Umas das primeiras series que comecei a ver na Netflix - se não foi mesmo a primeira - foi Sex Education. Tinha boa avaliação, era recente e parecia encaixar em preferências partilhadas com a esposa. O palpite estava correto, consumimos a primeira série num instante. E a segunda temporada, que saiu recentemente, foi vista ainda mais depressa.
Fonte da imagem: https://noticiasetecnologia.com/netflix-imagens-temporada-2-sex-education/ |
Sex Education decorre, supostamente, no universo tipificado das series e filmes sobre adolescentes, algures na Inglaterra contemporânea. O contexto é uma escola secundária, com muitas personagens, umas mais preponderantes que outras, que se cruzam em múltiplas relações reais e surreais onde o sexo é o mote. É a expressão surrealista, ou hiper-realista que faz sobressair “Sex Education” como uma série de humor bem diferente. Há um toque de realidade, de exagero, e de exagero que fica aquém de realidades ocultas muito para além do sexo.
A personagem principal, um jovem altamente condicionado pelas suas fobias sexuais – faltando aqui um termo mais técnico – acaba por ser o terapeuta sexual da sua escola, replicando e reinterpretando o conhecimento que obtém indiretamente através dos seus pais divorciados – eles sim sexólogos. Isto por si só já é caricato e obviamente tem requisitos suficientes para gerar histórias interessantes. No entanto, neste microcosmos os tabus são removidos sem nos avisarem. Todas as formas de sexualidade são expostas sem tabus, com humor, mas sem infantilidades. Isso é tão refrescante, tão diferente e tão original. Para além de tudo isso é efetivamente uma série educativa – algo que é muito dificil de fazer na prática. Aprendemos de facto com esta série, apesar de ter momentos hilariantes de humor, tal como momentos de tensão trágica. Sex Education vai abrir-vos a cabeça. E se pensam que não têm preconceitos provavelmente estão enganados – eu pensava que não tinha. Mas o melhor que têm a fazer é ver a série por vós mesmos, e experimentar aprender de forma emocional e intensa, apesar da distância enorme que separa a TV da realidade replicada.
Os atores são realmente competentes e expostos a situações desconfortáveis. A fotografia, cenários, planos de filmagem e guarda roupa impecáveis, com qualidade máxima. Ajudam a criar, apesar de tudo, uma utopia – o tal lugar que não existe. Quanto ao enredo e história surge o equilibrio perfeito entre realidade, ficção e surrealismo que permite transmitir entretenimento e informação de forma integrada.
Mas Sex Education é então uma série educativa utópica, por vários motivos. É pouco provável que existam comunidades escolares assim tão livres e tolerantes - infelizmente. Verdadeiramente utópico é também, mudando completamente de assunto, o modelo urbano apresentado, porque existe uma clara cultura urbana que supostamente vive numa paisagem rural, onde todas as habitações estão isoladas e integradas na natureza, incluindo a própria escola. Está sempre bom tempo – nunca chove nesta Inglaterra - e tudo é distante apesar de rapidamente se chegar a pé ou de bicicleta a qualquer lado. Os automóveis são todos antigos, o que é realmente bizarro nesta utopia verde, apesar dos smartphones dominarem. A comunidade é etnicamente muito diversificada, multicultural a um nível que será dificil de existir em comunidades pequenas. Apesar disso são poucas as manifestações de choques culturais.
Agora que remato o texto com estas palavras fico com a sensação de que o tema de Sex Education é a utopia social. Tudo feito de uma forma em que a dimensão sexual parece ser aquela utopia mais próxima de podermos mudar. Afinal quem ainda tem medo de falar de sexo?
Sem comentários:
Enviar um comentário