quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A manutenção da Restauração da Independência de 1640 - a importância do planeamento

Hoje é dia 1 de Dezembro e comemoram-se 370 anos desde a Restauração da Independência nacional face a Espanha (ao império dos Habsburgos ou Filipes como por cá os conhecemos). Em 1640, neste mesmo dia, uns quantos nobres dirigiram-se a Lisboa e fizeram um golpe de estado, atirando o governador em funções pela janela, e declararam Portugal independente de Espanha, após 80 anos de união ibérica. Pouco depois seria coroado o novo rei de Portugal D. João IV e uma nova dinastia governaria um Portugal Independente. No entanto, só foi possível manter Portugal enquanto reino independente depois de rechaçar os Espanhóis na guerra que se seguiria – a Guerra da Restauração
Pintura alusiva ao golpe de 1640 - autor desconhecido
Apesar de Espanha não ter respondido imediatamente a esta revolta com força militar, pois na altura o Império dos Habsburgos estava a braços com outras revoltas (a revolta da Catalunha) e conflitos militares (a Guerra dos 30 anos), mas todos por cá saberiam que, apesar do altura  para concretizar o golpe ter sido a ideal, mais tarde ou mais cedo Portugal seria invadido. Assim que a revolta da Catalunha – que ainda hoje é parte integrante de Espanha – foi esmagada em 1648, e o domínio de Madrid restabelecido, as atenções de Espanha voltaram-se para a reconquista de Portugal.

Mas D. João IV tinha-se precavido. Neste espaço de tempo, que o oportunismo do golpe permitira, consegui levar a cabo uma monumental empreitada nacional – literalmente pôr o país em obras. Conseguiu reconstruir e modernizar muitas das cidades, vilas e fortalezas estratégicas segundo as novas e mais actuais preceitos da arquitectura militar. Num pequeno espaço de tempo transformou muitas muralhas e castelos medievais em verdadeiras praças-fortes, preparadas para resistir contra as mais modernas armas de fogo da época, especialmente contra a artilharia que tinha tornado as antigas defesas medievais obsoletas. Os antigos muros e torres foram convertidos em balcões com guaritas, bastiões e revelins. Foram criados complexos fossos em volta das fortificações. O poder da artilharia que fazia cair e desmoronar em horas as muralhas medievais que aguentaram séculos de conflitos bélicos tinha de ser parado - e foi-o na prática. 
 
 A nova arquitectura militar era revolucionária em muitos aspectos. Os muros eram mais baixos e muito mais espessos, em taludes de terra compactada com revestimentos de alvenaria de pedra ou tijolo. O traçado gerai, visto em planta, dava origem a irreverentes e intrincadas figuras geométricas, simétricas e regulares com muitas saliências e ângulos  proeminentes. Os muros em escarpa inclinada, ao contrário dos ângulos rectos verticais das muralhas medievais, e os bastiões, que em profundidade quebravam a monotonia das muralhas com os seus ângulos agressivos, permitiam que as balas dos canhões atacantes fizessem ricochete. Estas características das construções, conjugadas com fossos, que dificultavam o avanço de quem pretendia atacar estas novas defesas, e com a  correcta disposição da artilharia defensiva, criavam um mortal fogo cruzado que esmagava todos aqueles que tentassem um ataque frontal. Isto era possível mesmo recorrendo a poucas baterias e soldados.
Planta de nova brisach - Le prestre de Vauban
Foi, em parte, devido à capacidade de planear e executar estas magnificas obras de engenharia militar - que hoje ainda podemos contemplar em locais como Almeida, Valença, Elvas, entre outras cidades e vilas - por parte da nova administração de Portugal, tendo em vista e antecipando os problemas do futuro, contribuíram muito para manter a independência de Portugal perante um avassalador poder militar de um dos mais poderosos Impérios da época.

Fontes:
A Grande História da Cidade - Charles Delfante
História da Guerra, mapas da história - Ian Drury
Os mais belos castelos de Portugal - Júlio Gil
The Art of War, war and military thought - Martin Van Creveld 

3 comentários:

  1. Muito interessante.
    Um trabalho de primeira água em que se explica como se prepara atempadamente a defesa contra um ataque iminente, ainda que sem data marcada.

    Coisa que em muitos casos similares, com as naturais adaptações, na actualidade, não se tem feito.

    As consequências da falta de um planeamento bem estruturado estão à vista no que ao nosso país diz respeito. E também em relação à Europa.
    Ficámos a dormir à sombra da bananeira depois de recuperarmos dos traumas da II Guerra Mundial!

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  2. Sem dúvida caro António Nunes. A capacidade de planear não é uma das características nacionais, mas se olharmos para o passo, sempre que se planeou o resultado foi bom.

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  3. Havia uma gralha no título do texto mas já está devidamente corrigido.

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