segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A incrível história das Batatas: mitos, realidade e propaganda

As batatas são um tubérculo original das américas, mas concretamente do América do Sul, sendo um dos alimentos base da cultura Inca. Foi trazida para a europa pelos espanhóis no século XVI. Mas o seu sucesso não foi imediato. 

Num artigo online de Amber (2021) há uma história incrível que surgem em outras referências espalhas pela internet. Nele descobrimos que o alimento foi recebido na europa com alguma desconfiança. O caso extremo ocorreu em frança, baseado nas crenças de que seria perigoso e nojento, que seria responsável pela transmissão de Lepra. Mas isso viria a mudar, pois hoje em França muito se consome batata, tanto que o termo inglês para batata frita é “french fries” que, traduzido diretamente, quer dizer fritas francesas. Mas voltando ao século XVIII. O governo francês baniu oficialmente as batatas em 1748. Estavam proibidas.

Outubro - Jules_Bastien-Lepage

Mas Antoine-Augustin Parmentier, um farmacêutico francês, iria mudar isso. Para seu infortúnio foi capturado pelos prussianos durante a Guerra dos anos, tendo sido obrigado a comer batatas durante o cativeiro.  Percebeu que os medos sobre o uso da batata em França eram infundados, e que o tubérculo até tinha efeitos positivos, era nutritivo e até ajudava a combater a disenteria. Em 1773, devido ao trabalho de Parmentier que comprovou que a batata era benéfica, o governo francês mudou então a lei e batatas passaram a ser promovidas como alimento saudável. Apesar de incentivos publicitários, de serem feitas iniciativas onde celebridades comias as batatas a população não aderia. 

No entanto surgiu uma ideia arrojada. Em 1781 o rei Luís XVI disponibilizou uma grande propriedade onde Parmentier plantou uma grande quantidade de batatas. Foram contratados homens armados para guardar os campos. Isto fez com que as batatas ganhassem importância e atenção. Atraiu ladrões que tentavam agora meter a mão neste valioso alimento. No fundo aquilo teria de ser bom, caso contrário não justificaria ser assim fortemente protegido. Foi genial e serviu para disseminar a batata em França. O consumo generalizado das batatas terá tido um grande impulso durante a revolução francesa, devido às vagas de fome que afetaram a França na época. A facilidade de produzir e o alto valor nutritivo da batata ajudou a superar esses momentos de crise. Era o alimento dos revolucionários? Talvez sim, mas o mas provável é que não tenha sido.

Embora a história anterior seja, muito provavelmente, uma criação da Terceira República Francesa, tendo sido ensina na escola às crianças, (Gentilcore, 2012), trata-se de um caso caricato que nos faz pensar sobre o assunto. Sabemos que Parmentier se dedicou ao estudo das batatas e que as defendeu como alimento (Smith, 2012), mas é muito provável que a história tenha sido romantizada e utilizada para fins nacionalistas, uma vez que a generalização do consumo de batatas em França terá ocorrido somente depois da primeira década do século XIX. O que é curioso é que a adoção da batata na Alemanha, na zona da Prússia na época de Parmentier, se terá ocorreido devido à Guerra dos 30 anos. Este conflito internacional arrasou o antigo Império Romano-Germánico e muitas outras partes da europa durante o século XVII. Foi um conflito longo e penoso, que depauperou os recursos da europa central, com efeitos no século seguinte. Recorrer à batata foi uma forma de suportar os volumosos exércitos e de responder à falta de mão-de-obra e instabilidade dos sistemas de produção agrícolas que sofriam com a guerra interminável (McNeill, 1999).

Durante o século XIX ouve outro evento importantíssimo relacionado com as batatas. Na Irlanda dos meados do século XIX a esmagadora maioria da população era rural e dependia, direta e indiretamente, da produção de batatas para sobreviver. Isto porque a população agrícola era arrendatária dos terrenos dos senhores locais. Era um sistema que não incentivava a investimentos e inovação, sendo a batata a melhor colheita para o efeito, dado o baixo custo de investimento e cuidados a ter durante o processo de crescimento. Mas, em 1845, uma praga causada por um fungo destruiu as plantações e gerou vagas de fome duraram até ao final dessa década. No total mataram um milhão de irlandeses e forçaram outro milhão à imigração, principalmente para os Estados Unidos da América (Kinealy, 2006). De notar que a população irlandesa da época rondava os 8 milhões, o que significa que 25% da população desapareceu por causa das batatas.

