Depois dos ataques terroristas ao Charlie Hebdo o mundo ocidental ficou estarrecido. A justificação terá sido o modo insultuoso como o jornal havia representado, diversas vezes, o profeta do Islão. Mas, conhecendo um pouco da cultura e tradições islâmicas, percebe-se que, mesmo que os cartoons não fossem insultuosos haveria sempre protestos fortes contra qualquer tipo de representação do profeta. Falo de reações puramente religiosas e não políticas, embora isso seja difícil de separar no Islão.
Muitos Xiitas e Sunitas, as duas principais correntes atuais do islamismo, condenam qualquer representação antropomórfica do profeta. Embora aparentemente essa não seja uma proibição direta expressa no Alcorão, alguns Hadith – tradições islâmicas de valor jurisprudencial - condenam-nas diretamente. Esta justificação tem origem antiga, advém do perigo da idolatria, quando um ídolo passa a ser mais importante que o significado representado. Também existem correntes que seguem pela proibição, pois somente Alá pode criar vida, mesmo que somente em representação.
O Profeta orando na Kaaba - gravura otomana do século XVI |
Curiosamente, no próprio cristianismo surgiram movimentos semelhantes, por exemplo o movimento iconoclasta Bizantino e algumas tendências Protestantes já da época moderna, condenam qualquer representação de Jesus e demais personalidades bíblicas, muito menos de Deus. Apenas a cruz era possível de representar.
Voltando ao islamismo, não é de estranhar que para identificação visual do profeta se tenha recorrido a representações monográficas em escrita árabe. Também não é estranho estarem banidas das mesquitas quaisquer representações decorativas de vida. Habitualmente recorriam e recorre-se apenas a formas geometrizadas e às passagens do Alcorão como decorações e formas de passar a mensagem religiosa.
Por outro lado, se há registos de Hadith que fazem a proibição representativa de Maomé, também se encontraram Hadith que o representam, ainda que em alguns ele possa aparecer encoberto por véus ou representado simbolicamente como uma chama.
Extremismos, fanatismos e fundamentalismos à parte, para compreender o que se passa no mundo atualmente é necessário conhecer um pouco mais dos princípios pelos quais se regem os muçulmanos, e perceber que nem sempre os valores e ideais são universais entre todas as culturas. O que pode ser inofensivo para uma cultura pode não ser para outra.
Voltando ao islamismo, não é de estranhar que para identificação visual do profeta se tenha recorrido a representações monográficas em escrita árabe. Também não é estranho estarem banidas das mesquitas quaisquer representações decorativas de vida. Habitualmente recorriam e recorre-se apenas a formas geometrizadas e às passagens do Alcorão como decorações e formas de passar a mensagem religiosa.
Por outro lado, se há registos de Hadith que fazem a proibição representativa de Maomé, também se encontraram Hadith que o representam, ainda que em alguns ele possa aparecer encoberto por véus ou representado simbolicamente como uma chama.
Extremismos, fanatismos e fundamentalismos à parte, para compreender o que se passa no mundo atualmente é necessário conhecer um pouco mais dos princípios pelos quais se regem os muçulmanos, e perceber que nem sempre os valores e ideais são universais entre todas as culturas. O que pode ser inofensivo para uma cultura pode não ser para outra.
Referências Bibliográficas
- Donini, Pier Giovanni. “O Mundo Islâmico - Do Século XVI à Actualidade”. Editorial Presença, 2008.
- Larsson, Göran. “Muslims and the New Media”. Ashgate, 2011
- Grabar, Oleg. "The Story of Portraits of the Prophet Muhammad". Studia Islamica, 2003.
- Robinson, C. F. “Islamic Historiography”. Cambridge University Press, 2003.
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