Pegando num livro, quase por acaso, dedicado a cosmologia, centrado no tempo e em explicações com base num universo entrópico e ligado aos sistemas irreversíveis, próprios da termodinâmica, encontro algo que ensaia uma explicação simples para a diferença entre ciências sociais e naturais. Aliás, essa referência vai mais longe, e serve para explicar o afastamento entre disciplinas e até as apetências e gostos que podemos (ou nos fazem) ter por determinados assuntos.
O livro em causa é o “Nascimento do Tempo” de Llya Prigogine. No início desse ensaio o autor usa a dimensão histórica para distinguir as ciências sociais das ciências naturais (ou ditas exatas). Ou seja, as ciências sociais são completamente dependentes e imersas em realidades históricas: estudam objectos que têm sempre uma dimensão histórica. Imaginemos, por exemplo, a sociologia, que ao estudar uma sociedade não pode descurar que essa sociedade existe num momento histórico próprio que a define, ou então a psicologia, em que um perfil psicológico corresponde a um indivíduo historicamente existente, que é sempre produto do seu tempo. Por outro lado, as ciências exatas e as mais abstractas, como a Matemática, podem viver (supostamente) fora da dimensão histórica no que toca aos seus objectos de estudo. Podem ser tão abstractas que dispensam esse enquadramento ou envolvente. Embora isto não seja de facto assim na acumulação de saber, pois desenvolver estudos, seja qual for a disciplina, faz-se sempre uma recolha histórica de saber (ver "Um investigador é sempre um Historiador"). O conhecimento disciplinar pode ser visto como um acumular histórico desse conhecimento de especialidade, logo é quase impossível escapar à história de um ponto de vista epistemológico. No entanto, o objeto pode estar mais ou menos afastado das dimensões históricas, ainda que seja difícil o completo afastamento, mesmo para a matemática, tendo em conta que, tal como se disse anteriormente, existe sempre inerente a história da própria matemática quando a praticamos.
Mesmo que possa ser uma realidade relativa, esta simples dimensão que separa as duas grandes áreas científicas pode contribuir para explicar o afastamento disciplinar entre as duas áreas. No fundo, apesar de todas as diferenças, o que as separa é a história. Talvez seja por isso que os estudantes das áreas científicas naturais e exatas tenham alguma tendência para o distanciamento face à história, e vice-versa para as ciências sociais.
Provavelmente a verdadeira multidisciplinariedade e cruzamento de saberes, cada vez mais valorizados em simultâneo com a especialização, só acontecerá quando se conseguir ligar a ciência no seu todo através da história, e não usar a história como meio de separação.
Os Amantes - Magritte |
O livro em causa é o “Nascimento do Tempo” de Llya Prigogine. No início desse ensaio o autor usa a dimensão histórica para distinguir as ciências sociais das ciências naturais (ou ditas exatas). Ou seja, as ciências sociais são completamente dependentes e imersas em realidades históricas: estudam objectos que têm sempre uma dimensão histórica. Imaginemos, por exemplo, a sociologia, que ao estudar uma sociedade não pode descurar que essa sociedade existe num momento histórico próprio que a define, ou então a psicologia, em que um perfil psicológico corresponde a um indivíduo historicamente existente, que é sempre produto do seu tempo. Por outro lado, as ciências exatas e as mais abstractas, como a Matemática, podem viver (supostamente) fora da dimensão histórica no que toca aos seus objectos de estudo. Podem ser tão abstractas que dispensam esse enquadramento ou envolvente. Embora isto não seja de facto assim na acumulação de saber, pois desenvolver estudos, seja qual for a disciplina, faz-se sempre uma recolha histórica de saber (ver "Um investigador é sempre um Historiador"). O conhecimento disciplinar pode ser visto como um acumular histórico desse conhecimento de especialidade, logo é quase impossível escapar à história de um ponto de vista epistemológico. No entanto, o objeto pode estar mais ou menos afastado das dimensões históricas, ainda que seja difícil o completo afastamento, mesmo para a matemática, tendo em conta que, tal como se disse anteriormente, existe sempre inerente a história da própria matemática quando a praticamos.
Mesmo que possa ser uma realidade relativa, esta simples dimensão que separa as duas grandes áreas científicas pode contribuir para explicar o afastamento disciplinar entre as duas áreas. No fundo, apesar de todas as diferenças, o que as separa é a história. Talvez seja por isso que os estudantes das áreas científicas naturais e exatas tenham alguma tendência para o distanciamento face à história, e vice-versa para as ciências sociais.
Provavelmente a verdadeira multidisciplinariedade e cruzamento de saberes, cada vez mais valorizados em simultâneo com a especialização, só acontecerá quando se conseguir ligar a ciência no seu todo através da história, e não usar a história como meio de separação.
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