Engels (companheiro ideológico de Marx e co-autor do Manifesto do Partido Comunista) dizia, anos depois da morte do seu camarada que Marx não era Marxista. Não sei a verdadeira acepção desta afirmação, nem sequer se é mesmo verdadeira, mas arrisco-me a avançar com uma explicação – pura especulação é claro -: muito provavelmente Engels reprovava o caminho pelo qual estavam a enveredar os “marxistas” de então.
Bem, mas pretendia falar de Lenine e não de Marx, pois Lenine, para além de teórico e pensador político, foi também líder e Chefe de Estado, tendo tido a oportunidade pouco comum de passar dos ideais aos actos. Segundo alguns estudos: “Lenine foi-se afastando do Marxismo ideológico e utópico ao longo dos anos que foi governando o Estado Soviético”. Estas afirmações constam do primeiro episódio da série de documentários: “Comunismo – História de uma Ilusão”, da autoria de Peter Glotz e Christien Weisenborn. O que se escreve de seguida baseia-se nesse documentário
Bem, mas pretendia falar de Lenine e não de Marx, pois Lenine, para além de teórico e pensador político, foi também líder e Chefe de Estado, tendo tido a oportunidade pouco comum de passar dos ideais aos actos. Segundo alguns estudos: “Lenine foi-se afastando do Marxismo ideológico e utópico ao longo dos anos que foi governando o Estado Soviético”. Estas afirmações constam do primeiro episódio da série de documentários: “Comunismo – História de uma Ilusão”, da autoria de Peter Glotz e Christien Weisenborn. O que se escreve de seguida baseia-se nesse documentário
Vencer os brancos com a força vermelha - El Lissitzky |
Após a Revolução Russa de 8 de Março de 1917 (segundo o calendário gregoriano) que ditou a queda do regime monárquico Czarista (monarquia russa – Czar deriva de César, numa relação directa com os imperadores romanos que adoptavam o nome em honra a Júlio César), muitos foragidos do regime e exilados voltam à Rússia - Lenine era um deles. De imediato, assim que volta à Rússia, Lenine envolve-se nas lutas políticas pelo domínio do país, aproveitando o momento de instabilidade política e vazio de poder. Através das suas capacidades intelectuais, das suas experiências e activismo político durante o combate ao Czarismo, da fama que granjeou durante o período de exílio na Europa Ocidental, do seu carisma e da sua impecável oratória, Lenine assume um papel de destaque no Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).
Lenine a proclamar o poder Soviético - Valentin Serov |
Numa das votações internas do partido Lenine apresenta propostas que tendiam para a opção revolucionária, para o socialismo radical de inspiração marxista, mais militante e fechado que defendia a ditadura do proletariado em detrimento da democracia parlamentarista. Nesse dia as suas propostas e ideias foram votadas e aceites por uma maioria mínima do POSDR a quem chamou de Bolcheviques (significa literalmente maioritários em Russo), tendo apelidado os restantes militantes que dele discordavam de Mencheviques (minoritários).
Aproveitando a instabilidade política e o facto de se ter assumido como o líder dos Bolcheviques, que ganhavam cada vez mais poder neste período conturbado e do sucesso da revolução vbolchevique de Outubro de 1917, Lenine intervém directamente nos assuntos de Estado e políticos da Rússia. Participa nos acordos com os Alemães que, apesar de extremamente lesivos, permitiram à Rússia sair da 1ª Guerra Mundial. Mas é só depois de uma Guerra Civil, entre os Bolcheviques/Sovietes (apoiantes de Lenine) e um conjunto de opositores que defendiam o antigo regime ou a via democrática, que Lenine consegue consolidar o seu poder e evitar o retorno ao antigo regime ou uma nova opção com base no parlamentarismo democrático. Ao derrotar os seus opositores Lenine, Bolcheviques e Sovietes (Concelhos de Operários, Soldados, Agricultores e outros organizados segundo o modelo comunista) garantem a implementação do primeiro Estado Comunista, que tendencialmente caminhou para o Totalitarismo.
De modo a fortalecer o seu poder Lenine defendeu o policiamento e o Estado repressivo para combater aquilo que definia como “Irracionalidade das Massas”, demonstrando a aversão aos ideais democráticos. Actividade esta que Estaline continuaria e aperfeiçoaria a uma escala industrial nas décadas vindouras, tendo condenado milhões de Russos à prisão, trabalhos forçados e à morte.
Passado todo esse período conturbado e muitas outras crises internas, em 1921 Lenine viu-se forçado a alterar e a reformular o sistema político, económico e social da Rússia Soviética Comunista. Depois de anos de fome, de decadência económica, de clara diminuição das condições de vida das populações e do enfraquecimento da nação, Lenine colocou de lado muitos dos princípios socialistas e marxistas. Implementou e fortaleceu um sistema que promoveu e defendeu a propriedade privada e o mercado livre - Trotsky e Estaline mostram-se descontentes por esta nova reorientação. Chegam a ser convidados Burgueses Europeus para dar novo impulso à economia da Rússia de então. Volta a circular dinheiro. Com isto, num curto espaço de tempo, as condições de vida no País melhoram visivelmente. Mas em 1922 a doença toma Lenine, obrigando-o a retirar-se do poder e da política. Morre em 1924. A Este período ficou conhecido de "Nova Política Económica".
Posto isto então: Será que Lenine nos seus últimos anos de vida, depois de ter sentido as dificuldades da governação, não terá questionado os seus próprios ideais? Será que Lenine se manteve no fim verdadeiramente Marxista?
