Ontem tive o enorme prazer de ter assistido a uma conferência intitulada de «Da monarquia à Republica» em que o principal orador foi o professor Amadeu Carvalho Homem - catedrático de história da Universidade de Coimbra.
As promessas - José Malhoa |
Nessa sua intervenção o professor descreveu e relatou os eventos que desde o século XVIII até ao inicio do século XX levaram e culminaram na primeira república em Portugal. Ao longo das suas várias intervenções, para além dos preciosos conhecimentos que partilhava, o professor deixou-nos a seguinte ideia: "Portugal teve apenas duas repúblicas e não três". Fundamentou esta sua tese argumentando que o Estado Novo não deveria ser considerado como uma verdadeira república, pois de república só tinha o nome porque os ideais republicanos nunca foram verdadeiramente praticados pelo regime salazarista. Disse mais ou menos o seguinte: “o Estado Novo de república só tinha os selos e a moedas, só ai é que a república se via e aparecia”.
Que o regime tinha sido anti-democrático é uma ideia que nada surpreende, mas de que não se tratava de uma verdadeira república, na minha modesta opinião, já surpreende – pelo menos aparentemente. No entanto se analisarmos os princípios pelos quais se regem os ideais republicanos – Igualdade, fraternidade e liberdade – dificilmente os encontramos no Estado Novo. A liberdade não existia pois tratava-se de um regime totalitário e autoritário, pois até o sufrágio universal era um embuste. A igualdade também era inexistente pois os cidadãos não detinham os mesmos direitos nem eram considerados pelo Estado de igual modo nas suas vontades e aspirações. A fraternidade também pouco era defendida pelo Estado pois tal não pode existir pela imposição ou força e não havia a preocupação em fomentar a fraternidade pela educação e pelos serviços de um modo universal que promoverem a cidadania activa – ainda hoje sentimos os reflexos da falta de cidadania e envolvimento cívico dos cidadãos.
Assim, confesso que fiquei rendido a esta tese do professor A. C. Homem - acho que não erramos quando dizemos que tivemos apenas duas republicas em Portugal, porque mesmo que não sendo perfeitas, a de 1910 e a de 1974 pelo menos tentaram implementar os ideais republicanos enquanto que a de 1933 os esqueceu e de republica teve apenas o nome.
Assim, confesso que fiquei rendido a esta tese do professor A. C. Homem - acho que não erramos quando dizemos que tivemos apenas duas republicas em Portugal, porque mesmo que não sendo perfeitas, a de 1910 e a de 1974 pelo menos tentaram implementar os ideais republicanos enquanto que a de 1933 os esqueceu e de republica teve apenas o nome.
Depois, de uma leitura atenta ao texto,leva-nos a considerar a ideia, de que Portugal tenha tido duas repúblicas. Acho que a mesma está bem fundamentada.
ResponderEliminarPortugal teve dúzias de repúblicas
ResponderEliminaras repúblicas populares de 1910 e 1974
as repúblicas da guarda nacional republicana de 1911 e 1929
as repúblicas em revolução de 1910 a 1926 pequenos momentos das repúblicas do caos
as repúblicas da crise 1913, 1915,1918, 1919, 1983
as repúblicas de Soares e Sidónio
tanta república cada uma única
cada uma tão semelhante às outras
33 foi uma república como as outras
mais pesada e castradora...mas sem um rei bem definido
Sim, claro, se quisermos podemos subdividir os regimes republicanos em muitas "repúblicas".
ResponderEliminarNo entanto, formalmente existem só 3, quanto a isso não há qualquer dúvida. No entanto, aqui o texto refere-se aos valores e ideias pelos quais se define uma república e aí, bem, a 2ª republica - o Estado Novo) só existiu nas moedas e selos.
EliminarMicael, Carvalho Homem foi meu professor há muitos muitos anos,sendo dos tais que nos obrigavam a pensar ...Aprendi muito com ele e claro que sempre ensinei aos meus alunos que vivemos na 2ª República :)
Do mesmo modo, chamar à 1ª República um reflexo dos ideais de fraternidade, igualdade e liberdade é no mínimo cómico! A história reza 3 repúblicas, serão 3 nos livros, duas na consciência? Talvez! Afinal dos vitoriosos reza a história! Para a nossa geração serão sempre 3! No futuro os livros podem falar em duas, três, quatro... É uma leitura interessante do fenómeno! Como tenho vindo aqui a afirmar, o Estado Novo ainda vai fazer correr muita tinta na história nacional, e novas perspectivas e análises vão surgir, cada uma com o seu pano de fundo! Vale a pena aguardar!
