quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Afinal de onde vêm e quem são os idiotas?

Algumas palavras têm origens etimológicas bem curiosas. Algumas têm um significado actual que sofreu tantas alterações que pouco se relaciona com o seu significado original. A palavra «idiota» é em parte uma delas – posso dizer que fiquei um tanto ou quanto “idiota” quando descobri a sua origem.
Escritório de algodão em Nova Orleães - Edgar Degas
Tinha acabado de passar a vedação que dá acesso à acrópole de Atenas quando a nossa guia se detém junto do anfiteatro de Heródoto Ático. Aí, depois de fazer uma introdução aos vários monumentos que iríamos ver e de fazer uma breve antologia da história política e social da democracia ateniense da antiguidade, faz-nos a seguinte pergunta em espanhol: Sabem qual a origem e significado a palavra idiota? Ninguém foi capaz de responder, mas logo ouvimos a sua explicação, evitando um prolongado silêncio quase constrangedor devido à nosso ignorância. Segundo ela o termo idiota era um adjectivo usado para caracterizar todos aqueles, que durante a vigência da democracia em Atenas, não se interessavam ou não estavam disponíveis para participar no governo e assuntos do Estado Democrático – pois a existência de tal forma de governo pressupunha o envolvimento e participação de todos os cidadãos, podendo e devendo todos estar de igual modo disponíveis para governar. Todos ficámos espantados com tal explicação.

Posteriormente fiz uma pequena investigação sobre a etimologia da palavra de modo a testar a veracidade destas palavras. Parece que o termo em grego antigo seria «idiótes», palavras que significava “homem privado”, ou seja, homem sem interesse pela causa pública. Os antigos gregos consideravam, ou não fossem especialistas em política e filosofia, que todos os que não participavam activamente no governo das suas polis, aqueles que não eram políticos, era porque não tinham a devida capacidade intelectual para tal. Mais tarde o termo «idiota» foi readaptado e reutilizado pelos romanos para caracterizar todos aqueles que eram incapazes de acções e raciocínios complexos, entre outras lacunas intelectuais.

Na actualidade acho que é caso para dizer: as idiotices de alguns (segundo o modelo romano) levam outros a optarem pela idiotice (segundo o modelo grego). Provavelmente é só mais um dito de um idiota da minha parte…

18 comentários:

  1. Ainda bem que não és um idiota grego e transmites para nós esse fantástico conhecimento que vais adquirindo... Sim, tinhas razão, fiquei bastante surpreendido...

    Um abraço!

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  2. Inês Nascimentosetembro 25, 2010

    Obrigada pela partilha!

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  3. lol sem dúvida que no sentido Grego sou uma idiota chapada, aspecto agravado sobretudo, como dizes, devido às idiotices (segundo os romanos) de outros não idiotas (segundo os gregos). Brilhante! Parabéns!

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  4. Idiota sou eu, afinal, no sentido mais original do termo, que passei a conhecer, pois sendo professor de História há mais de quinze anos e tendo estudado grego, não sabia (confesso com vergonha!) e nunca me ocorreu averiguar acerca da origem dessa expressão. São expressões como esta(s) aparentemente tão simples quanto interessantes do ponto de vista do seu sentido etimológico original que se aprendem fora da escola e em blogues como este - a minha reaccão acima registada foi, só por isso, "muito interessante. Foi com a mesma surpresa que fiquei também a conhecer, através de uma outra fonte mas em circusntâncias também "idióticas", o também curioso significado original da palavra "testemunhar" (investigue-se!)

    Parabéns

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  5. Com essa é que me apanhou. Tenho de ir averiguar.

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  6. Encontei este texto, da autoria de Helder Guégués, no seu blogue »assim mesm0»: Parece que a própria etimologia do vocábulo «testemunha» já determinava a atitude. De facto, «testemunha» provém do latim testis (no português antigo, usava-se o vocábulo «teste» nesta acepção; modernamente, qualquer teste, e este chegou-nos também do latim através do inglês, comprova, atesta algo), que por sua vez procede da raiz indo-europeia tris-, a que pertence também, por exemplo, a palavra inglesa tree. A ideia é a de alguém, imparcial, que está no meio, qual árvore bem fincada no chão, das partes interessadas, que testemunha o acordo. Ora, da mesma palavra latina testis provém, e era aqui que queria chegar, o vocábulo «testículo» — o órgão que atesta a virilidade de um homem.

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  7. Bravo Micael!Uma singular prova da curiosidade aguçada, da perseverança e confiança na investigação filológica, ou por outra, no "testemunho" dos linguistas. Mas afinal o significado da relação entre testículos e a garantia da verdade do declarante encontra-se também na origem da forma que pode ter esse duplo significado em castelhano (Testigos = testículos)."Testis" reassumiu-se, nas duas línguas por via erudita (pasme-se!) como o diminutivo de testículo. Mas, curiosamente, parece que a origem do termo surgiu num contexto bem concreto de tradição cultural, na verdade caricata (diria mesmo arrepiante!)que pode ter tido a ver com a virilidade do homem, enquanto prova dolorosa honestidade. Adiante: segundo uma das breves curiosidades que encontrei no "Almanaque do Incrível", uma separata da Revista "Super Interessante" intitulada "pelos testículos", passo a citar, «à falta da Bíblia, os romanos juravam dizer a verdade apertando os testículos com a mão direita. É deste costume romano que provém a palavra "testemunhar".» E ainda se diz que na sociedade romana (pré-cristã, entenda-se)a mulher não era tão discriminada!

