A monarquia portuguesa teve uma particularidade especial pouco conhecida. Entre 1640 e 1910, com a restauração da independência e domínio da casa de Bragançana sobre a coroa portuguesa, nenhum rei ou rainha foi formalmente coroado. Os monarcas eram consagrados através de um processo cerimonioso e simbólico chamado de aclamação, em que a coroa e septo era colocados ao seu lado, mas sem a formalização da coroação, que implicava colocar a coroa na sobre a sua cabeça. Também nos atos e representações oficiais não se utilizava diretamente a coroa.
Imagem de Nossa Senhora de Fátima da autoria de José Ferreira Thedim |
Esta prática e tradição começou com o fundador da dinastia de Bragança, D. João IV, que, por altura da restauração da independência em 1640, em vez de envergar a coroa a colocou aos pés de uma imagem da Virgem Maria, coroando-a simbolicamente como "Rainha de Portugal". Não sabemos se isto foi um ato de fé e de uma tentativa de mobilizar essa força motivadora para a dificil guerra que teria de ser travada pelos portugueses de modo a manter a sua independência face a Espanha, se um ato político para ajudar a reconhecer a independência do reino aos olhos do Vaticano. Pode muito bem ter sido uma mistura das duas coisas.
Desde então os monarcas da casa de Bragança dispensaram a coroa e a virgem Maria em Portugal passou a usar coroa e a ser a padroeira do reino. É por isso que não encontramos representação dos monarcas portugueses deste período com coroa e também por isso que as imagem religiosas da virgem Maria aparecem ricamente coroadas. Já antigamente se representava a virgem maria em atos simbólicos de coroação, existindo pinturas famosas de Rubens e Velásquez, entre outros, sobre esse tema. Mas esta ligação particular à história de Portugal veio reforçar ainda mais essa iconografia em Portugal, sendo a imagem da Nossa Senhora de Fátima um desses casos paradigmáticos.
Algumas referências bibliográficas para aprofundar este tema:
Costa, Leonor Freire & Cunha, Mafalda Soares da (2008). D. João IV. Reis de Portugal. Lisboa: Temas e Debates, Circulo de Leitores.
Silva, Hugo Ribeiro da (2013). "O Clero catedralício português e os equilíbrios sociais do poder (1564-1670)". Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa
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