terça-feira, 15 de março de 2011

Serão as Redes Sociais um perigo intelectual?

Parece que lá nos confins da Grécia Antiga, lá para os lados da Atenas Democrática, Sócrates, aquando do auge da influência de em vida, dizia temer a escrita. Parece que o filósofo tinha receio de que a o acto de escrever e ler, em vez do falar e reflectir sem auxiliares físicos, contribuísse para que as pessoas ficassem esquecidas. Ou seja, como podiam escrever tudo, não tinham de exercitar a memória. Curioso é que conhecemos estes receios de Sócrates porque Platão usou da temida escrita para nos legar essas informações. 
Os condutores - Fernand Léger
 
Hoje, e a propósito de um artigo da revista Super Interessante, intitulado de "Dissidentes Digitais", da edição mensal de Novembro de 2010, alguns pensadores e investigadores temem também os efeitos da tecnologia na intelectualidade, mais propriamente as Redes Sociais e a própria Internet.
Segundo esse artigo Nicholas Carr adverte para os "efeitos devastadores nas nossas aptidões cognitivas" e para a redução drástica da "capacidade de concentração". Refere-se que Jaron Lanier considera a capacidade de qualquer um fazer divulgações, e interacções por comentários ou outros, torna difícil de reconhecer o talento dos criadores e a qualidade do que se produz. Ainda no mesmo texto Lee Siegel é apresentado como o mais incisivo dos detractores das Redes Sociais, desvendando porventura o cerne das críticas negativas: "a Web 2.0 [onde se incluem as redes sociais] destrói a autoridade dos especialistas e afecta de uma forma muito negativa o progresso da sociedade e da cultura".
Mas parece que nem todos os opinantes destes assuntos, pelo menos os que o artigo revela, se opõem às novas possibilidade da Web 2.0. O texto refere Michael  Agger que considera muitas das ideias anteriormente citadas como o reflexo de uma elite que teme perder a importância e peso intelectual que detinha até há pouco tempo. Agger considera positiva a democratização da rede e todas as possibilidades de partilha e troca de ideias que permite.

Todo o tipo de receios acerca da Web 2.0 não devem seguramente ser ignorados, havendo muitos que fogem para além das temáticas aqui tratadas, nomeadamente a segurança de menores e a privacidade quando é inconsciente e irreflectida. No entanto, do ponto de vista da informação, há que ter em conta a qualidade dos conteúdos que vamos partilhando. Os padrões mínimos terão de ser estabelecidos pelos próprios utilizadores da rede. Isto será verdadeiramente um reflexo democrático e que pode potenciar o espírito crítico e intelectual, uma vez que terá de ser cada utilizador  a fazer o filtro entre o que pode ter interesse e qualidade.

Já não é primeira vez que refiro aqui no blogue a necessidade de haver cada vez mais formação para lidar com toda a informação que nos chega, especialmente se pensarmos que isso está também relacionado com o próprio exercício da cidadania em democracia - a cidadania só é plena quando informada. Sendo parte dessa informação e saber, que do meu ponto de vista interessa cultivar, a capacidade de não temer a tecnologia e dela tirar o melhor proveito, tal como fez Platão na altura quando começou a usar a escrita para registar filosofia. Quão pobres estaríamos se não se Platão, tal como muitos outros, tivesse temido a tecnologia?

9 comentários:

  1. Não posso deixar de confessar que a minha capacidade de concentração diminuiu desde que sou um utilizador compulsivo da internet...Por acaso isso é mesmo curioso e preocupante...

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  2. Olá Micael, muito se tem falado sobre isto nos últimos tempos. Penso que o uso das redes sociais implica grandes mudanças na nossa forma de pensar.
    É verdade que cada vez mais notamos uma diminuição da capacidade de concentração, mas isso é um problema que já apareceu com a televisão.
    Tenho que concordar que, com as redes sociais é mais difícil reconhecer talento. No entanto temos que nos perguntar se isso não é algo que sempre existiu, só que, com as redes sociais passamos a ver mais dessas situações.
    Abraços

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  3. Afinal algumas pessoas, a atender aos comentário que o texto já recebeu, até assumem terem sentido alguns dos supostos efeitos negativos intelectuais devido ao uso das Redes Sociais. Então e os bons? Bem esses saltam à vista, demonstrados pela possibilidade de ler este tipo de coisas, pensar sobre elas e poder entrar no debate - tudo via Web 2.0. No entanto, isto não significa que a qualidade dos conteúdos esteja garantida!

