quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Nem tudo o que parece é Cuscuz (ou Couscous)

Num artigo sobre culinária vou tentar ser ligeiro, ou seja, light. Como frequentador de restaurantes de origem Norte Africana e tendo na família várias pessoas que fazem receitas diferentes de Cuscuz (ou couscous), tenho de falar de Cuscuz.

É cada vez mais corrente por Portugal fazer-se Cuscuz, como receitas próprias, acompanhamento de saladas ou afins. É aqui que se justifica este artigo. Especialmente por cá, talvez por ser algo novo, confunde-se Cuscuz com Sêmola.

A Sêmola é o resultado incompleto da moagem de cereais. A Sêmola é utilizada como acompanhamento do Cuscuz. Logo, o Cuscuz não é só a Sêmola. O Cuscuz é todo o prato, composto pelo cozinhado de vegetais, carnes e então a sêmola. Existem muitas receitas de Cuscuz, cada uma característica de cada zona, sendo típicas do Norte de África.

Receita de Cuscuz Tradicional Marroquino - fonte: receitas gnt
Dizer que se come Cuscuz quando se come algo feito apenas com a Sêmola seria o mesmo que comer só o arroz do tríptico "Cozido à Portuguesa" e dizer que estamos a comer todo o prato, e sempre que comêssemos arroz disséssemos que comíamos cozido à portuguesa. 

Por isso, quando comerem Cuscuz, comam tudo, com tudo o que é suposto e têm direito. Mas podem comer só a sêmola, pois fica muito bem noutros pratos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Porque incomodam tanto aos Muçulmanos os Cartoons Maomé

Depois dos ataques terroristas ao Charlie Hebdo o mundo ocidental ficou estarrecido. A justificação terá sido o modo insultuoso como o jornal havia representado, diversas vezes, o profeta do Islão. Mas, conhecendo um pouco da cultura e tradições islâmicas, percebe-se que, mesmo que os cartoons não fossem insultuosos haveria sempre protestos fortes contra qualquer tipo de representação do profeta. Falo de reações puramente religiosas e não políticas, embora isso seja difícil de separar no Islão.
Muitos Xiitas e Sunitas, as duas principais correntes atuais do islamismo, condenam qualquer representação antropomórfica do profeta. Embora aparentemente essa não seja uma proibição direta expressa no Alcorão, alguns Hadith – tradições islâmicas de valor jurisprudencial - condenam-nas diretamente. Esta justificação tem origem antiga, advém do perigo da idolatria, quando um ídolo passa a ser mais importante que o significado representado. Também existem correntes que seguem pela proibição, pois somente Alá pode criar vida, mesmo que somente em representação.
O Profeta orando na Kaaba - gravura otomana do século XVI
Curiosamente, no próprio cristianismo surgiram movimentos semelhantes, por exemplo o movimento iconoclasta Bizantino e algumas tendências Protestantes já da época moderna, condenam qualquer representação de Jesus e demais personalidades bíblicas, muito menos de Deus. Apenas a cruz era possível de representar.
Voltando ao islamismo, não é de estranhar que para identificação visual do profeta se tenha recorrido a representações monográficas em escrita árabe. Também não é estranho estarem banidas das mesquitas quaisquer representações decorativas de vida. Habitualmente recorriam e recorre-se apenas a formas geometrizadas e às passagens do Alcorão como decorações e formas de passar a mensagem religiosa.
Por outro lado, se há registos de Hadith que fazem a proibição representativa de Maomé, também se encontraram Hadith que o representam, ainda que em alguns ele possa aparecer encoberto por véus ou representado simbolicamente como uma chama.
Extremismos, fanatismos e fundamentalismos à parte, para compreender o que se passa no mundo atualmente é necessário conhecer um pouco mais dos princípios pelos quais se regem os muçulmanos, e perceber que nem sempre os valores e ideais são universais entre todas as culturas. O que pode ser inofensivo para uma cultura pode não ser para outra.

Referências Bibliográficas
  • Donini, Pier Giovanni. “O Mundo Islâmico - Do Século XVI à Actualidade”. Editorial Presença, 2008.
  • Larsson, Göran. “Muslims and the New Media”. Ashgate, 2011
  • Grabar, Oleg. "The Story of Portraits of the Prophet Muhammad". Studia Islamica, 2003.
  • Robinson, C. F. “Islamic Historiography”. Cambridge University Press, 2003.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Paris - A cidade das Luzes Filosóficas

Qual é a cidade das Luzes? Paris. Sim, de facto é Paris. Mas de que luzes falamos quando referimos este título? Serão luzes utilitárias ou decorativas, os mecanismos e aparelhos de iluminação física que usamos correntemente em várias formas e formatos? Não, pelo menos na origem do termo, as luzes não eram essas.
Voo de Paris  - Leonid Afremov
Hoje, Paris deslumbra pelas suas iluminações públicas. São imensas, quer sejam nos grandes monumentos e edifícios, quer nos barcos que sobem e descem o Sena. Também as podemos encontrar em pequenas vendas ambulantes de rua e muitas outras surpresas da vida urbana parisiense. Os grandes monumentos estão particularmente bem iluminados, com verdadeiros projetos de iluminação pensados para fazer destacar o património. As muitas lojas, alguns bairros característicos (por exemplo o boémio Pigalle, com as suas luzes de tons vermelhos e onde se situa o Moullin Rouge) trabalham, à sua dimensão particular, a luz. A Torre Eiffel está repleta de lâmpadas, que dão de si a cada hora, e especialmente no seu topo existe um mecanismo que a transforma num farol rotativo – um espetáculo em si mesmo. Nos Campos Elísios mistura-se a iluminação pública da grande avenida, com as luzes dos imensos veículos, com as grandes lojas, o Arco do Triunfo e a Grande Roda panorâmica da Praça da Concórdia. Existem imensos outros sítios que merecem uma descrição, por exemplo a zona de Montmartre (bairro dos artistas) e muitas outras.
Mas as luzes de Paris que lhe fizeram o nome são de outra época: são anteriores à descoberta da manipulação da própria eletricidade. Essas luzes eram do movimento iluminista, ou movimento das Luzes. Sendo Paris uma das cidades mais importantes da época (século XVIII) compreende-se porque teve ai tanto impacto esse movimento, que usava as luzes como metáfora para a valorização do racionalismo e o combate ao obscurantismo do conhecimento. Foi um movimento filosófico humanista que se sentiu particularmente em Paris, pois reunia a massa crítica, humana e porque o poder instituído era conservador e católico - o que acabou por o amplificar e dar mais força pela repressão e pela censura inicial que sofreram alguns desses pensadores e filósofos das luzes. Há que lembrar os nomes de Voltaire, Diderot, Rosseau e outros. Há que lembrar, pro outro lado, os salões da época e como alguns poderosos apoiaram, mesmo contra outros poderes, essa tendência iluminista.
Talvez tenha sido esta associação inicial às luzes, especialmente reforçada com a influência burguesa do século XIX sobre a cidade (a sua forma e vida), que terá levado a que existissem de factos iluminações e luzes físicas dignas de destaque em Paris. Essas luzes, as recentes e as antigas ainda se sentem na cidade, onde facilmente podemos iluminar o corpo e a mente.

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