O trabalho é essencial, a espingarda está perto - Vladimir Lebedev |
De modo a fortalecer o seu poder Lenine defendeu o policiamento e o Estado repressivo para combater aquilo que definia como “Irracionalidade das Massas”, demonstrando a aversão aos ideais democráticos. Actividade esta que Estaline continuaria e aperfeiçoaria a uma escala industrial nas décadas vindouras, tendo condenado milhões de Russos à prisão, trabalhos forçados e à morte.
Defender a URSS - Valentina Kulagina |
Posto isto então: Será que Lenine nos seus últimos anos de vida, depois de ter sentido as dificuldades da governação, não terá questionado os seus próprios ideais? Será que Lenine se manteve no fim verdadeiramente Marxista?
Este texto levou-me a rever o excelente documentário "Comunismo – História de uma Ilusão" com ainda mais atenção...
ResponderEliminarUm abraço
Tenho de admitir que este foi um dos textos mais trabalhosos, especialmente na quantidade de informação que tive de cortar. No entanto admito que ficou longo, o que me levou a acrescentar mais imagens, tendo para isso escolhido propaganda soviética da época.
ResponderEliminarPude ver uma parte do documentário. Existem coisas da essência humana que tornam este mundo pior, ou mesmo mau. A ilusão já rendeu muitas epopeias, martírios, execuções e genocídios.
ResponderEliminarPara além disso, muitos acreditaram que o comunismo trouxesse mais justiça e igualitarismo. Surgiram ditadores comunistas iguais ou muito piores do que os outros.
A partir do momento em que as pessoas se interessaram pela pose de Lenine, deixaram de ligar importância às suas ideias. Lenine surge como o pai da República Soviética, o homem que permitiu que a revolução triunfasse, o grande dirigente sem o qual não existiriam. O acontecimento foi mundial e, ligado ao génio de Lenine que fez crêr, que sem ele a revolução e a história do mundo teria tido um rumo completamente diferente.
Lenine adaptou-se bem às necessidades da revolução e que se pode dizer que concluíu a obra dessa classe, que ele tanto combateu abertamente. Ele não fez mais do que aceitar a verdadeira revolução camponesa, que se desenrolava independentemente dele e dos outros, e foi o apoio do povo que o manteve no poder. Ele nunca quis ser algo mais do que o discípulo de Marx, mas pretendia ser um político prático, enquanto que Marx foi um político teórico. As suas obras teóricas são quase exclusivamente de natureza polémica. Ataca os inimigos teóricos e outros do marxismo, com o qual se identifica. Lenine prestou talvez um grande serviço ao marxismo.
A união da teoria e da prática, eram preocupações constantes de Lenine, e lhe foi recusado, e os êxitos que pôde alcançar, longe de o aproximar do seu objectivo, simplesmente afastaram-no.
A situação que hoje existe na Rússia e a condição dos trabalhadores em todo o mundo deveriam ser suficientes para provar que a política "leninista" actual, é precisamente o contrário.
Lumena
Marx escreveu um texto sobre o modo de produção asiático que se aproxima muito mais do regime soviético. É sabido o passado da Russia e a influência deste modo de produção. De algum modo Lenine substituiu as elites e continuou um processo muito próximo ao descrito por Marx. Interessantemente há escritos de autores socialistas do sec. XIX que chocariam muitos socialistas do sec XXI. Veja-se o que Engels escreveu sobre os Bascos e os Sérvios ou o que Bernard Shaw escreveu sobre a eutanásia de alguns tipos de pessoas.
ResponderEliminarEstamos abertos a essa partilha sobre os escritos dos autores que fala.
ResponderEliminar"...parece-me inquestionável que houve uma mudança entre o líder que preconizava a luta revolucionária e o estadista que foi depois, a seguir à tomada do poder. Mas isso é normal, porque as circunstâncias em ambos os períodos eram radicalmente distintas. Um dos exemplos desta evolução foi o diferente papel, cada vez maior, que foi designado ao Partido. De ser, no princípio, uma entidade dedicada à educação popular para que as massas pudessem aceder à vanguarda do proletariado, passou a converter-se na batuta que exercia o poder."
ResponderEliminarVer texto completo em http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=9166&lg=po
Parece-me um bom texto para contrapor com este post.
Só hoje descobri o seu blogue. Parabéns pelo empenho.
Um dos problemas que surgem da ideologia comunista passa pela tendência totalitária, pois havendo opção ao modelo preconizado jamais se poderia concretizar a necessária colectivização universal. A necessidade de impor o modelo, mesmo contra a vontade de quem dele iria supostamente beneficiar - mesmo que a intenção fosse genuína por parte dos sovietes e bolcheviques - levou à repressão e a ao "terror vermelho". Dizia-se que era para combater a "Irracionalidade das Massas". Só posteriormente, só depois do "terror", os sovietes e bolcheviques passaram à educação e alfabetização do povo.
ResponderEliminarObrigado pelo incentivo Alex!
ResponderEliminarEu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(88anos)li com interêsse o texto e os comentários.No texto faltou fazer referência na Guerra Civil,a intromissão do Ocidente com destaque para os USA,a Inglaterra imperialista e a França colonialista que apoiaram as Tropas czaristas.E contra o Terror Branco,foi desencadeado o Terror Vermelho.E desde então o Ocidente tudo fez,até mesmo apoiou os Nazi-fascistas para derrubarem a URSS.Não o conseguiram militarmente,mas conseguiram o seu derrube pela intriga,pela corrupção,pela pulhice.
ResponderEliminarE presentemente o Regime russo que adoptou o brasão d'armas do Czar,tem a bênção da Igreja ortodoxa cristã apoiante do Czarismo.E os pulhas,os corruptos que adulteraram que subverteram o Ideal que pretendia instalar uma Comunidade Socialista na Rússia, tornaram-se milionários de um dia para o outro.