As fontes não são conclusivas, mas existem algumas evidências que conseguem sustentar uma quase igualdade de género no antigo Egipto. Pelo menos, comparativamente a outras culturas e civilizações da época, a do antigo Egipto terá garantido uma relativa igualdade de género entre homens e mulheres. No entanto, parece que o domínio terá sido sempre masculino.
Vejamos então alguns dados. Começamos pela mitologia. No antigo mito de Osíris e Iris, é Isis que, recorrendo à sua determinação e magia, faz ressuscitar Osíris (seu irmão e marido) assassinado por Seth. Depois é o filho de ambos, Hórus, que passa a governar o Egipto, enquanto Osíris se torna o governante do reino dos mortos. A importância de Isis, do seu papel de mãe e mulher, é essencial neste mito egípcio. Este era um verdadeiro mito da criação da sociedade egípcia e da sua crença na vida após a morte, tão importante para aquela civilização.
Homem e mulher egípcios - XXIV a.c. |
A egiptóloga Barbara Lesko defende que existia igualdade jurídica ente homem e mulheres no antigo Egipto, pois a ambos era permitida a posse e uso-e-fruto dos bens, tal como venda e passar em testamento. No entanto Gay Robbins, igualmente egiptóloga, refere que mesmo havendo esse estatuto, na prática tal direito seria destinado ao papel assumido como mãe, tal como o de Isis no mito. Assim, na prática, sem a proteção masculina essa igualdade poderia ser difícil de existir de facto.
Não existem certezas absolutas, até porque a história da vida comum não era o principal foco dos registos antigos (sempre interessados em grandes conquistas, reinados e celebrações religiosas). Há que lembrar que as correntes historiográficas que focaram a importância desse tipo conhecimento histórico só se desenvolveram na primeira metade do século XX, pelos historiadores da famosa escola e corrente dos Annales.
Analisando o modo como como os antigos egípcios representavam os dois géneros também pode levar a resultados inconclusivos. Se existem representações em que o homem parece dominar a mulher, também existem outras em que ambos se representam nivelados em igualdade estrita.
No que toca à monarquia egípcia existem provas do governo de mulheres. Por exemplo, Hatchepsut, governou em nome próprio como faraó no XV a.c.. Muito conhecido é também o governo de Cleópatra, ainda que num período posterior completamente diferente, e sob influência de culturas externas. Pode muito bem ter havido uma progressiva tendência para a igualdade, mas por enquanto não há certezas.
Estátua de uma homem, mulher e criança - XIV a.c. |
Tendo havido ou não verdadeira igualdade de género no antigo Egipto, é seguro que a mulher assumia um papel de maior liberdade e igualdade em relação às sociedades contemporâneas de então. Isto talvez se explique pela própria natureza da sociedade egípcia, mais estável, menos violenta e tumultuosa que outras grandes civilizações da época.
Referências bibliográficas:
- ARAÚJO, Luís Manuel de. Mitos e Lendas – Antigo Egipto. Livros e Livros, 2008.
- BALTHAZAR, Gregory da Silva. “Feminismo e a Igualdade de Gênero no Antigo Egito:
- Uma Utopia da Emancipação Feminina”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011
- LESKO, Barbara. The Remarkable Women of Ancient Egypt. Providence: Scribe, 1996.
- ROBINS, Gay. Women in Ancient Egypt. Cambridge: Harvard University Press, 1996.
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