Sempre que começa o Inverno, ou por vezes até o Outono, começam-se a acender em muitos dos lares portugueses lareiras. Por essa altura é comum também surgirem conversas, mais ou menos informais sobre essas mesmas lareiras, sedo já uma constatação habitual a noção generalizada de que: as lareiras de antigamente fumavam melhor, hoje constrói-se cada vez pior!”. Nada poderia ser mais falso!
Tempestade de Neve - William Turner |
O senso comum leva, obviamente, a associar o problema de escoamento do fumo das atuais lareiras para o exterior dos edifícios à sua própria construção – da lareiras é claro. A associação é normal, no entanto o problema não é das lareiras em si, o problema é do edifício. Mais concretamente, o problema relaciona-se com a falta de ventilação natural dos edifícios de construção contemporânea, que advém da maior estanquidade e isolamentos dos materiais e técnicas construtivas que hoje se utilizam. Ou seja, o problema do fumo surgiu depois de se resolver o problema do mau isolamento dos edifícios mais antigos. Nos edifícios de construção mais antiga, porque tinham tantas frinchas e espaços vazios por onde entrava ar vindo de fora e devido à convecção, o ar-circulava naturalmente de dentro para fora e vice-versa. O ar ao longo dos edifícios, por razões de convexão, circula: entrando ar frio do exterior e saia o mesmo ar depois de aquecido pela chaminé. Ou seja, antigamente: criava-se ventilação natural direccionada que forçava o fumo a sair pela chaminé. Este fenómeno era tanto mais acentuado quando maior fosse o vento. Esses fenómenos podem ser chamados de "efeito de chaminé".
Apesar do isolamento dos edifícios ser benéfico do ponto de vista energético, mesmo que fumem mal as chaminés, isso fará com que tenhamos menos ventilação natural e que as renovações de ar possam não ser as suficientes para dispersar alguns maus odores e até gases nocivos e perigosos para a nossa saúde que se formam dentro dos edifícios.
Curiosamente, se pretendermos que as nossas chaminés de construção recente “fumem” melhor há que instalar sistemas de ventilação mecânica ou então deixar de isolar tantos as casas. Qualquer uma das soluções traz acrescimentos de consumo energético para manter uma determinada temperatura. Resta saber se a degradação do Ambiente – associada aos crescentes consumos energéticos e emissões poluentes correspondentes - vale mais que um ambiente interior com alguns gases perigosos e o desagradável e visível fumo?
Ficam as seguintes opções:
• Acender a lareira, passar algum frio, não isolar a casa e deixar a chaminé "fumar bem";
• Acender a lareira, evitar o frio, isolar a casa e ficar com fumo no interior e outros gases nocivos;
• Acender a lareira, evitar o frio, insolar a casa e gastar energia a ventilar o fumo e outros gases perigosos para fora;
• Acender a lareira com um recuperador de calor (que custará mais dinheiro e nos "afastará mais da chama"), evitar o frio e insolar a casa, sem esquecer outros gases perigosos;
• Não acender lareira, isolar a casa, usar outras técnicas e fontes de calor (que tendencialmente gastam mais energia) e evitar o fumo, mas alguns gases perigosos ficam sempre lá.
Bem, confuso e complexo, até porque a solução ótima obriga a uns quantos cálculos e escolhas pessoais ou dependentes dos contextos… não obstante de habitualmente ser a última opção a melhor. No fundo, interessa é mesmo isolar a casa quanto baste (por exemplo, reguladores em fachadas e caixilharias que permitem controlar a entrada de ar) para garantir alguma ventilação natura para dispersar gases nocivos. Já a fonte de aquecimento depende, por outro lado, de quanto estamos dispostos gastar com isso. Mas uma lareira é sempre uma lareira, afetivamente e emocionalmente as sensações que liberta são outras.
Será que, pensando em todo o trabalho e questões que levanta, vale sequer iniciar uma conversa sobre como fuma uma chaminé?
Nota: para mais informações sobre ventilação natural de edifícios fica a seguinte sugestão: "Ventilação Natural de Edifícios de Habitação" da autoria de João Carlos Viegas, numa edição do LNEC de 2002.
Penso que a opção de criar ventilação mecânica é a melhor tal como se faz nas instalações sanitárias!!!
ResponderEliminarbom artigo!
Não concordo em quase nada com o que foi dito.
ResponderEliminarUma lareira bem instalada deve possuir admissão de ar exterior.
O problema em 90% dos casos é apenas sub-dimensão das condutas de fumos, ou chaminés mal executadas que não cumprem nem os regulamentos (RGEU) do ano 1954.
Em relação à ventilação mecânica, é de todo impensável.
Mesmo com recuperadores de calor os problemas são os mesmos, e já agora.. não afastam a chama e até há com porta de embutir que pode ficar aberta sem ser notada...
Etc...
Simplesmente, por mais complexas que possam ser os sistemas das atuais lareiras, a simplicidade das ventilações de ar naturais que aconteciam nas construções antigas faziam aumentar a velocidade do escoamento do fumo. Como o escoamento depende da secção (área) e da velocidade, mesmo com secções maiores (cumprindo 2 ou 3 vezes os regulamentos)sem velocidade do ar ascendente não há chaminé que "fume bem".
ResponderEliminar