segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um investigador é sempre um Historiador – A História é inseparável do avanço científico

Por mais absurdo que pareça há quem tente defender que a História não tem qualquer utilidade, que são as ciências positivistas e empíricas que fazem o verdadeiro conhecimento pragmático. Há quem defenda que estudar o passado pouco importa, pois o futuro é o objetivo. Obviamente que ninguém, pelo menos nos meios mais informados, levaria tal consideração em causa. É certo que nem todas as pessoas têm forçosamente de gostar de história, mas, querendo ou não, todos os investigadores são forçados a socorrer-se dela nas suas investigações, mesmo que sejam de áreas de especialidade completamente estranhas ao estudo metódico do passado – isto se considerarmos que a história tem método, coisa que não é consensual para alguns autores.
Castelo e Sol - Paul Klee
Polémicas historiográficas à parte, não existe investigador que não se socorra da história, mesmo que esteja, por exemplo, a investigar conceitos abstratos de física, química ou algo de aparentemente lhe possa ser estranho. Sempre que se tenta descobrir ou construir algo de novo, faz-se sempre um “estado da arte”, ou seja, uma investigação e compilação histórica do que foi feito ou se relaciona com determinado assunto até ao momento presente. Qualquer cientista assim se torna um historiador da sua especialidade. A título de exemplo: um matemático, de um modo muito simplista, terá de conhecer as fórmulas e métodos de cálculo da sua ciência para poder refutar ou inovar, fazendo indiretamente história como base da sua construção intelectual. O mesmo é válido para as restantes áreas do saber.
Por isso, quando se ouvir alguém advogando que a história é disciplina sem interesse, pois os acontecimentos humanos do passado não são já relevantes, há que não esquecer que a história é muito mais que isso. A história pode ser todo o conhecimento, não apenas registos do passado sociopolítico. Claro que lhes podem chamar outras coisas, especialmente nomes mais complicados como a epistemologia - embora seja um conceito mais do âmbito da filosofia do conhecimento - ou apenas por “metodologia” de apoio à investigação, mas no fundo tudo isso é história.
Diria também que também nos distingue dos demais animais é o facto de acumularmos história, mas isso será outra discussão.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A arte medieval era "tosca" por opção estética e pragmática

A arte medieval é tendencialmente considerada como um retrocesso face àquela que se praticou na época clássica. As figuras (desenhadas ou esculpidas) tornaram-se rígidas, sem preocupação com as proporções, cobertas de cores não naturais, e sem efeito e perspetiva. Este facto leva a que, numa primeira abordagem, se possa considerar essa arte como “inferior” ou de pior qualidade, comparativamente com o que se produziu em épocas anteriores e posteriores. No entanto isso pode estar muito longe da verdade. Nada nos garante que os artistas medievais não dominassem as técnicas de antigamente, e que não soubessem representar exatamente aquilo que viam, que era a cópia do real tangível.
Exemplo de uma possível pintura românica
São vários os especialistas e as publicações dedicadas à história da arte que defendem exatamente o contrário do senso comum. Os artistas medievais ter-se-ão libertado das amarras do formalismo clássico para experimentar criações mais espirituais e expressivas das emoções. Talvez quisessem uma arte mais simples, segundo os princípios defendidos pela simplicidade cristã. Parece que era muito mais importante a mensagem que se transmitia, exagerando e reforçando certas parte do corpo e omitindo outras. Os olhos eram grandes e expressivos, as mãos assumiam posições quase icónicas que para os homens e mulheres medievais tinham significados próprios. A perspetiva era subvertida para definir hierarquias de poderes e valores. As cenas que facilmente poderiam ser grotescas ou assustadoras eram simplificadas para que se transmitisse apenas a mensagem moralizante. Mais que a realidade comandava a dimensão espiritual. Há exemplos sem fim disto.
Assim, o suposto aspeto tosco e infantil da arte medieval, especialmente da alta Idade Média, pode ter sido apenas uma opção estética e pragmática, especialmente importante numa época em que poucos sabiam ler e as imagens ajudavam muito na transmissão de ideias e valores. Talvez encontremos paralelo com o revolução artística que ocorreu no século XX, onde se abandonou a representação e imitação da realidade para criar realidades alternativas, definidas por estéticas e simbolismos próprios. Quem, daqui a séculos, olhasse, por exemplo, para um Picasso, poderia dizer que se teria desaprendido. Mas, num olhar mais aprofundado e conhecedor da história do artista em causa, tal como muitos outros, iria comprovar que afinal o que criava era apenas uma opção estética, e não o fruto das suas limitações técnicas. Sabiam fazer, simplesmente pretendiam criar outro tipo de arte.
Aqui fica mais um exemplo de quão retalhada e desvirtuada pode ser a nossa visão do passado.
Bibliografia
  • Cambotas, Manuela Cernadas; Meireles, Fernanda; Pinto, Ana Lídia; "História da Arte - ocidental e portuguesa, das origens ao final do século XX", Porto Editora, 2006. 
  • Gombrich, E. H.; "A História da Arte, Lisboa", Ed. Público, 2005

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