quarta-feira, 12 de abril de 2017

A nossa sociedade é mais acelerada?

Quando uma funcionária de uma livraria, que por acaso até é minha amiga, me recomendou Byung-Chul Han, por conhecer mais ou menos aquilo que me interessa ler, acabei por aceitar a sugestão e experimentar. A informação da contracapa despertou-me interesse, tanto pelo conteúdo como pelo autor. Tratava-se de livro “O Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a arte da demora”, da autoria de um filósofo contemporâneo coreano-germânico, professor na universidade de Künste Berlin (Artes de Berlin), especialista em Heidegger.

Retrato do Dr Gachet - Van Gogh

Byung-Chul Han propõe-se a contrariar a ideia de que vivemos atualmente de modo mais acelerado. Para ele isso é apenas uma ilusão resultante do modo como as sociedades se organizam e de como os indivíduos vivem as suas vidas. Esta sensação de aceleramento ocorre pelo efeito da atomização e da queda das barreiras que dividiam e estruturavam o nosso tempo. Apesar de fazermos e conseguirmos fazer muitas coisas em simultâneo não existem as pausas que nos davam a sensação de avanço gradual e/ou sequencial. Assim vivemos a nossa vida num contínuo de atividades e tarefas sobrepostas que não nos preparam para o fim, para a morte. É aqui que sentimos a influência de Heidegger em Byung-Chul Han, na consciência da mortalidade humana, de que da condição humana faz parte a inevitabilidade da morte: o “Homem é um ser para a morte” - tal como diz uma amigo meu.

Assim Byung-Chul Han refere-se então à aceleração ilusória que nos encaminha para a morte sem preparação, sem as pausas de contemplação, compostas de pequenos fins, que criam as defesas para a inevitabilidade do fim último: a morte.

Byung-Chul Han parece demonstrar um certo sentimento neoplatónico, ao fazer a apologia da contemplação como necessidade na criação das barreiras – um tempo de pausa - que dissipam a sensação de aceleração.

Passando para exemplos mais concretos. Hoje temos dificuldade, por exemplo, em definir até quando se é jovem ou quando se pode considerar alguém idoso. Reina um certo relativismo que tenta suavizar a velhice e a morte. Nas atividades poucos são os profissionais que se podem dar ao luxo de ter apenas uma tarefa ou actividade em mãos. Os horários flexíveis permitem realizar o individualismo, mas podem deixar as pessoas desamparadas perante as incertezas crescentes do mundo.

Só por nos fazer pensar nestas questões Byung-Chul Han merece ser lido. É seguramente um filósofo a seguir com atenção, com tempo para contemplar as suas palavras.


Referências bibliográficas:

Han, Byung-Chul - O Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a arte da demora. Lisboa: Relógio d'Água, 2016.

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