Nos vestígios arqueológicos das civilizações da Suméria e do Egipto, naquelas que foram algumas das primeiras cidades do mundo, encontraram-se jogos de tabuleiro.
Mas esses jogos não eram apenas diversão. Tanto na Mesopotâmia como no Egito os jogos assumiam um papel importantíssimo na vida social e religiosa, criando narrativas e dinâmicas de jogo que tinham leituras simbólicas, místicas e espirituais. Os jogos faziam parte dos rituais e doutrinas religiosas. No Egito descobriu-se o Senet e em Ur, na Mesopotâmia, o “Jogo Real de Ur”.
Rainha Nefertari a jogar Senet
Pintura mural do túmulo de Nefertari, esposa de Ramses II
Fonte: https://www.sciencephoto.com/media/185929/view/queen-nefertari-playing-senet
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O egiptólogo Peter Piccione propõe que o jogo Senet, que se traduz por “passar, servia de guia para a reflexão espiritual, enquadrada nas crenças de vidas após a morte da religião egípcia. Segundo esse investigador o jogo terá sido readaptado e interpretado pelos cultos religiosos como uma poderosa atividade narrativa. No jogo, que se baseava em movimentos de peças num tabuleiro, mas que desconhecemos as regras exatas, teria uma associação com a viagem que os mortos faziam, de como depois a sua vida era avaliada, e de como então poderiam atingir ou não a vida eterna se disso fossem dignos. Alguns dos jogos foram encontrados com motivos de decoração associados às etapas dos rituais funerários egípcios. Existem pinturas morais da rainha Nefertari a jogar este jogo, sozinha, provavelmente, simbolicamente contra a sua própria alma. Através desse jogo indicia-se que os jogadores poderiam analisar os seus próprios comportamentos, que os poderiam levar à condenação eterna ou à salvação.
Já sobre jogo real de Ur sabe-se hoje como o jogavam os antigos sumérios. Pois nos anos 80 do século XX Irving Finkel, ao procurar nos arquivos do British Museum, descobriu registos das regras. Tratava-se de um jogo de corrida em que os jogadores tinham de levar as peças de jogo de um lado para o outro, lançando dados feitos de ossos de ovelha. Apesar de ser uma diversão, tratava-se de uma ferramenta de adivinhação do futuro. A cada casa associavam-se estados e situações que depois eram interpretadas para e pelos jogadores.
Para ambos os jogos, que nos são apresentados por Tristan Donovam no seu livro “Its all a Game: the history of board games from Monopoly to Settlers of Catan”, o autor faz uma referência de como aleatoriedade e a sorte podiam ser vistas por estes povos antigos como manifestações místicas e formas de comunicação transcendentes, provavelmente uma forma dos mortos e dos deuses comunicarem com os jogadores.
Por isso, quando lançarem um dado, ou tirarem à sorte algo, lembrem-se que para muitas pessoas isso chegou a ser uma manifestação espiritual e religiosa.
Referências bibliográficas:
Donovan, T. (2017). It's all a game: The history of board games from Monopoly to Settlers of Catan. Macmillan.
Donovan, T. (2017). It's all a game: The history of board games from Monopoly to Settlers of Catan. Macmillan.
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