segunda-feira, 28 de maio de 2012

As adaptações dos rituais cristãos – A adaptação de toda a construção humana


Poucas construções humanas são imutáveis, ainda mais aquelas que não têm a substância da ocupação de um espaço físico. Se mesmo um edifício, monumento ou construção física, com o passar dos anos, se vai degradando, rearranjado, reabilitando, mudando os usos e os fins, e até ficando completamente transfigurado, que dizer de todas as construções humanas não físicas que ainda estão mais sujeitas às mudanças culturais, sociais, psicologias e outras mais influências metafísicas?
O Sacrifício de Isaac - Caravaggio
Tal inevitabilidade pode ser vista como progresso ou degeneração. Tais mudanças, e desenvolvimentos divergentes perante as próprias origens, em movimentos originais ou de fusão e influência do já existente, são bem evidentes nas religiões. Pensando no caso do cristianismo existe nessa mesma religião ambos os exemplos. Se o cristianismo foi revolucionário no seu universalismo, na igualdade doutrinária que se associa à igualdade de todos os homens perante Deus, já no que toca aos ritos e rituais foi muito pouco original.  Segundo David Nicholas, importante historiador norte-americano, na obra “A Evolução do Mundo Medieval”, o cristianismo pediu emprestado a outras religiões muitos dos seus rituais. Por exemplo: os cristãos começaram a celebrar o nascimento de Jesus por volta do Festival de Saturno; A Páscoa Cristã era calculada segundo o equinócio da Primavera, associada ao Festival do Sol, mas também acontecia em simultâneo com a Páscoa Judaica; A forma da cerimónia do batismo foi retirada do culto de Mitra (que fora batizado com sangue de touro); Mesmo o conceito polémico da transubstanciação tem semelhanças com outros cultos religiosos. Para além destas, muitas mais influências exteriores teve, quer no clero, quer na arquitetura religiosa, quer em muitos outros aspetos.
O autor diz ainda que muitos dos rituais foram deliberadamente adotados para que os romanos, e os povos que viviam no seio do seu império, não os achassem tão estranhos. Ter só um deus era estranho, não o representar mais estranho era, e não ter rituais era simplesmente incompreensível para a mentalidade religiosa da época. 
Ainda hoje várias religiões usam de técnicas várias para cativar novos crentes e se inserirem em comunidades que lhes podem ser estranhas. Algumas, como por exemplo os pregadores do cristianismo mais evangélico, cuidam muito do seu aspeto quando se apresentam junto das populações. O seu aspeto, linguagem e abordagem é pensada e trabalhada para causar o máximo de simpatia – isto sem qualquer juízo de valor sobre a sinceridade de tais condutas. Tal opção não é de estranhar, até porque noutras atividades, especialmente nas mais comerciais, a opção é mais ou menos a mesma: a marca, a personalidade, a ideia, o valor, o conceito adapta-se, quase sempre, ao meio
Depois há sempre quem queira, apesar de tudo, voltar às origens, mesmo que as origens sejam pouco ou nada originais, ou de tal modo diferentes do atual contemporâneo que ficariam irreconhecíveis ou outra coisa completamente diferente e contrária aos próprios princípios pelos quais encetaram tal demanda.

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