domingo, 11 de dezembro de 2011

Filme “Sem tempo” – onde literalmente o tempo é dinheiro

Assim que vi o trailer do filme “Sem tempo” (ou “in time” no original) fiquei logo de curiosidade aguçada, pois, pelo que demonstravam as imagens, estava-se perante uma ficção social que, a ser bem feita, poderia ser uma experiência cinematográfica muito interessante – daquelas que nos fazem refletir durante e após o fim do filme.

Analisando o filme pelo desempenho dos atores, pela fotografia, guarda-roupa, encadeamento da acção e afins, mesmo com alguns apontamentos bastante interessantes, nada sobressai espetacularmente. Na sequência da ação e do drama até diria que existem algumas partes desconexas. Falta alguma coerência e ligação entre os vários momentos do filme para dar mais coerência a esta ficção. Apesar disso, ultimamente Justin Timberlake começa a esboçar contornos de um artista à moda antiga, um quase humanista que toca várias artes.
Mas agora aquilo que me fez gastar um “post” aqui no blogue com este filme. A ficção social, a sociedade criada para dar o ambiente social ao filme é das mais originais que se têm visto no cinema para o grande público nos últimos anos. Os autores conseguiram, sem recursos a grandes efeitos especiais ou tecnologia, recriar uma sociedade completamente diferente, num futuro desconhecido e estranho, mas que muito nos faz refletir sobre o mundo de hoje e até sobre a intemporal condição humana. Numa altura em que o jargão “crise económica” está na ordem do dia, este filme apresenta um futuro sem dinheiro, onde o tempo é, literalmente, o dinheiro. O que é delicioso - embora "agridoce" -nesta obra é a forma como foi reinventada a noção de tempo e a sua influência nas vidas e sociedades Humanas.
Para melhor enquadramento, sem com isso querer estragar a história e o prazer de assistir a este filme, é adequado fazer aqui uma pequena referência a essa sociedade ficcional criada. Imagine-se – tal como imaginaram os autores – uma sociedade onde toda a humanidade tinha sido geneticamente modificada para parar de envelhecer aos 25 anos de idade, ou seja, todos teriam acesso à imortalidade com o aspeto e vitalidade dos 25. No entanto, a partir dos 25 um relógio biológico introduzido com a alteração genética inicia uma contagem decrescente que marca o fim da dita imortalidade. Ou seja, a imortalidade tinha data marcada, com um tempo a esgotar-se constantemente. Mas esse tempo poderia ser aumentado ou diminuído por transferências. É ai que entra o dinheiro, com o tempo de cada a um a transformar-se no seu dinheiro, isto num vínculo muito pessoal do qual dependia a sua própria vida. Então neste novo mundo o tempo ganha uma nova dimensão comercial. Para viver mais seria preciso ganhar tempo, trabalhando, fazendo comércio e afins, ou simplesmente roubando. Tudo se pagava e comprava com o tempo que cada um transportava consigo no seu “relógio”. Quando o tempo se esgotasse, no relógio de cada, um simplesmente o fim chegava, vinha uma morte inevitável programada geneticamente. Assim, viviam somente – pelo menos em teoria – os que faziam por merecer

Dá então para imaginar quais as consequências desta ficcional da oportunidade de poder ser imortal. Mas seira este modelo justo, quem viveria mais tempo ou mesmo atingisse a imortalidade era quem merecia de facto? No filme fica evidente que isso estava reservado penas aos mais ricos (em tempo). A própria posse do tempo influenciava o modo como o seu portador o via e dependia: “para quê correr quanto temos todo o tempo do mundo”. Os pobres, por outro lado, passavam a vida a correr tentando aproveitar todos os minutos e segundos de uma vida insegura e incerta – apesar do seu aspeto exterior. O paralelismo com a vida de hoje é evidente: as classes mais desfavorecidas trabalham para viver cada dia, enquanto que as mais privilegiadas criam novas necessidades e ocupações para gastar o seu tempo.

A condição humana – ainda que isso seja uma coisa difícil de definir – é tão colocada em causa no filme que as reflexões que dele podemos retirar são imensas. O facto de ninguém envelhecer para além dos 25 anos acabava com as diversidades etárias sociais: todos tinham a mesma aparência, independentemente da experiência de vida que tinham. Não havia distinção de aspeto etário entre pais, filhos e avós; todos se assemelhavam se conseguissem continuar a ter tempo de vida. Seria suportável viver numa sociedade destas? Apesar dessa possibilidade - ainda que apenas muito ténue na atualidade -, hoje muitos tentam evitar a sua idade, apesar de todas implicações e relações sociais que dai dependem e resultam.

No próprio filme é referido, por uma das personagens com mais tempo da “alta finança do tempo”, que esta sua sociedade “assentava nos princípios do evolucionismo darwinista capitalista, pela sobrevivência dos mais fortes e aptos”, daqueles que tinham mais tempo. Apesar de tudo, se calhar, viver para sempre, ser jovem para sempre, ainda por cima quando isso não está ao alcance de todos, pode não ser assim tão bom e lá grande evolução

2 comentários:

  1. Tomo este post como uma sugestão. Para ir ver. E agradeço essa sugestão.

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  2. Eu é que agradeço pela disponibilidade para ler estas minhas palavras. Apesar de algumas lacunas que impedem que esteja sejam um grande grande filmes, a originalidade do ambiente social e questões que levanta tornam obrigatório na minha opinião.

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