quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Enciclopédia - O Monumento do Iluminismo

A praticamente todas as épocas históricas conseguimos, direta ou indiretamente, associar monumentos, construções humanas ou obras de arte incontornáveis. Algumas dessas criações quase as definem e servem de ícones e marcas desses momentos históricos.
O Iluminismo foi marcante para a sociedade ocidental, e até para o mundo que se foi encurtando e aproximando nos séculos seguintes (especialmente depois da industrialização e do colonialismo). Dessa importante época história o principal monumento, na aceção do termo e sua relação com objeto ou coisa que serviu e serve para recordar na memória coletiva (Choay, 2010), não foi um edifício, conjunto urbano, obra de arte plástica ou afins. O principal, e mais importante, monumento que nos legou o Iluminismo foi a Enciclopédia (Schwanitz, 2012). Ou seja, um objeto. Não de arte, mas de saber!
Experiência de Um Pássaro Numa Bomba de Ar - Joseph Wright of Derby
Nessa época de transição, e que levou em muitos sítios, mas especialmente em França, à revolução, esse livro foi incontornável. Aliás, nesse mesmo e noutros formatos, ainda continua a ser – veja-se a importância das enciclopédias online. Consciente, ou inconscientemente, a Enciclopédia pretendia deter todo o conhecimento da humanidade, de um modo ordenado e de fácil consulta. Seria a “bíblia da ciência” – paradoxos à parte -, acessível e universalista. Para certos autores e pensadores (Schwanitz, 2012) a Enciclopédia tinha, para além disso, como objetivo substituir a própria Bíblia: substituir o obscurantismo da religião de então pela nova ciência, pelo positivismo do novo empirismo que ajudava a desvendar os mistérios do mundo. Vontades de substituição da religião pela ciência à parte, isso não significava, nem de perto nem de longe, que os iluministas fossem ateus. Poucos, ou quase nenhuns, o eram de facto. De um modo geral, não negavam Deus, até porque precisavam de uma entidade para explicar o início e a ordem do universo, a razão de todas as regras e leis que comprovavam e registavam. Os iluministas eram, tendencialmente, deístas (visão de Deus como arquiteto/planeador das regras do universo, mas não como agente interventivo e presente num mundo que se foi desenvolvendo pelas suas próprias regras) em oposição a posição tradicional teísta (Deus como ser que criou e intervém constantemente no universo) da religião instituída.
Hoje, esse grande monumento do Iluminismo persiste. Ficou a herança de ordenar e catalogar o conhecimento. Não se substituiu a bíblia, por várias razões que nem dependem da qualidade enciclopédias que se foram criando. Muito pelo contrário, até parece que a enciclopédia ajudou a criar mais bíblias, pois contribuiu para o banalizar do nome, tornando-o um adjetivo. Nos nossos dias existem enciclopédias e bíblias de tudo e mais alguma coisa, num especificar cada vez maior do conhecimento, sendo o termo “bíblia” aplicado para um livro importante de uma determinada área do saber – há bíblias para tudo e todos os temas, no sentido de ser um livro “quase sagrado”, de tão importante que pode ser no tema em causa.
Para além do contributo científico e cultural que foi a enciclopédia, e para além do universalismo do conhecimento que permitiu, ela demonstrou que não existem livros infalíveis – ou não tivessem as enciclopédias e bíblias erros como todos os outros livros e escritos por mão humana.

Referências Bibliográficas
  • Choay, Françoise. “Alegoria do Património”. Edições 70. Lisboa, 2010.
  • Schwanitz, Dietrich. “Cultura – Tudo o Que é Preciso Saber”. Dom Quixote. Lisboa, 2012.


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