ResponderEliminarEdgar B.
A 1ª republica foi instável, conturbada e por vezes até mesmo caótica - temos de atender ao contexto histórico e perceber o porquê de tais acontecimentos. No entanto, algo que jamais se poderá acusar a 1ª república é de não ter tentado implementar os ideais republicados e de os defender.
ResponderEliminarTentar não é conseguir! Se não consegues não podes declarar que algo como a 1ª República se baseou nos ideias republicanos que proclama! Foi caracterizada por um caos e estado de guerra civil/fria! O problema foi a anarquia que se instalou! A primeira foi uma anarquia, a segunda foi uma ditadura e a terceira... vai sendo algo próximo de uma "democracia social de cariz capitalista"... tudo depende do que definimos como igualdade, liberdade e fraternidade.
ResponderEliminarEdgar B.
Os tempos foram tumultuosos nacional e internacionalmente. E como sabemos a republica foi implementada através de uma revolução que não foi pacifica e só se propiciou tal mudança devido a um grande mau estar e ingocernabilidade que vinha da monarquia constitucional.
ResponderEliminarA 1ªa republica foi mais do uma tentativa das ideais, foram concretizações tais como: a generalização da educação (num país com 3/4 de analfabetos; a igualdade de oportunidades acabando com a hereditariedade de títulos e posições; a laicidade e liberdade religiosa; entre outras.
Mas com os próprios republicanos sabiam o país não estava preparado para tamanhas liberdades e responsabilidades cívicas. Bem que tentaram aumentar a alfabetização e a literacia da população mas tal não foi suficiente para evitar as violações e perda dos valores republicanos nos governos do final da primeira república que culminaram com a ditadura do Estado Novo.
O professor catedrático de história da Universidade de Coimbra, Amadeu Carvalho Homem, tem razão quando diz que Portugal teve apenas duas Repúblicas.
ResponderEliminarNão mencionando as outras pequenas Repúblicas, somente a monárquica e a republicana.
O Estado Novo não deve mesmo ser considerado como uma república, só tinha "nome", devido a selos e a moedas. Muito bem dito!
Ora, o Estado Novo de Salazar, trouxe duas décadas de atraso económico, ainda hoje estamos a sentir os "golpes" de todas as reacções, de todos os lados. Morrendo a pouco e pouco, não deixando a nação mais confiante, os nossos mercados mais prósperos, a nossa sociedade mais vigorosa, mais forte, mais sólida para que pudéssemos estar no topo, ao lado das outras nações robustas.
Temos o período de 1850 a 1910, com um investimento muito lento, não oferecendo condições à economia, tínhamos as infra-estruturas muito debilitadas. Claro, nunca conseguimos acompanhar as outras nações europeias, que por sinal estavam e estão mais adiantadas.
Portugal só tinha uma forte concentração na agricultura, hoje já nem isso temos! Uma burguesia dependente das importações, hoje continuamos a estar dependentes das outras nações, sem nenhuma solução no que toca ao sector financeiro, e por último o nosso sector industrial muito débil. Hoje pouco ou nada se sabe gerir estes sectores, hoje sofremos com má gestão financeira, má gestão no diagnóstico sobre o estado actual de Portugal.
Temos bons gestores, bons economistas, e continuamos a nos afundar?
O maior problema financeiro de que se debate constantemente é sobretudo no nível de despesa do Estado. Tínhamos somente alguma capacidade tecnológica e, somente 10% de uma taxa real de investimento, ora não tínhamos outra forma de continuar, senão ir a recursos de capitais estrangeiros.
Não me venham dizer que hoje estamos assim devido à crise global que atravessamos. Então porque se insiste ainda no TGV, porque houve negociações dos submarinos, estamos por porventura a nos preparar para alguma guerra!!!
A classe média acabou, e só estamos com a classe dos muito ricos e com a classe dos muito pobres. Vejam o seguinte: a classe média, é a classe que dá produção a qualquer país, não é uma classe rica, mas a produtividade do arranque para um país digno de o ser, está sempre nas mãos da classe média. É ela que dá frutos a todos os países.
