Sim, podemos dizer que a melhor defesa (ou complexo de defesas) militar da História, ou pelo menos aquela que foi mais eficaz por ter sido intransponível, fica em Portugal. Provavelmente, quando se fala em grandes e eficazes defesas pensa-se em grandes e altos castelos medievais ou em arrojados e recortados fortes pós renascentistas (ver texto relacionado).
Batalha da Roliça - Thomas Sutherland |
Mas, a aquela defesa a que me refiro não se assemelha a nada disso. Falo das Linhas de Torres Vedras, o complexo de fortificações construído para defender Lisboa durante as Invasões Francesas. Este sistema era constituído por redutos, baterias, paliçadas, taludes e por um magistral aproveitamento do terreno, potenciando ainda mais os obstáculos naturais - os grandes declives e as linhas de água - na sua capacidade defensiva. No fundo, mais do que um majestoso e resplandecente conjunto de muralhas, morro, torres, baluartes e afins, a Linha de Torres Vedras era composta por elementos simples, improvisados - sem grande estética ou beleza -, pouco duráveis - dai pouco hoje sobrar -, mas que permitiam e davam uma confortável vantagem defensiva a quem as ocupasse. Vantagem tão grande que nunca foi ultrapassada pelo exércitos agressores contra os quais foi construída - os exércitos de Napoleão. Para as Linhas de Torres Vedras foram construídas 152 fortificações, contendo 523 peças de artilharia, munições e outros mantimentos, muitas vias de ligação e sistemas próprios de comunicação - sistema de balões e bandeiras -, tal como sistemas de drenagem de águas e esgotos.
O projecto foi liderado e conduzidos pelos Ingleses - os velhos aliados da nação Lusa (ver texto relacionado) -, que vieram, propositadamente, no inicio do século XIX para ajudar no combate aos Franceses, mas executado por mão-de-obra nacional. Parece que foi também incrivelmente barato, tendo em conta o volume, complexidade e celeridade dos trabalhos. Estima-se que tenha custado, à moeda actual, 300.000 euros.
Passados hoje já quase 2 séculos sobre estas construções, que podemos nós aprender dela e por ela para a nossa actualidade? Será que somente com lideranças estrangeiras e força de trabalho nacional conseguimos construir algo barato, funcional e cumprindo os prazos? Bem, penso que não, pois isso seria demasiado pessimista! Mas parece-me que podemos concluir que, trabalhando em equipa, aproveitando os pontos mais fortes de todos os envolvidos e dos recursos disponíveis, tanto ontem como hoje, seremos capazes de feitos consideráveis.
Nota: A grande maioria destas informações foram retiradas do artigo "Adeus, Napoleão! - a defesa mais eficaz da história é Portuguesa" da edição de Novembro de 2010 da revista Super Interessante. O texto do artigo original pode ser consultado, quase na integra, no blogue "Clube de história de Valpaços" em: http://clubehistoriaesvalp.blogspot.com/2011/02/adeus-napoleao.html.
Micaelamigo
ResponderEliminarAdoro História, tanto como adoro escrever e tanto ainda como adoro ler.
Este testículo (com x...) é excelente e era óptimo que fosse lido por muita gente. Eu moro numa perpendicular à Alameda das Linhas de Torres. Na rua, tenho-me dado à «loucura» de perguntar a diversas pessoas a razão do nome da artéria, olham-me espantadas e perguntam-se se é alguma sondagem? E... não sabem. Assim vamos (sobre)vivendo.
Abç
PS (sou, mas aqui é Post Scriptum) - Gostarei de te ver lá pela Travessa. Obrigado
Muito obrigado pelas suas palavras caro Henrique. Confesso que a História é também uma paixão pessoal, uma dedicação informal e muito "amadora" - penso que se nota!
ResponderEliminarNão me surpreende a reacção que descreve. Por vezes parece que aos portugueses não interessa ou preocupa descobrir a razão das coisas. Coisa estranha para um povo que descobriu e fez descobrir o mundo.
Sobre o seu PS, tenho de fixar a reflectir sobre que travessa se refere.
Muito obrigado eu pelas suas palavras.
Abraço
Tempos loucos, mas também heróicos, um povo em armas, a morrer, a sofrer, a lutar, a ajudar e a ser ajudado pelos Ingleses.
ResponderEliminarPara quando ratificar esse célebre, mais antigo do mundo, tratado de amizade e cooperação com os Ingleses? É que ele subsiste nos documentos históricos, nunca foi denunciado (apesar da prepotência do mapa-cor-de-rosa), mas, na actualidade, quando o invocamos, é só lérias!
Há tempos, em 21 de Novembro de 2008, assisti ao lançamento dum livro, na Casa-Museu Mário Soares, em que David Buttery escreve "Wellington contra Massena - a terceira invasão de Portugal 1810-1811" em que discorre com muita documentação sobre as linhas de Torres Vedras e a derradeira e encarniçada batalha de Fuentes de Oñoro.
Este autor apresenta versões contraditórias de alguns testemunhos contemporâneos, que continuam a intrigar os historiadores e a confundir o nosso entendimento do conflito.
Valerá a pena estarmos agora a dissecar essas divergências testemunhais?!
Abraço
Caro Nunes, acho que vale sempre a pensa enveredar por processos de enrequecimento e de novas aquisições de saber.
ResponderEliminarÉ uma mudança radical! Da melhor defesa passamos para ausência de defesa! Que mudança!...
ResponderEliminarEntretanto o texto é muito optimista e elucidativo... um apelo a que os portugueses aproveitem o que têm de melhor. A velha máxima de que a união faz a força, não esquecendo claro a inteligência e espírito aberto. É este último que deixa qualquer pessoa consciente angustiada... as pessoas com o medo que estão, não têm de forma nenhuma o espírito aberto. O Ego e o seu lado sombrio como o medo, a ganância e outras coisas negativas, impedem o espírito de se manifestar.
Micael... muito bom o post. Estou sempre a aprender e a relembrar o que tinha esquecido.
Uma boa semana e um abraço.:)
Sim, de facto, não consigo ser pessimista. Aliás, nem considero que isso seja uma opção pragmática.
ResponderEliminarAcredito que a melhor defesa histórica fique em Portugal, mas o que parece certo é que Portugal está sem defesas históricas...
ResponderEliminarBasta olhar para as calinadas que fizeram naquele vídeo para os filandeses! Entre algumas de que já se deram conta por serem mais banais, vou realçar aqui outra:
Em relação ao Japão diz-se que "Arigato é uma palavra portuguesa"! - mentira! O correcto seria dizer de origem portuguesa! Tal como "leque" é uma palavra portuguesa de origem japonesa.
Um abraço
Teremos sempre a melhor das defesas, a capacidade humana de erguer novas defesas.
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