Quando imaginamos os nossos antepassados, as primeiras espécies Homo – aquelas com nomes difíceis de decorar e a lembrar de aspeto simiesco -, e pesamos nos seus modos de subsistência vem-nos à memória, de imediato, a caça/recoleção. Mas, se nos centrarmos na aurora das primeiras espécies nossas antecessoras, quando a tecnologia que tinham e dominava eram os próprios primeiros exemplos de tecnologia, não será difícil admitir que caçar seria difícil. As espécies Homo não tinham presas, mandibulas, garras ou outras valências biológica que fizerem deles caçadores naturais, para o serem teriam de recorrer à tecnologia.
Homo Erectus - Zdenek Burian |
As primeiras realizações tecnológicas – a primeira tecnologia -, sendo que tudo tem um princípio e se desenvolve inicialmente de algo simples, não passavam de pedras toscamente talhadas que poderiam ser usadas para o corte, a precursão e o raspar. Ou seja, seria muito difícil, ou até impossível, caçar com essas ferramentas. Mesmo com o melhor dos bifaces ninguém conseguiria caçar um herbívoro de médio ou grande porte, ou outro animal mais pequeno que era tendencialmente mais rápido. Há que notar que não existiam ainda lanças, arcos, flechas ou fundas que permitissem caçar à distância. Ou seja, a carne que os primeiros Homos poderiam aceder era, quase com toda a certeza, a proveniente da recoleção. Tal como recolhiam frutos, bagas e raízes das espécies vegetais recolhiam também a carne de animais feridos ou mortos. Logo, há grandes probabilidades, já para não dizer certeza, que os antepassados da espécie Humana seriam necrófagos. Só depois com o desenvolvimento tecnológico foi possível caçar de facto animais vivos.
Foi essa capacidade, de retirar o máximo sustento do meio que contribuiu para o evoluir das espécies de hominídeos, incluindo a nossa: o homo sapiens. No entanto, essa capacidade de aproveitamento, quando levada ao extremo – e os casos ao longo da nossa história (escrita e não escrita) foram muitos, veja-se por exemplo as alterações ambientais na Ilha de Páscoa e em maior escala na Austrália – tem impactos negativos na biodiversidade, no próprio ambiente e, agora, até no próprio clima. De um ponto de vista muito pessimista, poderemos dizer que a Humanidade de hoje está, em parte, a ser necrófaga, pois se continuarmos a descuidar do planeta, poderemos estar a alimentarmo-nos de um moribundo, morrendo nós com ele [o planeta terra].
Referências Bibliográficas:
- Cardoso, João Luís. "Pré-História de Portugal". Lisboa, Universidade Aberta, 2007.
- Solar, David e Villalba Javier. "História da Humanidade - A Pré-História". Barcelona, Editorial Oceano, 2005.
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