terça-feira, 7 de outubro de 2014

As caravelas terão descoberto o caminho marítimo para a Índia?

Quando se faz alguma alusão aos descobrimentos portugueses de imediato surgem as caravelas. Essa embarcação, devidamente adaptada pelos portugueses à exploração marítima, foi muito importante, mas não foi com caravelas que os Portugueses chegaram, por exemplo, à Índia.
Chegada das Relíquias de Santa Auta à Igreja da Madre de Deus - Gregório Lopes

Para começar, um dos primeiros grandes marcos do início dos descobrimentos foram as descobertas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira e do dobrar do cabo Bojador, em 1434, sob influência da política dos descendentes de D. João I. No entanto essas descobertas foram feitas em barcas (que eram pequenas embarcações de um só mastro, com vela quadrada e quase sempre sem coberta, onde se recorria A remos habitualmente. Gil Eanes foi além Bojador numa barca [2], e não numa caravela, talvez porque a tecnologia ainda não estivesse disponível na altura. Por outro lado, Vasco da Gama chegou a índia em naus, e não em caravelas, isto porque para tão grande viagem eram necessários barcos de maior tonelagem, que levassem mais tripulação e tivessem mais capacidade militar (algo que as caravelas não garantiam).
As caravelas foram utilizadas principalmente na exploração do golfo da Guiné e do Atlântico Sul, e é fácil perceber porquê. Chamavam-lhe mesmo caravelas de exploração. As caravelas eram muito manobráveis, capazes de bolinar (navegar contra o vento fazendo ziguezagues de modo a potenciar a capacidade que as vela triangulares tinham em aproveitar os ventos rasantes), navegar em rios desconhecidos dado o baixo calado (a profundidade que o barco se afunda na água em condições de navegação), possibilidade de utilização de remos e de ter algumas pequenas peças de artilharia e carga ligeira [2].
As caravelas terão sido utilizadas na segunda metade do século XV (com referências ao termo a partir de 1441)[1] . Há a certeza que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas com uma caravela, o que é justificável, pois era uma missão de exploração por águas completamente desconhecidas, em que se exigiam as características das caravelas. Depois de definida a rota de passagem então vieram as naus - podendo justificar o hiato temporal de 10 anos entre o dobrar do cabo e a chegada à índia -, com muito mais capacidade de tonelagem, muito mais resistentes e com maior poder militar. Quanto muito terão chegado à índia versões posteriores de caravelas (redondas) de maiores dimensões como embarcações de apoio [2], mas estavam longe de ser as primeiras caravelas de exploração.
Algo também curioso é que o Infante D. Henrique pode nunca ter “mandado” caravelas em missão, dado que morreu em 1460, e à partir de 1440 pareceu andar mais preocupado com a expansão territorial no norte de África que com a exploração costeira para sul [3].
Assim as caravelas contribuíram para a descoberta do caminho marítimo para a índia, numa parte do percurso, mas não foram elas que iniciaram nem concluíram a demanda.
 
Referências bibliográficas
  • Bethencourt, Francisco (dir.). "A expansão marítima portuguesa - 1400-1800", Edições 70, 2010.
  • Domingues, Francisco Contente. “Navios Portugueses dos Séculos XV e XVI”, Cadernos da Câmara Municipal de Vila do Conde, Minerva, 2006
  • Godinho, Vitorino Magalhães. "A Expansão portuguesa quatrocentista", Dom Quixote, 2008.
 

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