Assim, a batata, hoje tão comum e popular por todo o mundo, tão presente em cadeias de comida rápida, teve um processo atribulado até atingir esse estatuto. A desconfiança, os mitos e dependências foram gerando novas oportunidades, desenvolvimento, mas também miséria e fome. Exemplos de como funciona a mente humana, de como pode ser difícil mudar hábitos. De como a necessidade de sobrevivência, o poder político e a propaganda geram mudanças socais, económicas e culturais diretas e indiretas. 


Referências:

Gentilcore, D. (2012). Italy and the Potato: A History, 1550-2000. Bloomsbury Publishing.

Smith, A. F. (2012). Potato: A global history. Reaktion Books.

Kanuckel, Amber (2021). The Strange History Of Potatoes And The Man Who Made Them Popular, Farmer’s Almanac. Disponível em: The Strange History of Potatoes And The Man Who Made Them Popular - Farmers' Almanac

Kinealy, C. (2006). This great calamity: the great Irish Famine: the Irish Famine 1845-52. Gill & Macmillan Ltd.

McNeill, W. H. (1999). How the potato changed the world's history. Social Research, 67-83.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Evitar as perdas de produtividade num brainstorming através de jogos de tabuleiro

 Pode haver tentações para fazer processos ou atividades de brainstorming por tudo e por nada. Estão perfeitamente disseminadas as vantagens de fazer brainstorming, de como podem permitir ajudar a gerar novas ideias, de forma a que possam ser depois desenvolvidas para alavancar projetos, empresas e instituições. Sabemos que temos de garantir alguns pressupostos e condições para que isso possa ser possível, por exemplo: a liberdade de expressão sem comentários prévios e juízos de valor quando as ideias estão a ser apresentadas, mesmo que sejam absurdas numa primeira análise. É também do conhecimento comum que os brainstorming são feitos em grupo.

No Moulin Rouge - Toulouse-Lautrec

Mas, mesmo tendo estes cuidados existem alguns problemas adicionais, conhecidos como perdas de produtividade. Existe uma noção de que o trabalho em equipa é mais produtivo num brainstorming, embora isso, na prática, nem sempre seja verdade. Alguns indivíduos trabalham e são muito mais criativos quando trabalham sozinhos e só assim poderão inovar verdadeiramente. Ao trabalhar em grupo alguns membros podem simplesmente andar à boleia, pouco fazendo. Outros, sentindo que estão a ser pouco produtivos podem tentar disparar o máximo de contributos mesmo que nada acrescentem para tentar estar a par. Outros, pelo mesmo efeito, sentindo que estão a ser demasiado produtivos podem refrear a sua participação para evitar o domínio do processo, mesmo quando os seus contributos são claramente melhores que os demais. Noutros casos, as interrupções ou a obrigação em fazer rondas circulatórias de participação, podem induzir quebras no desenvolvimento das ideias, prejudicando-as. As pessoas podem simplesmente esquecer-se do que estavam a pensar ou dizer, ficando apenas a ideia abordada de forma superficial. Quando alguns participantes têm uma personalidade “magnética” ou de liderança inata podem fazer com que, mesmo que de forma não intencional, os processos convirjam demasiado depressa para uma determinada ideia, sem surgir a disrupção que se deseja num processo de inovação. O modo como se comunica, os canais utilizados – expressão escrita, oral ou outra - , a precisão de linguagem podem ser demasiado restritas e condicionar também a criatividade. 

Tendo em conta estas restrições e efeitos indesejados, os processos de brainstorming deveriam ser implementados com alguma cautela. Basear todo o processo de inovação neles pode ser um problema. São uteis e devem ser feitos, mas definindo processos e regras para retirar deles o melhor partido, tentando evitar os enviesamentos, quebras de produtividade e pouca profundidade, tal como enunciado anteriormente. 

Recentemente, numa conferência apresentei da especialidade, apresentei um artigo onde os jogos de tabuleiro podem ser utilizados para abordar estes problemas e melhorar os processos de brainstorming: Fast Brainstorm techniques with modern board games adaptations for daily uses in business and project managing. Esse artigo pode ser consultado aqui em inglês. De notar que os jogos podem gerar as necessárias regras que garantem igualdade de participação, as múltiplas formas de expressão sem domínio externo, produzir processos de cocriação controlados com mais ou menos influência externa, gerar uma atividade que motive e envolva todos os participantes, tal como criar verdadeiros processos disruptivos em que os participantes têm intencionalmente de fazer convergir. Os jogos não são soluções mágicas para os problemas associados aos processos de brainstorming, mas podem ajudar. 


Referências bibliográficas:

Sousa, M. (2020). Fast Brainstorm techniques with modern board games adaptations for daily uses in business and project managing. In Proceedings of the International Conference of Applied Business and Management (ICABM2020), (pp.508-524). 


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