domingo, 7 de janeiro de 2018

Será que pagamos o real preço do transporte marítimo?

Quando começamos a estudar um pouco sobre transportes uma daquelas verdades quase absolutas, que todos sabem, é que o transporte de mercadorias por via marítima é o modo mais eficiente. Apesar de ser uma generalização, que pode ser invalidada por imensas variáveis particulares, não é muito difícil perceber que um barco, a operar em condições ótimas, concebido para transporte de cargas consegue transportar uma grande quantidade de peso e volume de uma só vez sem que sejam necessárias pesadas infraestruturas de apoio ao percurso e consideráveis recursos humanos, ao contrário do que acontece com o transporte terrestre. Com o aumento da tonelagem dos barcos, com a automatização dos processos, com a tecnologia dos contentores estandardizados e sistemas de planeamento, gestão dos fluxos de cargas de forma global compreende-se o potencial para uma elevada eficiência deste meio de transporte.


No entanto, nem sempre as condições ótimas ocorrem, por diversos motivos. No documentário "Freightened: the real price of shipping" de Denis Delestrac explora-se o lado negro, segundo os autores, do transporte marítimo, tentando desmontar a ideia da absoluta eficiência do transporte marítimo de carga. O documentário alerta também para não estarmos a suportar os reais custos e impactes dessa atividade. O documentário foi exibido em Portugal pelo Canal Odisseia com o nome de "Freightened: o preço real do transporte marítimo".

Cerca de 90% dos produtos que consumimos são transportados, em algum momento, por transporte marítimo. Os autores dos documentário alertam para elevada probabilidade de apenas 5% dessas cargas estarem a ser controladas, tornando o transporte por contentores marítimo perfeito para tráficos ilícitos de toda a natureza. Alertam para a deficiência da regulamentação do setor, pois, em alto mar, as empresas detentoras dos barcos têm de cumprir a legislação do país cuja bandeira ostentam, o país em que o armador registou o barco. Existe assim uma intensa competição internacional de determinados países, quase sempre países pouco desenvolvidos ou offshores, para oferecerem as melhores condições aos armadores, que é o mesmo que dizer: redução das cargas fiscais, da legislação laboral, ambiental e etc. Os efeitos são pouquíssimos direitos laborais para as tripulações e uma grande folga para gerar descontrolados impactes ambientais associados ao funcionamento dos barcos. Há que lembrar que os motores dos grandes barcos consomem qualquer tipo de combustível fóssil, optando as empresas pelos mais baratos que são respetivamente os mais poluentes. Para os autores dificilmente haverão alterações, pois são os países com maior número de barcos registados quem mais peso tem internacionalmente nas organizações de regulamentação do setor, o que significa que o controle será naturalmente pouco apertado e exigente.


O documentário levanta muitas outras questões. Embora a realidade possa não ser exatamente nele se relata, não deixa de ser um assunto de interesse global e que merece ser cuidadosamente analisado. Enquanto consumidores deste mundo global, onde o nosso individualismo e identidade se manifesta fortemente através do consumo, sendo que temos acesso a cada vez mais produtos que viajam milhares de quilómetros, temos o dever ético de ficar com dúvidas se o que pagamos pelo transporte marítimo acautela todos os reais efeitos ambientais e custos económicos. Se não estivermos a pagar alguém um dia terá essa fatura por liquidar.

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