    Um Abraço

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  8. Uma curiosidade e pêras. Bem que merece um texto próprio. Tenho autorização para no futuro usar algumas das suas palavras para construir um potencial texto sobre "testemunhar"?

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  9. Esteja à vontade!Comentar é também partilhar e, como em tudo aquilo que resolvo publicar, sempre assumi a partiha como um dever.

    Grato

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  10. Peço desculpa, mas lembrei-me agora de um site que, apesar de parecer insignificante, pode servir como uma base ou, pelo menos um ponto de partida para uma reflexão sobre a expressão:

    http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=12195

    Abraço

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  11. Muito obrigado. Será uma boa base de partida. Aproveitei e adicionei este sitio da Internet aqui a alguns dos links recomendados.

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  12. Devo dizer que a análise e abordagem me surpreenderam, bem como a origem dessa palavra! A sua conclusão, Micael ahahahahhahah está um must! muito bem escolhida! :))
    Depois fui ler os comentários, fiquei perplexa! eheheheheheh Valeu a pena! :)

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  13. É de ficar idiota, no sentido latino é claro. ;)

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  14. Estes comentário originaram posteriormente a criação de um outro texto a próprio, ora veja: http://abuscapelasabedoria.blogspot.com/2011/02/os-testemunhos-e-os-testiculos-algumas.html

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  15. ahahahhah Micael! é mesmo! :)

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  16. IDIOTICE e ESPERTEZA

    Em tempos há muito passados/
    de Coimbra,dois estudantes/
    fadistas e muito azougados/
    resolveram ser feirantes.

    Era o dia da Feira tradicional/
    e os dois estudantes sem um «chavo»/
    resolveram êles pois afinal/
    reparar um tal desconchavo.

    Um dos dois mais matreiro/
    propôs irem à tradicional Feira/
    pois haviam de ter maneira/
    de arranjar algum dinheiro.

    Os futuroa doutores,de capa e batina/
    conversando pelo caminho/
    imaginavam o modo maninho/
    de enganar um ou outro sovina.

    Às tantas,numa curva do caminho/
    caminhando no seu passo lento/
    ia um velhote cabisbaixinho/
    levando pela arreata,um jumento.

    O estudante com mais descaramento/
    tirou,do burro,o cabresto levemente/
    e colocou-o seguro à sua frente/
    enquanto o outro,desviava o jumento.

    Segurando o cabresto,o estudante parou./
    Como o burro não andava,o bom vèlhinho/
    olhou para trás,e quase desmaiou/
    ao ver o estudante,em vez do burrinho.

    O estudante com voz cava,compassada:/
    -Ah meu senhor!disse num sussurro:/
    Eu sou uma pobre alma penada!/
    umas vezes sou estudante,outras sou burro!.

    O pobre velhote,na alma penada confiante:/
    -E eu a pensar que tinha um jumento!/
    Afinal é a alma penada dum estudante/
    que anda a cumprir fadário de tormento!

    Diz o velhote muito enternecido:/
    -Oh alma penada,vá lá a sua sina!/
    Que Deus lhe perdôe o mal concebido/
    que eu,inda que pobre,não sou sovina.

    Como não estava longe da Feira/
    o velhote,p'ra lá foi caminhando/
    e a determinada altura,viu zurrando/
    o seu burro,que o conheceu à primeira.

    E ao novo dono do seu fiel burro/
    o velhote,com certo assombramento/
    disse acanhado e num sussurro:/
    -Posso dizer um segrêdo ao jumento?.

    -Homem,diga!Não vejo nada que o impeça!/
    E o velho disse ao burro com todo o desplante:/
    -Tu és a alma penada do mau estudante!/
    Quem te compra?!Só quem não te conheça.

    O novo dono do burro,ficou espantado/
    e pensou que o velho com uns copinhos/
    já estaria um tanto ou quanto embriagado/
    e deu-lhe o desconto que se dá aos velhinhos.

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  17. Ainda a respeito da origem e significado das palavras,a palavra grega Democracia,significa Poder do Povo,(ainda que o Povo na Grécia Antiga não tivesse voto na matéria,pois seriam os tais idiotas) «demo» é Povo,mas pelos vistos,«demo» foi traduzido pelos romanos como «demónio» e o Povo é o Diabo.
    E assim,ainda hoje quem governa são as Élites intelectuais,como Antigamente (Clero,Nobreza e Povo) o Povo continua sendo a besta de carga,o idiota.

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  18. Na Grécia Antiga, pelo menos em Atenas, todos os cidadãos tinham voto na matéria, e até se podiam representar a eles mesmos. No entanto, nem todos os habitantes eram cidadãos, quanto muito de segunda como na atualidade.

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