sábado, 12 de maio de 2012

Curiosidades sociais sobre canhões em cidades do Sul de França


Fruto de algumas viagens, e recolher de informações em diversos locais por onde fui passando, lembro duas curiosidades sobre canhões em duas das maiores cidades do Sul de França. Ambas as “estórias”, apesar de o elemento relacional serem os canhões de fortalezas existentes nas cidades em causa, denotam elementos contraditórios sociais, para não dizer o antagonismo entre classes sociais
Os canhões destas estórias são os das cidades de Marselha e Nice, ambos pertencentes a fortalezas que defenderam, durante muitos anos, os portos e as próprias cidades. Hoje os canhões já não cumprem as suas funções. Em Nice quase nada existe da fortaleza,  e seus canhões, sob um jardim e miradouro – uma ruina que até assenta muito bem na cidade. Das fortalezas, ainda bem conservadas que protegem o Porto Antigo de Marselha, também já não se avistam canhões, ficaram apenas as aberturas de onde anteriormente espreitavam. Mas vamos às curiosidades propriamente ditas, vamos às "estórias".
Entrada do Porto de Marselha - Claude Joseph Vernet
Consta que no século XIX, na altura em que Nice era uma colónia balnear muito importante e muito frequentada por Ingleses – pela burguesia e nobreza inglesa, tendo a própria rainha Victória por lá andado -, um inglês teve uma ideia. Conta a lenda que, de modo a evitar que a sua esposa se esquecesse de preparar o almoço a horas – mais um reforçar da ideia da grande pontualidade dos ingleses -, o tal inglês mandava disparar, exatamente às 12h00, do alto do monte do antigo forte (mesmo junto ao porto), um dos canhões. Hoje, todos os dias pelas 12h00, continua a ouvir-se o ecoar do som do canhão em Nice, embora tal seja assegurado por um moderno sistema de som de grande potência. O canhão já não se dispara, mas para os distraídos turistas, o susto, provavelmente, é o mesmo.
Já em Marselha, diz a história – desta vez com “h” - que os canhões, dispostos nos vários fortes e complexos defensivos, apontavam em duas direções distintas - no sentido figurado. Os canhões, como em todas as fortalezas do género, apontavam para os pontos estratégicos a defender, aqui especialmente para a entrada do porto, que era a grande riqueza deste que foi um dos maiores portos da Europa. No entanto, consta também que os canhões dos fortes apontavam, em simultâneo, para a própria cidade, especialmente para os bairros mais populares. A razão de ser disto deveu-se ao grande historial de revoltas que foram acontecendo por Marselha ao longo da história, especialmente no século XVIII e XIX. Não é por acaso que o hino de França, adotado depois da revolução francesa, se chame “A Marselhesa”. 
Muitas leituras se poderão fazer destas duas histórias/estórias sobre tão particulares canhões. Mas, é evidente que existe aqui uma relação dicotómica e até luta entre classe: enquanto em Nice o canhão servia os caprichos dos mais abastados, em Marselha oprimia dos menos afortunados. As armas sempre tiveram essa particularidade: a de servirem para benefício de quem as dispunha...

Nota: qualquer roteiro turístico contará estas mesmas histórias, e também os autóctones de ambas as cidades. 

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