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  4. Os comentários ao texto continuam a acumular-se, ainda que dispersamente e nem todos no próprio blogue a maioria nas várias Redes Sociais. Será o sinónimo da dispersão que provocam as redes sociais?

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  5. Pois eu deixei práticamente de estar sentada diáriamente em frente de um PC, a vasculhar pela blogosfera. Antes com o FB e a rede blogger, notei que cada vez mais corria compulsivamente para a net. Depois de um climax de SPA ou síndrome de pensamento acelerado, e todos os seus efeitos devastadores, um deles era a total incapacidade de estar atenta ao que me rodeava no mundo real, problemas de sono, algo que não tinha tido nunca, aumento de peso... lá se foi a "linha", queda de cabelo, falta de memória etc. tive de me desligar por completo das redes sociais e do mundo virtual. É de notar que só comecei a lidar com um PC dois anos antes.
    Agora, passado um ano estou recuperada, excepto o cabelo, mas nunca mais voltarei a ser compulsiva... embora por vezes tenha que fazer uma força para me dominar. Será que causa dependência? Eu afirmo que sim, mas isso sou eu... Da mesma forma que de uma vez por todas, acabei com a TV cá em casa há uns anos, pelos seus efeitos secundários, um deles é acabar com o diálogo entre a família, outro, as mensagens subliminares. Não notamos a falta de tal aparelho, pelo contrário, só é usado para um filme em DVD de vez em quando, uma vez que mandei tirar a antena.
    Tudo tem o seu lado bom e seu lado mau. A WEB, parece ter ambas as coisas, na TV, só conseguia ver o lado mau, manipulação do subconsciente.
    Quanto à sua pergunta, Micael, parece-me ser de retórica, uma vez que tanta rede social, causa mesmo dispersão... tanto na web como depois no mundo real. Tenho de seleccionar, sim e este é um bom blogue.
    Parabéns. :)

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  6. Muito obrigado pelo seu comentário que é um verdadeiro testemunho. Pessoalmente também dou por mim, por vezes, demasiado absorto e embrenhado na blogosfera e Redes Sociais. Concordo que tem de haver um ponto de equilíbrio de modo a aproveitar o melhor da tecnologia, sem que isso se torno perverso ou nos prejudique. Há que ter consciência disso.
    Sim, a pergunta era mesmo algo retórica. Muito obrigado pela resposta que deu, melhor elogio - capaz de motivar para continuar - não me parece poder haver.
    Sim, a pergunta era mesmo algo retórica. Muito obrigado pela resposta que deu, melhor elogio - capaz de motivar para continuar - não me parece poder haver.

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  7. Olá Micael

    Venho aqui poucas vezes, que o tempo não dá para tudo, e sabe que ando mais pelos lados do Movimento anti-corrupção :)

    Mas vejo que a minha querida irmã Fada do Bosque, que me ajudou a criar, no primeiro ano, a minha criança virtual que agora tem 2 anos (Sustentabilidade é Acção), lhe tem feito companhia por estes lados!

    Quanto às redes e blogues, é preciso ter cuidado com o tempo e com a informação, pois demasiada informação torna difícil a compreensão do mundo que nos rodeia. Mas a ignorância em que a TV junto com a falta de ler nos deixa, também não ajuda nada. Há que seleccionar mesmo, e não nos deixarmos perder com o irrelevante.

    Por outro lado, na "busca pela sabedoria", há hoje em dia um grave erro a evitar: o só querer saber de um assunto, erro que muitos cientistas actuais cometem, deixando que a "indústria" os use para as maiores atrocidades.

    E a Fada tem razão: este é um bom blogue! Parabéns pelo blogue e pelo seu activismo na luta contra a corrupção, espero que continue com essa força. E agora vou votar contra a corrupção no BOBs mais uma vez.

    Bom fim de semana

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  8. Muito obrigado pelo comentário Manuela.

    Partilho da opinião de que, apesar de uma dose considerável de especialização é necessária, ela deve ser acompanhada de um forte bagagem de outros saberes e outras áreas. Nem que seja para alargarmos horizontes, permitir novas perspectivas e estarmos prontos para trabalhar e aprender em conjunto. Já para não falar que gera empatia entre "áreas do saber" e até desenvolve o espírito democrático.

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  9. Estamos usando a internet para discutir as implicações dela mesma. Esta duscussão seria possível sem o suporte tecnológico?

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A Busca pela sabedoria - criado em Agosto de 2009 por Micael Sousa



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