Qual é a cidade das Luzes? Paris. Sim, de facto é Paris. Mas de que luzes falamos quando referimos este título? Serão luzes utilitárias ou decorativas, os mecanismos e aparelhos de iluminação física que usamos correntemente em várias formas e formatos? Não, pelo menos na origem do termo, as luzes não eram essas.
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Voo de Paris - Leonid Afremov |
Hoje, Paris deslumbra pelas suas iluminações públicas. São imensas, quer sejam nos grandes monumentos e edifícios, quer nos barcos que sobem e descem o Sena. Também as podemos encontrar em pequenas vendas ambulantes de rua e muitas outras surpresas da vida urbana parisiense. Os grandes monumentos estão particularmente bem iluminados, com verdadeiros projetos de iluminação pensados para fazer destacar o património. As muitas lojas, alguns bairros característicos (por exemplo o boémio Pigalle, com as suas luzes de tons vermelhos e onde se situa o Moullin Rouge) trabalham, à sua dimensão particular, a luz. A Torre Eiffel está repleta de lâmpadas, que dão de si a cada hora, e especialmente no seu topo existe um mecanismo que a transforma num farol rotativo – um espetáculo em si mesmo. Nos Campos Elísios mistura-se a iluminação pública da grande avenida, com as luzes dos imensos veículos, com as grandes lojas, o Arco do Triunfo e a Grande Roda panorâmica da Praça da Concórdia. Existem imensos outros sítios que merecem uma descrição, por exemplo a zona de Montmartre (bairro dos artistas) e muitas outras.
Mas as luzes de Paris que lhe fizeram o nome são de outra época: são anteriores à descoberta da manipulação da própria eletricidade. Essas luzes eram do movimento iluminista, ou movimento das Luzes. Sendo Paris uma das cidades mais importantes da época (século XVIII) compreende-se porque teve ai tanto impacto esse movimento, que usava as luzes como metáfora para a valorização do racionalismo e o combate ao obscurantismo do conhecimento. Foi um movimento filosófico humanista que se sentiu particularmente em Paris, pois reunia a massa crítica, humana e porque o poder instituído era conservador e católico - o que acabou por o amplificar e dar mais força pela repressão e pela censura inicial que sofreram alguns desses pensadores e filósofos das luzes. Há que lembrar os nomes de Voltaire, Diderot, Rosseau e outros. Há que lembrar, pro outro lado, os salões da época e como alguns poderosos apoiaram, mesmo contra outros poderes, essa tendência iluminista.
Talvez tenha sido esta associação inicial às luzes, especialmente reforçada com a influência burguesa do século XIX sobre a cidade (a sua forma e vida), que terá levado a que existissem de factos iluminações e luzes físicas dignas de destaque em Paris. Essas luzes, as recentes e as antigas ainda se sentem na cidade, onde facilmente podemos iluminar o corpo e a mente.