Lumena
Quanto ao armamento, por mais fútil que possa parecer não o é. Pois o nosso compromisso com a NATO obriga-nos a ter capacidade militar. Estar preparado para a guerra é uma forma de manter a paz, pode parecer idiota, mas na pratica resulta.
ResponderEliminarOutra questão é o investimento público que é necessário para relançar e fortalecer as economias do Estado, veja-se o caso do "New Deal" e os investimentos públicos em guerras por questões económicas e de poder - algo que ainda se passa hoje. Bem, mas isso são outras discussões e temas que não gostaria de aqui tratar - gostaria e certamente o farei noutros textos mais orientados para esses temas e assuntos.
ResponderEliminarFoi uma surpresa quando ontem no programa «prós e contras» ouvi a intervenção do professor Amadeu Carvalho Homem. Novamente defendeu a sua tese das 2 repúblicas.
ResponderEliminarAo falarmos de 1ª, 2ª, 3ª... República, é o mesmo quando falamos de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Dinastias monárquicas. Qual o elemento chave que divide esses momentos históricos? O plano de rutura, ou seja, no caso das monarquias, quando alguém que não tinha ascendência direta com o rei anterior e dava início a um novo reinado de família diferente, iniciava-se uma nova dinastia - logo momentos de rutura. Na república, aoonceteceu algo semelhante e se analisarmos estes factos na perspetiva global e não nas pequenas convulsões que foram acontecendo, ou seja, existem claramente 3 momentos de ruptura para com a ordem estabelecida: 1ª - 1910-1926, 2ª +/- deste período com a instauração do Estado Novo, (pois apesar da ditadura e de tudo que a envolveu, o sistema era o republicano) e finalmente o 3º momento de rutura de 1974 até aos dias de hoje com a instauração do regime democrático (na 1ª república, quer a democracia, quer os ideias de igualdade, fraternidade, etc., não foram propriamente assentes).
ResponderEliminarAssim percebe-se estes 3 momentos de mudanças estruturais no modelo de regime republicano, daí para mim ser a designação de terem existido três repúblicas e não duas a mais correta.
Ao falarmos de 1ª, 2ª, 3ª... República, é o mesmo quando falamos de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Dinastias monárquicas. Qual o elemento chave que divide esses momentos históricos? O plano de rutura, ou seja, no caso das monarquias, quando alguém que não tinha ascendência direta com o rei anterior e dava início a um novo reinado de família diferente, iniciava-se uma nova dinastia - logo momentos de rutura. Na república, aoonceteceu algo semelhante e se analisarmos estes factos na perspetiva global e não nas pequenas convulsões que foram acontecendo, ou seja, existem claramente 3 momentos de ruptura para com a ordem estabelecida: 1ª - 1910-1926, 2ª +/- deste período com a instauração do Estado Novo, (pois apesar da ditadura e de tudo que a envolveu, o sistema era o republicano) e finalmente o 3º momento de rutura de 1974 até aos dias de hoje com a instauração do regime democrático (na 1ª república, quer a democracia, quer os ideias de igualdade, fraternidade, etc., não foram propriamente assentes).
ResponderEliminarAssim percebe-se estes 3 momentos de mudanças estruturais no modelo de regime republicano, daí para mim ser a designação de terem existido três repúblicas e não duas a mais correta.
Percebe-se o arrazoado em que os comentaristas mergulham com vista à legitimidade dos seus pontos de vista a propósito. No entanto,penso que a " coisa" não será assim como dizem. É que afinal, no que toca a regime político, Portugal,de uma forma ou de outra, tem-se assumido, claramente, como republicano e assim tem continuado a república instaurada em 1910, pois que qualquer rei nunca mais se atreveu a exigir como sua a função de chefe de Estado. E é este facto que, de imediato, classifica o país como tal, tenha ou não havido episódios assim ou assado de que alguns gostam de destacar como eventuais indícios para a invenção de diferentes repúblicas.Para quê, pois, falar-se de uma, de duas ou até de três repúblicas? Estamos numa república e dela desfrutamos,ponto.Poderá até ser interessante debater pontos de vista a propósito, mas tal não passará de curioso exercício academista, o que a República com certeza saberá tolerar com um sorriso de condescendência...!
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