Cores da Venus de Milo |
Os edifícios, estátuas e outras criações artísticas volumétricas da antiguidade eram coloridas. Aquelas belas estátuas de mármore, muitas delas em muito mau estado de conservação (muitas sem membros), da época clássica (grega e romana), eram completamente pintadas, e com cores bem fortes quando foram criadas. Por desconhecimento, os artistas da renascença - destacando-se a grande escultor Miguel Ângelo - tentaram recriar a perfeição das estátuas antigas, tal como os arquitetos tentaram recriar a arquitetura desses tempos imemoriais de glória artística, tentando seguir os modelos originais. No entanto o que lhes chegou foram apenas fragmentos e partes corrompidas e adulteradas pelo tempo e ação humana. Por exemplo, desconheciam, pois não havia meio de comprovarem, que todas essas criações eram pintadas.
Este conhecimento da policromia da arquitetura e estatuária clássica não é novidade, pois há já mais de dois séculos que arquitetos e cientistas como Souffort, Le Roy, Hittorf e Garnier começaram a descobrir essa surpreendente decoração [1].
A novidade passa pelas reconstituições que têm sido ensaiadas. Atualmente muitos investigadores (recorrendo a ultra-violetas e outros ensaios/técnicas) e artistas começam a tentar recriar a aparência dessas antigas [2][3]. O aspeto final pode ser de facto surpreendente, pois está ainda bem vincado no nosso imaginário coletivo as imagens de uma antiguidade decorada e construída em tons brancos, de serenidade e sobriedade. Afinal a realidade não era assim. O mundo antigo era colorido e vivo, às vezes até “berrante” [3][4]. Os artistas da renascença acabaram, através do engano da perceção a que foram induzidos, por criar um modelos estéticos diferentes daquilo que queriam imitar e recriar. A história está cheia destes acasos
Com base neste exemplo facilmente concluímos que muitas das ideias formadas que temos do passado são imprecisas pela informação alterada e deturpada que nos chegou. Também corremos o risco de sermos mal retratados no futuro, embora não talvez isso pouco nos deva preocupar. Quanto ao passado, o melhor será manter uma mente aberta e capaz de assumir as cores do conhecimento mais atualizado, pois não saberemos quais os erros e influências erróneas que podemos continuar a assumir como verdades vindas do passado.
Reconstituição da estatuária do Partenon - Atenas |
Referências:
[1] Choay, Françoise; 2010; "Alegoria do Património". Edições 70
[2] “Tracing the Colors od Ancient Sculpture”, video disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7UsYHo5iarM
[3] “True Colors”, disponível em: http://www.smithsonianmag.com/arts-culture/true-colors.html#
[4] ”El auténtico y colorido aspecto de las estatuas clásicas”, disponível em: http://es.noticias.yahoo.com/blogs/arte-secreto/el-aut%c3%a9ntico-y-colorido-aspecto-las-estatuas-cl%c3%a1sicas-121014767.html
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