terça-feira, 24 de agosto de 2010

Hino nacional Português: uma mobilização contra os nossos aliados Bretões

Hoje, especialmente em manifestações desportivas – sendo a mais evidente os jogos da selecção nacional de futebol – ouve-se o Hino Nacional Português num apelo ao sentimento patriótico. ‘A Portuguesa’ – nome dado ao hino português - surgiu como resposta ao Ultimato Britânico de 1890 que obrigou Portugal a abandonar a ideia do Mapa Cor-de-rosa – proposta portuguesa de anexação dos territórios entre Angola e Moçambique de modo a formar um território contínuo de domínio colonial na África subsariana. Portugal viu-se assim forçado a abandonar esta proposta que tinha defendido na Convenção de Berlim (1885-1886) que tinha como mote dividir o continente africano entre as potenciais coloniais Europeias, pois, a ser concretizada, chocava com os interesses britânicos de unirem continuamente os territórios do Cabo (África do Sul) ao Cairo (Egipto) através de uma via-férrea trans-africana. Esta tensão entre Portugal e Inglaterra nada teria de curioso se estes países não fossem históricos aliados – já à data a mais antiga aliança da História. A ligação entre as duas nações remonta a uma série de tratados acordos, o mais antigo que se conhece remonta a 1294, e reforçados pela ajuda militar Inglesa em Aljubarrota (1385) e pelo casamento de D. João I com Filipa de Lencastrer (Lancaster) – pais da Ínclita Geração (D. Duarte, D. Pedro, Infante D. Henrique). Mas esta aliança foi sempre contestada e usualmente diz-se por cá que serviu sempre mais a Ingleses que a Portugueses, tendo até inesperadamente dado origem a alguns conflitos e tensões.
Casamento de D.João I com Filipa de Lencastre - crónica de  Jean Wavrin

Deixo aqui alguns exemplos disso: 
  • saques, pilhagens e assassinatos por partes de contingentes ingleses que deveriam ter ajudado a restaurar a independência nacional contra Espanha em 1589 e colocado D. António no trono Português (tendo esse acontecimento dado origem à expressão “amigos de Peniche” pois foi lá o primeiro local de desembarque dos nossos amigos ingleses); 
  • o impedimento do regresso do General Beresford a Portugal em 1820, pois entre 1815 e 1820 foi ele o chefe do governo provisório (Beresford tinha fora um dos oficiais britânicos a comandar o exercito luso-britânico que derrotou as forças de ocupação Francesas) devido à ausência da família real que ainda se encontrava no Brasil (o rei D. João VI fugiu com a família real para o Brasil de modo a evitar ser capturado pelos franceses, evitando assim a capitulação do país); 
  • por fim, o já referido episódio do Mapa cor-de-rosa.
Em 1890 Henrique Lopes de Mendonça criou a letra e Alfredo Keil a música do que seria o futuro hino da República Portuguesa. Na altura Portugal era uma Monarquia Liberal e devido a uma série de escândalos da família real, à ineficácia do rotativismos dos dois maiores partidos políticos da altura e ao sentimento anti-britânico originado pelo conflito diplomático que humilhava Portugal.
Grupo do Leão - Columbano Bordalo Pinheiro
 Na versão original da obra de Mendonça e Keil, onde hoje cantamos “contra os canhões marchar, marchar!” cantava-se “contra os bretões marchar, marchar!”. A letra foi alterada e depois da implantação da república foi adoptada como hino nacional em 1911. Hoje continuamos a cantar uma música que em tempos serviu de arma e motivação ideológica contra os nossos históricos aliados – mais uma das ironias e curiosidades da História de Portugal.

1 comentário:

  1. Artigo muito interessante. Nao tinha nehuma idea que a versao antiga do hino Portugues era anti-Britanico, mas lendo as razoes porque^, e' compreensivel.

    Tambem muito interessante que a alianca entre Portugal e a Inglaterra servia mais aos interesses Britanicos em vez dos Portugueses!

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