Vamos falar em decrescimento, esse assunto polémico. Não se trata de dietas mas de economia, modelos de sociedade, valores e estilos de vida. Serge Latouche no seu “Um pequeno tratado do decrescimento sereno” parece querer abalar toda a nossa existência.
Ambiente Espacial - Lúcio Fontana |
Quando a economia de um país não está a crescer o dito país entra em crise. Mesmo se crescer abaixo de um determinado nível a crise pode ser inevitável. Mas como podemos continuar infinitamente a crescer, sendo que estes crescimentos acumulados geram evoluções exponenciais pois crescemos sempre relativamente ao acumulado anterior? Os recursos do planeta não são ilimitados. Se o planeta é finito como pode ser infinito o crescimento? Ainda que a tecnologia consiga tirar melhor partido dos recursos naturais, até aproveitando o que outrora era desperdício ou resíduo, haverá sempre limites materiais.
Latouche, no seu ensaio, quer preparar-nos para aquilo que considera inevitável. Vamos ter de decrescer, inverter todo este sistema de valores e organização social e económica. Se neste momento já se consome em média o equivalente a mais de uma terra, isto considerando uma pegada ecológica média, como poderemos manter este nível no futuro? O autor recusa o desenvolvimento sustentável, pelo simples facto de que manter os níveis de desenvolvimento não será sustentável de todo ao ser inviável continuar a consumir mais do que o planeta pode produzir sem perdas irreversíveis.
Imagine-se então como seria uma sociedade do decrescimento. Teríamos de consumir menos, evitar os atuais os reduzidos ciclos de obsolescência. Teríamos de produzir localmente para consumir localmente, tendo em conta as colheitas de época. Teríamos de impor restrições aos mercados impedindo que fossem apenas regulados pela lei da oferta e procura com base num sistema de livre circulação de capitais. Reduzir o número de horas trabalhadas, a intensidade e velocidade do que fazemos, pensando mais na prevenção e nos estilos de vida mais naturais e saudáveis. Teríamos de evitar o turismo como grande consumidor de recursos e desestabilizador dos ambientes naturais e humanos. Direcionar os ímpetos consumistas para o consumo de conhecimento e cultura que podem ser inesgotáveis. Isto e muitas outras coisas verdadeiramente radicais aos olhos contemporâneos. O mundo seria muito diferente.
Latouche alerta para esta necessidade, que será tanto mais forte quando os níveis de vida começarem a aumentar nos países onde os níveis de consumo e exploração estão abaixo da média. Se pensarmos que um Norte-americano consome em média o equivalente a 6 terras per capita, podemos ver o nível de desigualdade existente no planeta.
Tudo isto será uma utopia, mas, seguindo as alternativas propostas pelos defensores do decrescimento, a humanidade terá de repensar os seus modelos de desenvolvimento, pois será impossível manter determinados estilos e níveis de vida sem com isso arriscarmos o equilíbrio planetário.
Referência bibliográfica:
Latouche, Serge. Um pequeno tratado do decrescimento sereno. Lisboa: Edições 70, 2011.
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