 1996.
  • Mattoso, José. "História de Portugal - Vol.II - Monarquia Feudal", Editorial Estampa, 1997.
  • Ramos, Rui (Coord.). "História de Portugal", Esfera dos Livros, 2012.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

As caravelas terão descoberto o caminho marítimo para a Índia?

Quando se faz alguma alusão aos descobrimentos portugueses de imediato surgem as caravelas. Essa embarcação, devidamente adaptada pelos portugueses à exploração marítima, foi muito importante, mas não foi com caravelas que os Portugueses chegaram, por exemplo, à Índia.
Chegada das Relíquias de Santa Auta à Igreja da Madre de Deus - Gregório Lopes

Para começar, um dos primeiros grandes marcos do início dos descobrimentos foram as descobertas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira e do dobrar do cabo Bojador, em 1434, sob influência da política dos descendentes de D. João I. No entanto essas descobertas foram feitas em barcas (que eram pequenas embarcações de um só mastro, com vela quadrada e quase sempre sem coberta, onde se recorria A remos habitualmente. Gil Eanes foi além Bojador numa barca [2], e não numa caravela, talvez porque a tecnologia ainda não estivesse disponível na altura. Por outro lado, Vasco da Gama chegou a índia em naus, e não em caravelas, isto porque para tão grande viagem eram necessários barcos de maior tonelagem, que levassem mais tripulação e tivessem mais capacidade militar (algo que as caravelas não garantiam).
As caravelas foram utilizadas principalmente na exploração do golfo da Guiné e do Atlântico Sul, e é fácil perceber porquê. Chamavam-lhe mesmo caravelas de exploração. As caravelas eram muito manobráveis, capazes de bolinar (navegar contra o vento fazendo ziguezagues de modo a potenciar a capacidade que as vela triangulares tinham em aproveitar os ventos rasantes), navegar em rios desconhecidos dado o baixo calado (a profundidade que o barco se afunda na água em condições de navegação), possibilidade de utilização de remos e de ter algumas pequenas peças de artilharia e carga ligeira [2].
As caravelas terão sido utilizadas na segunda metade do século XV (com referências ao termo a partir de 1441)[1] . Há a certeza que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas com uma caravela, o que é justificável, pois era uma missão de exploração por águas completamente desconhecidas, em que se exigiam as características das caravelas. Depois de definida a rota de passagem então vieram as naus - podendo justificar o hiato temporal de 10 anos entre o dobrar do cabo e a chegada à índia -, com muito mais capacidade de tonelagem, muito mais resistentes e com maior poder militar. Quanto muito terão chegado à índia versões posteriores de caravelas (redondas) de maiores dimensões como embarcações de apoio [2], mas estavam longe de ser as primeiras caravelas de exploração.
Algo também curioso é que o Infante D. Henrique pode nunca ter “mandado” caravelas em missão, dado que morreu em 1460, e à partir de 1440 pareceu andar mais preocupado com a expansão territorial no norte de África que com a exploração costeira para sul [3].
Assim as caravelas contribuíram para a descoberta do caminho marítimo para a índia, numa parte do percurso, mas não foram elas que iniciaram nem concluíram a demanda.
 
Referências bibliográficas
  • Bethencourt, Francisco (dir.). "A expansão marítima portuguesa - 1400-1800", Edições 70, 2010.
  • Domingues, Francisco Contente. “Navios Portugueses dos Séculos XV e XVI”, Cadernos da Câmara Municipal de Vila do Conde, Minerva, 2006
  • Godinho, Vitorino Magalhães. "A Expansão portuguesa quatrocentista", Dom Quixote, 2008.
 

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