domingo, 8 de setembro de 2013

Em Portugal as Liberdades e a Democracia saíram do autoritarismo Militar

A Idade Contemporânea, de um ponto de vista histórico universal – que acaba por ser só da própria Europa, ou não fossem os meios académicos ainda muito eurocêntricos -, começa com a Revolução Francesa, que será o marco a partir da qual se darão mudanças que ditaram o fim do Antigo Regime – o dos privilégios de classe, tais como aqueles que tinham a nobreza e o clero. A partir de 1789 foram muitas as revoluções liberalizantes, umas com sucesso outras nem por isso, umas mais no sentido da democratização outras no sentido autoritário ou de defesa do domínio de certas elites.
Antítese da Calma - António Dacosta
Em Portugal, depois das invasões francesas, o século XIX foi muito rico em instabilidade, golpes e revoluções, no fundo não muito diferente das atribulações da Europa de então. O século XX não foi muito diferente, pelo menos se excluirmos os quase 40 anos que durou o Estado Novo e os últimos 25 anos do final do século. Se pela Europa fora as revoluções se davam tanto por força de mobilizações de civis e militares, por cá a regra parece ter sido quase sempre o domínio do militar. Lembremo-nos dos golpes de 1820 – o primeiro golpe de sucesso do liberalismo em Portugal – e de todos os restantes que daí em diante que foram apoiados ou dirigidos diretamente pelos corpos militares. Obviamente que o poder das armas e a organização da instituição marcial são os modos eficazes de conseguir fazer uma revolução política, fazendo cair à força o poder instituído. No entanto, o facto curioso prende-se com a própria natureza das organizações militares. Como sabemos, a estrutura dos exércitos não é, nem de perto nem de longe, democrática. Os soldados não elegem as chefias, nem a progressão na carreira militar se dá por voto de representação, nem sequer perante popularidade entre pares. Aliás, provavelmente o peso dos pares é mesmo insignificante, pois são hierarquias rígidas que dominam e às quais é necessário obedecer. Ou seja, o sistema militar tem muito mais de feudal e autoritário que democrático. Apesar disso foram, especialmente em Portugal, os militares que forçaram a implementação do liberalismo e depois da democracia, ainda que outros tenham, em determinadas circunstâncias, criado as condições para surgirem ditaduras. Esta relação entre militares e democracia não deixa de ser paradoxal. A explicação possível que me ocorre é que, estando sujeitos a códigos de conduta tão rígidos e hierarquizados, sabem melhor do que ninguém o valor que tem a liberdade. Outra opção poderá ser as da características da própria sociedade portuguesa, que nesses tempos, não muito distantes, ainda era muito ruralizada e facilmente controlável pelas elites tradicionais - se é que ainda não continua a ser. 

Referências bibliográficas
Medina, João. 1994. "História de Portugal Contemporâneo: Político e Institucional". Universidade Aberta.
Medeiros, C. A. (Direcção),2005-2006. "Geografia de Portugal". Círculo de Leitores
Ramos, Rui (coordenação), 2012. "História de Portugal". Esfera dos Livros
Rémond, René, 1994. "Introdução à História do nosso tempo". Gradiva.

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