segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Como os bancos criam moeda virtual e a alternativa do Bitcoin

No documentário ”Bitcoin: O fim do dinheiro como nós o conhecemos”, da autoria de Torsten Hoffmann, faz-se uma breve introdução à história do dinheiro, mas o objetivo é projetar no futuro como será o sistema monetário e financeiro. No documentário é abordado conceito de moeda virtual conhecido como Bitcoin, que permite criar um modelo monetário internacional sem intervenção estatal nacional e bancário, em teoria imune a criação descontrolada de moeda fiduciária (que depende apenas da confiança que nela se deposita). Ou seja, apesar do Bitcoin ser uma moeda virtual permitiria controlar a multiplicação de dinheiro virtual no sistema financeiro internacional, basicamente porque evita replicação de crédito para além da quantidade de moeda preestabelecida. Ou seja, ao contrário de um banco, que pode emprestar dinheiro que não tem de facto, criando artificialmente nova moeda na economia, com o Bitcoin implementado de forma generalizada tal não seria possível, pois o dinheiro só é transferido se existir ainda que seja um número virtual. Isto pode parecer estranho, mas vamos aprofundar um pouco mais esta temática, com base nas informações presentes no documentário já referido.
 
Mercadores a contar dinheiro - Salomon Koninck

Os Estados, desde o momento em que abandonaram a relação com o padrão ouro das suas moedas, podem emitir a quantidade de moeda que entenderem, sendo que os limites são apenas definidos pela reação do sistema financeiro a essa emissão de moeda. Ou seja, não necessitam de ter essa quantidade de dinheiro a circular na economia equivalente ao ouro nas suas reservas nacionais, basta haver confiança de que aquele papel ou metal vale o que nele se inscreve, daí o termo fiduciário que é um sinónimo de “confiança”. Habitualmente são os indicadores de inflação e deflação que levam à produção de moeda, tal como da confiança dos seus utilizadores. Se existe inflação e aumento dos preços evita-se produzir mais moeda pois é uma forma de impedir que o dinheiro circulante desvalorize e os preços aumentem ainda mais. Por outro lado, com a deflação produz-se mais moeda, de modo a desvaloriza-la, encorajar o consumo e evitar que se acumule dinheiro com a espectativa de ganhos futuros, uma vez que o dinheiro acumulado tende a valer menos com cada nova emissão de moeda. Simplesmente deixa de compensar ter o dinheiro “parado” e os detentores de capital são impelidos ao investimento. A tudo isto, tanto pela via da inflação e deflação, tem uma relação com a especulação financeira, uma vez que existe grande imprevisibilidade pela complexidade destes sistemas que são altamente reativos.

Neste documentário de Torsten Hoffmann refere-se também o efeito dos bancos que, ao acumularem e emprestarem dinheiro, através dos saldos negativos, criam moeda artificial na economia. De modo simplificado: se um banco tem mais dinheiro em crédito do que tem na realidade em depósitos e ativos acaba por colocar mais moeda em circulação na economia do que realmente deveria existir. E este fator multiplicativo pode ser grande se o pensarmos enquanto sistema de depósitos, investimento e empréstimos em que o mesmo dinheiro é continuamente investido e emprestado na forma de dívida que pode não corresponder aos ativos e onde existem múltiplos lucros potenciais relacionados com algo que na prática não existe.

Em teoria, segundo os defensores do Bitcoin, um sistema económico com base nesta moeda poderia ser menos propenso a crises e a bolhas especulativas. Seria supostamente mais estável, ainda que os Estados perdessem parte dos seus meios de intervenção na economia através da manipulação da moeda. Paradoxalmente, seria um sistema altamente restritivo mas incrivelmente liberal pois impedia a intervenção estatal. Ou seja, seria liberal e restritivo em simultâneo, virtual mas real por não crescer descontroladamente.

Não sou economista e muito menos especialista em sistemas financeiros e bancários, mas o documentário é interessante para explorar estas questões e para tentarmos perceber a complexidade do sistema financeiro e monetário que utilizamos todos os dias, tal como perceber que existem alternativas ao dinheiro, tal como o conhecemos.
 
 
 

 

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