terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As vantagens e virtudes da mediocridade

Estava eu a desfolhar uma revista Super Interessante (SP) à toa e dou por mim a ler um artigo sobre os antagonismos: genialidade e mediocridade. Até aqui tudo normal, ninguém duvida que os termos são opostos e têm significados que servem para caracterizar eventos ou realizações radicalmente diferentes. Podem até ser, cada um dos termos respectivamente, sinónimos por associação de bom e mau. No entanto, no artigo intitulado de “O ataque dos Medíocres” da edição portuguesa de Março de 2011, da anteriormente citada revista, são explorados e explanados tanto os aspectos negativos como positivos, especialmente as vantagens sociais, tantos dos medíocres como dos génios.
Decalcomania - René Magritte
Diz-nos o senso comum, independentemente dessa excelente ferramenta do juízo imediato ser genial ou medíocre, que um génio traz vantagens para uma determinada sociedade na mesma medida em que pode trazer também alguns problemas. Se a inovação, a capacidade de ir além dos limites do comum nos fazem evoluir, e até poderem ser as características que nos tenham tornado uma espécie de sucesso, para além disso existe  também o lado negro da genialidade. Uma sociedade humana precisa igualmente de estabilidade, de ordem, de membros que desempenhem funções mais corriqueiras – mais igualmente importantes -, e até uma certa capacidade de obediência, a bem da  necessária coesão social. Estes pretensos defeitos  e incapacidades da genialidade podem ser então as virtudes da mediocridade. Penso ser aqui que reside o especial interesse do artigo que serviu de base ao presente texto, pois é pouco habitual falar nas “virtudes da mediocridade”.
Como se refere no artigo da SP, os medíocres são extremamente úteis socialmente: garantem a estabilidade; são obedientes e manipuláveis; aceitam e são felizes realizando trabalhos menos complexos e criativos, e mais repetitivos; apreciam a rotina. No entanto, tal como é citado no artigo em causa, a mediocridade pode-se manifestar em três níveis distintos. Luís de Rivera, catedrático de psiquiatria, faz essa distinção:

  • 1º Nível a mediocridade comum - falta de originalidade e hiper-adaptação.
  • 2º Nível a mediocridade pseudo-criativa - semelhante à primeira com o acréscimo pernicioso da imitação dos processos criativos, numa relação com a necessidade de ostentação e indiferenciação do belo e do feio, do bom e do mau.
  • 3º Nível a mediocridade inoperante activa (já numa forma de patologia) – resulta em práticas de assédio enquanto que os anteriores níveis têm, de um modo geral, apenas a incapacidade de reconhecer e identificar a genialidade; estes indivíduos não são produtivos nem criativos, mas possuem um enorme desejo de notoriedade e influência.
Assim, tendo em conta o que se disse anteriormente, e ao fazermos uma breve análise superficial sobre a história da humanidade, parece que quase sempre existiu uma contínua disputa entre génio e medíocres. Parece que, independentemente dos conflitos armados, muitos foram os conflitos entre os inovadores e desalinhados e os ordeiros e “cinzentões”,  ao longo da nossa existência enquanto espécie. No fundo a oposição entre genialidade e mediocridade era muitas vezes a justificação para lutas de poder (relacionamento com a genialidade versus nível de mediocridade inoperante), ainda que esse poder pudesse passar por coisas tão variadas como os hábitos, os costumes, os modos de organização social e até visões do mundo.
Neste caso, como em muitos outros, parece que no meio-termo é que estará a virtude e o caminho para uma sociedade coesa, harmoniosa e com capacidade de progresso, isto porque numa sociedade complexa há sempre muitos papeis a desempenhar pelos vários actores sociais. Penso que com esta afirmação me posso classificar, como dizia no artigo o professor Luís Rivera, como um medíocre pseudo-criativo, pois se analisarmos bem esta afirmação (e até todo o texto) bem que a podemos considerar um plágio que nada traz de novo.

2 comentários:

  1. Penso ser necessária a presença de uma sociedade relativamente pluralista no nível intelectual. Diversos atores sociais proporcionam certo equilíbrio. A coesão não deve ser sinônimo de progresso. Ainda que defenda esse “pluralismo social”, não creio na mediocridade extrema como um fator indispensável: deve-se atenuar essa disparidade intelectual.

    Uma sociedade não deve ser composta unicamente de gênios. Entretanto, ocorre que quanto menos massa manipulável e quanto mais originalidade, melhor. Acredito que o nível de genialidade/mediocridade é findado ao longo da existência do indivíduo. Tendo em vista essa premissa um tanto quanto existencialista, mecanismos devem ser oferecidos para diminuir, em todos os setores, a mediocridade da sociedade.

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  2. Não seria uma sociedade de gênios capaz de se socializar sem nenhuma necessidade dos medíocres? Ou a genialidade é fragmentada e fragmentária? Então não existe sabedoria na genialidade?

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