terça-feira, 31 de agosto de 2010

'Um cérebro de cada lado': um texto que é mais que uma opinião

Segundo Platão, na sua obra "A República", a opinião, de acordo com a sua própria definição - algo muito próximo do palpite e suposição infundada -, pouca ou nenhuma validade tem quando usada numa discussão ou na transmissão de saber. Isto porque, segundo o filosofo, a opinião é quase sempre insustentada e fruto de emoções e gostos do opinante - nota-se aqui um vislumbre da defesa do empirismo cientifico. No entanto, recorrendo a uma visão mais moderada, penso que nem todas as opiniões estão ao mesmo nível, havendo algumas que devem merecer a nossa atenção. Um exemplo disso é o texto que aqui trago ao blogue. José Luís Pio Abreu, psiquiatra e professor universitário de medicina, autor da obra 'Como tornar-se um doente Mental' brinda-nos com um livro que é um compêndio de artigos de opinião publicados no jornal gratuito 'Destak'. Dessa obra, intitulada de 'Estranho quotidiano', trago aqui um texto que é mais que uma  mera opinião, é uma opinião com fundamentação cientifica - devido a formação académica do autor - e escrita de um modo bastante apelativo. Aqui fica o texto:
Baudelaire, Edgar Poe, Mallarmé e Fernando Pessoa - Júlio Pomar
"Um cérebro de cada lado
Se perguntar o que é que nos distingue dos macacos, pode ficar com esta: nós temos dois cérebros, eles não. Os nossos antepassados símio distinguiram-se dos outros mamíferos por terem os braços independentes das pernas. Nós, para além disso, separámos o lado direito do lado esquerdo. E separámo-los para quê? Para deixar o braço e a mão direitos, bem como a perna e o pé, esculpirem o mundo: pela escrita, desenhos, obras, projectos, regras, teorias ou mesmo pontapés.
Ficámos assim com dois cérebros. O esquerdo – que está ligado ao lado direito do corpo – ficou preenchido pelo mundo. Não necessariamente o mundo que existe ou que mais importa, mas o que construímos na relação com os outros. É feito com palavras, imagens, regras e teorias. Em contraste, o cérebro direito vela por nós: pelas emoções, pela intuição, pelos significados entre si e têm de se entender. Mas podem existir conflitos, a ponto de um dos lados ter de anular o outro.
Nos esquerdinos, os lados estão invertidos sem que ocorram problemas de maior. Mas a existência de grandes confusões entre direita e esquerda não é boa para a saúde mental, pois deixamos de saber quem somos.
As mulheres têm o cérebro menos assimétrico, talvez porque, durante milénios, lhes foram negados os trabalhos externos. Assim, o mundo ocupa-lhe parte do cérebro direito, e as emoções também correm pelo lado esquerdo. Por isso, as mulheres são mais agarradas à terra – à casa, aos filhos. Os homens alternam entre estarem agarrados à terra – às mulheres – e vivem nas nuvens."

Espero que este texto seja um bom cartão de visita para a leitura das obras de J. L. Pio Abreu e um aperitivo capaz de fazer despertar o apetite pela leitura integral dos restantes textos deste 'estranho quotidiano'. O texto 'Um cérebro de cada lado', em primeira instância, e mais do que a utilidade que aqui lhe dou como introdução ao livro,  transmite também uma série de conhecimentos e levanta uma série de questões - capazes de animar uma qualquer discussão - sobre a biologia e psicologia humana, tal como o modo como nos relacionamos. 
Fernando Pessoa - Júlio Pomar
P.S. (Esta constatação de um cérebro bi-partido levanta muitas questões sociais e psicológicas mas fico-me por uma literária: em quantas partes se dividiria o cérebro de Fernando Pessoa?)

2 comentários:

  1. Gostei muito do seu artigo Micael. Sendo licenciada em biologia sempre me fascinou o funcionamento do cérebro. Actualmente ainda sabemos muito pouco sobre o assunto, por isso mesmo, a ciência neste campo vai evoluindo por intuições e opiniões.
    Sempre se disse que o engenho e a criatividade humana estão um passo à frente da ciência. Na minha opinião, se não fosse a opinião e os sonhos de muitos grandes homens e mulheres o nosso conhecimento do mundo não teria avançado como avança nos dias de hoje.
    Um abraço,
    Ana

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  2. Uma psicóloga que me é muito próxima disse-me uma vez: todo o raciocínio parte de uma emoção (no sentido mais lato do termo), sem ela não poderíamos raciocinar.

    Muito obrigado Ana pelas simpáticas e agradáveis palavras.
    Um Abraço!

    ResponderEliminar

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