Ao ler o texto de José Carlos da Conceição Coelho sobre a análise da filosofa Hannah Arendt somos levados a interpretar a memória do ponto de vista da justiça. Gera-se uma dicotomia entre perdão e punição que se ligam à memória, ambos com efeitos potencialmente catársicos.
O Regresso do Filho Pródigo - Rembrandt |
A memória de um determinado ato pode gerar perdão ou punição, quer seja pelo indivíduo ou pelas instituições de justiça que o representam nas sociedades. O perdão ou castigo têm, em potência, a dupla função de renovar e permitir um novo começo, mas também de reforçar a recordação do passado e ato cometido. Essa recordação permitirá a mudança de comportamento, pelo menos na sua forma idealizada. O castigo pode ser mais severo e simplesmente impedir que o ato seja novamente cometido. Mas em muitas formas de punição há o efeito de redenção que opera sobre e através da lembrança. O mesmo acontece para o perdão. Ambos operam sobre as emoções criando marcos de vida que podem gerar mudanças de comportamento e reabilitações.
A punição poderá gerar um momento tão marcante que faça o indivíduo não querer voltar a repetir o ato para não repetir as consequências que sofreu. O perdão pode ser igualmente marcante por relevar uma capacidade de esperança e valorização do indivíduo perdoado, de que vale a pena esse investimento e aposta. Ambas as vertentes só podem ser concretizadas através da preservação e valorização da memória.
Referência bibliográfica
COELHO, José Carlos. As raízes terrenas do perdão em Hannah Arendt. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2011.
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