segunda-feira, 29 de outubro de 2018

La Rochefoucauld: o filósofo do século XVII que dava bons Tweets

François VI de La Rochefoucauld - Théodore Chassériau
Fonte: https://commons.wikimedia.org/

La Rochefoucauld foi um pensador Francês do século XVII. É pouco conhecido na atualidade, talvez porque produziu obras pequenas e compostas de frases custas, segundo um estilo de escrita chamado de aforismos, típicos da sua época e contexto social. Mas se estudarmos a sua obra, que pode ser lida frase a frase - que é como quem diz pensamento a pensamento - ou de seguida, percebemos que não é por ser simples que é menos relevante para a história do pensamento ocidental. Aliás, são essas mesmas caraterísticas que tornam La Rochefoucauld incrivelmente atual. A sua obra resulta da vivência dos salões, espaços que eram suportados por mecenas da alta nobreza francesa, onde se promoviam encontros regulares de intelectuais para debates constantes, mas que deveriam ser agradáveis formas de entretenimento cortês. De pouco servia ler e expor complicadíssimas teses nesses espaços. Ninguém estaria disposto a isso na maior parte do tempo. Procurava-se ativar a mente com temas profundos, mas abordados de modo imediato e cativante. La Rochefoucauld foi mestre nessa arte, expondo a essência dos seus pensamentos em expressivas frases cheias de múltiplos significados. Vejamos algumas delas, retiradas da sua obra “Máximas e Reflexões Morais” (1) que o site Citador (2) nos traduziu e disponibiliza online:

O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram.”

Há falsidades disfarçadas que simulam tão bem a verdade, que seria um erro pensar que nunca seremos enganados por elas.”

Não devemos julgar os méritos de um homem pelas suas boas qualidades, e sim pelo uso que delas faz.”

A virtude não iria tão longe se a vaidade lhe não fizesse companhia.”

Os homens não viveriam muito tempo em sociedade se não fossem enganados uns pelos outros.”

No entanto La Rochefoucauld nem sempre foi e é considerado como filosofo, exemplo disso é o Dicionário de Filosofia, da autoria de Noella Baraquin e Jacqueline Laffitte, editado pela Edições 70, onde o nome do autor não consta (3). Para os mais ortodoxos, La Rochefoucauld não é um filosofo, talvez apenas um escritor, um moralista e até humorista. Mas porque não pode a filosofia ser feita com humor e uma certa informalidade? Se o objetivo da filosogia é ativar a mente humana para as questões da existência e transcendia, porque não usar uma abordagem mais descontraída e divertida? Apesar de poder parecer estranho, a obra de La Rochefoucauld teve influência em Nietzsche, especialmente em “Humano Demasiado Humano”, sendo o único dos autores francês da época dos salões a que o famoso filosofo alemão dava crédito (5).

É certo que La Rochefoucauld na sua filosofia não cria uma superestrutura do seu próprio conhecimento, nem um sistema filosófico complexo, cheio de referências a outros filósofos, a conceitos que ele próprio inventa ou refuta para gerar tentativas de solução últimas. Em vez disso sintetiza o seu pensamento em cadeias de frases que podemos agrupar por temas, mas que nem por isso nos induzem a pensar menos. 

A técnica dos aforismos é incrivelmente atual nos dias que correm, sendo massivamente utilizada nas redes sociais, especialmente no Twitter e Facebook. O domínio desta arte de comunicar é importantíssimo para quem quer ter muitos seguidores, comentários, gostos e partilhas. Como seria um La Rochefoucauld dos dias de hoje? Seria um mestre das redes sociais? Vemos a sua influencia sempre que pegamos no smartphone. São imensos os conteúdos rápidos e imediatos, que tentam ir fundo na condição humana. Uns fazem de modo displicente, outros aprenderam com La Rochefoucauld, mesmo sem saber.

Vale também a pena ver o seguinte vídeo de “The School of Life” sobre La Rochefoucauld:


Referências bibliográficas:
2 – Citador. François, Duque de La Rochefoucauld. Consultado em 29 de outubro, disponível em: http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/francois-duque-de-la-rochefoucauld
4 - Faber, Marion (1986). The Metamorphosis of the French Aphorism: La Rochefoucauld and Nietzsche. Comparative Literature Studies (2) Vol. 23, No. 3 (Fall, 1986), pp. 205-217

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