Como se relaciona a corrupção com a ética? Qualquer desonestidade ou comportamento desviante moral, mesmo que pequeno e aparentemente pouco significante, será corrupção?
Partamos então para aos significados das palavras de modo a ensaiar uma conclusão, utilizando uma fonte isenta e de uso comum: um dicionário online, neste caso o da Porto Editora.
Vaca com chapéu de sol - Marc Chagall |
Corrupção significa, no sentido literal: decomposição física de alguma coisa, modificação das características originais de algo, uma adulteração. Ou seja, uma mudança para um estado de qualidade inferior, caso contrário a modificação não seria adulteração mas melhoria e/ou aperfeiçoamento. Existe também um significado figurado para corrupção: que é o acto de corromper a moral, de gerar uma perversão.
De notar que ética e moral são comumente utilizados como sinónimos, com os próprios dicionários a referir isso mesmo.
Será a filosofia a insistir na distinção entre moral e filosofia. No mesmo dicionário, a Ética é “aquela disciplina que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir o bem do mal”. A ética pode ser também um código moral ao deontológico. É através dessa codificação que a ética se pode transformar em moral, através da regulamentação e codificação, quando os juízos de valor são pré-estabelecidos, para que se defina aquele comportamento moral que é sinónimo de bem e o imoral que corporiza o mal. A ética tem como objetivo distinguir o bem do mal, criando uma “dialética” própria. A moral pretende instituir o bem e condenar o mal, segundo um conjunto pré-determinado de juízos de valor.
Se a corrupção é um comportamento, ação e atitude humana, que adultera e cria uma perversão a um estado original ou ideal bem definido e codificado, isso ocorre ao nível da moral. Mas essa moral pode ser apenas perversão ética, caso não esteja adaptada às necessidades e objetivo da vida humana. A humanidade é uma espécie em mudança constante, quiçá evolução em determinados casos, pelo que a rigidez moral terá de se adaptar a essa natureza dinâmica, sendo que tal mudança imperativa se dará através das ferramentas da ética.
Se a corrupção é uma perversão da moral, adulterando a conduta íntegra de quem a pratica para um estado moral pior, também o é da ética, pois, em última instância, a moral é um produto do pensamento e construção ética. O que está em causa não é a dimensão ou a gravidade do ativo de corromper, mas a noção de que a corrupção é sempre um desvio em relação a um estado ideal inicial de valores.
A corrupção é sempre uma degeneração, uma mudança para um estado pior, independentemente do assunto, do tema ou do caso concreto. Nos comportamentos humanos é sempre um assunto do foro da ética.
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