segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Memória e identidade – Interrelação entre o colectivo e individual

Nas sociedades contemporâneas pós-modernistas, tendencialmente liberais, inseridas no fenómeno de mundialização, apesar das forças homogeneizantes das identidades culturais, persistem as diferenciações associadas a grupos sociais e espaços territoriais (Lacroix, 1999).

Para falar de identidade será necessário começar por definir o que é a memória, pois todas as identidades existem, persistem, mudam, constroem-se, reconstroem-se e reinventam-se (Cuche, 2006), apesar de serem imateriais, nas memórias dos indivíduos. É nesse ambiente, e involucro, que são depositadas, sem que essa deposição seja permanente e estanque.

Segundo a psicofisiologia, existem memórias de curto (MCP) e longo prazo (MLP). Sendo que as MCP relacionam-se mais com a operacionalização de raciocínios imediatos (João, 2010), são às MLP que sistematicamente se recorre para enquadrar as cognições, comportamentos valorativos e atitudes. Esses valores éticos e culturais contribuem para a definição de identidade. Apesar da MCP operacionalizar a prática identitária dos indivíduos, será a MLP que mais a define.

Retrato da Memória - David Szauder
 
Já se referiu que as sociedades pós-modernistas, ou hipermodernas como refere Lipovestky (2010), são profundamente individualistas. Se a identidade coletiva só existe na individualidade dos sujeitos (Cuche, 2006) então dificilmente teremos identidades coletivas unitárias. Entramos na “multi-identidade”, própria das sociedades livres, pois aí, ao contrário dos totalitarismos culturais, cada indivíduo tem considerável liberdade de associação identitária a grupos reais ou mais ou menos imaginários. No entanto, o fator de influência do meio continua a ser relevante e de não descurar. Apesar do individualismo, de modo algum ficam em causa os processos coletivos de identificação ou a identidade coletiva. Ocorrem tanto ou mais, mas agora desenvolvem-se em liberdade, pois são os indivíduos que os escolhem e assumem, pelo menos na parte em que são livres de o fazer. A definição de identidade individual complica-se ainda mais se considerarmos que cada indivíduo assume vários papéis sociais na sua vida, muitos em simultâneo também. Assume várias identidades. A estruturação das identidades coletivas, cada vez mais voláteis, liga-se assim às mutabilidades das sociedades humanas.

Esta dificuldade de definição de identidades no mundo globalizado leva a que sejam os próprios indivíduos a querer olhar para o passado, para a memória (histórica ou mítica) como modo de encontrar identificações pessoais, para garantir algum tipo de sentimento de pertença coletiva (Rodrigues, s.d.). Assim procura-se a tangibilidade trazida pelo património, que pode ser material ou imaterial. Essa necessidade pode recorrer mais à memória coletiva, que é menos estruturada, mítica e não localizada com precisão temporalmente, ou a uma visão mais estruturalista e científica da história (Le Goff, 1984). Esta distinção técnica pode não ser consciente por parte dos indivíduos. Na era da liberalização da informação e do poder de comunicação dos Media, a informação tende a ser produto de consumo, sendo que cada indivíduo será sujeito a essa análise, mesmo que inconscientemente. Essa liberdade contrasta com a ação tradicional dos Estados-Nação, tão ávidos de garantir a coesão social e étnica dos seus espaços territoriais pro razões políticas. Hoje são os próprios indivíduos a reconstituirem as suas árvores genealógicas, arquivarem as suas fotografias e outros registos.

Assim, os conceitos de memória coletiva e individual estão estritamente ligados, pois dificilmente existirá um sem o outro, apesar de todas as forças uniformizadoras exógenas aos indivíduos. As identidades resultam de ambas as memórias, apesar de se puder considerar que, mais que nunca, os próprios indivíduos têm a necessidade em se identificarem a si e aos grupos a que pertencem, também eles de limites difusos e mutáveis.

Algumas referências bibliográficas
  • CUCHE, Denys - A noção de cultura nas ciências sociais, Lisboa: Fim de Século, 2006.
  • JOÃO, Maria Isabel - Memória, História e Educação. Noroeste. Revista de História, 1, Braga: Universidade do Minho, 2005.
  • LACROIX, Michel - O Princípio de Noé ou a ética da salvaguarda, Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
  • LE GOFF, Jacques - Memória. In Enciclopédia Einaudi. vol. 1, Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1984.
  • LIPOVETSKY, Gilles - Os tempos Hipermodernos. Lisboa: Edições 70, 2013.
  • RODRIGUES, Donizete - Património cultural, Memória social e Identidade: uma abordagem antropológica.

domingo, 8 de novembro de 2015

Como as placas tectónicas definem a vida na Terra


Mont sainte victoire - Cezanne

Quando se fala em placas tectónicas surgem sempre os sismos e terramotos, maremotos e todos os efeitos nefastos que provocam para a vida humana. Mas, provavelmente, sem o movimento dessas placas, devido ao núcleo geologicamente ativo, não haveria vida humana na Terra. Podia até haver outro tipo ou forma de vida, mas como a nossa seria pouco provável.

Sem o movimento das placas tectónicas não haveria montanhas. Sem elas, que estão em constante crescimento, já o planeta teria sido erodido, nada faria barreira aos ventos e toda a superfície estaria coberta por água. O clima seria completamente diferente, sem a variedade que conhecemos e condições propícias ao tipo de vida que hoje existe. Estes são só alguns dos efeitos, há muitos mais.

Os terramotos podem ser destrutivos, mas é dessa actividade geológica do planeta que a vida nasce, morre e se reinventa em novas e adaptadas formas.
 
Algumas referências para saber mais sobre placas tectónicas:
http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/onde_sismo.HTML

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A importância histórica dos documentos e arquivos comuns

Livros e papeis numa mesa - Catherine M. Wood
Tal como refere Françoise Choay, existe uma crescente pressão para a patrimonialização de objetos e tradições. Já Michel Lacroix vai mas longe, diz mesmo que tudo pode ser património.

De facto, segundo as correntes da Nova História, especialmente da escola francesa dos Analles, aprofunda-se o interesse pela história da vida quotidiana, ou até mesmo “coisas banais” como ensaiou Daniel Roche. Assim, se a historiografia pode se dedicar a todos os temas históricos, sendo para isso necessário considerar todos os documentos e fontes, por mais comuns e não patrimoniais que possam parecer, ou seja, por não constituírem um objeto artístico, raro ou antigo. O conceito de património é assim também colocado em causa, uma vez que se liga àquilo que será capaz de invocar da memória e conhecimento do passado, isto para além do monumento comemorativo clássico.

Deste modo qualquer documento pode ser um valioso património de importância histórica, mesmo que contenha imprecisões ou erros de descrição histórica. Através da sua análise, veracidades à parte, tanto intencionais como involuntárias, poderá sempre ajudar-se a recriar informações historicamente relevantes, nem que seja o facto de reforçar teses de falseamento de determinadas realidades. Isso obriga a que as bibliotecas e arquivos sejam enquadrados na mesma escala valorativo historiográfico, sendo que pela sua dimensão ganham ainda mais importância e potencial patrimonial.

Referências Bibliográficas:

  • Choay, Françoise - A Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, 2010.
  • Lacroix, Michel - O Princípio de Noé ou a ética da salvaguarda. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
  • Roche, Daniel – História das coisas Banais. Lisboa: Teorema, 1998.

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