Bíblia pode ser traduzido como “livros”, do plural grego de biblion que significava, comumente, rolo de papiro. Assim o termo Bíblia aponta para um conjunto de livros num sentido largo do termo, de tal forma que o livro sagrado do cristianismo foi considerado como: O Livro. Mas este domínio dos termos, em que um objete recebe o nome de todo um conjunto pode ter razão de ser histórica e religiosa. Gregos e Egípcios usavam rolos de papiros, e em certos casos pergaminhos em quantidades massivas, sendo o caso da biblioteca de Alexandria um caso paradigmático, onde, supostamente, existiam milhões de rolos de papiros em que se reunia todo o conhecimento de então. Ainda hoje os Judeus usam nos seus cerimoniais rolos de pergaminho onde se inscreve o Talmude e a Tora, sendo elementos sagrados e simbólicos dos réus rituais.
Natureza Morta com Bíblia - Van Gogh |
Sabe-se hoje ser pouco provável que tenham sido os cristãos a inventar os códices, aquilo a que hoje chamamos livros, que são, no fundo, aglomerados de folhas com uma sequência que se pode folhear e ler sem desagregação, com capa e contracapa, ilustrados ou não. Consta que já os romanos utilizavam aglomerados de folhas, em simultâneos com os cadernos de tabuinhas de cera onde escreviam com um objeto pontiagudo e apagavam raspando a cera. Provavelmente foram os egípcios de influência greco-latina, descendentes dos construtores da biblioteca de Alexandria, que começaram a utilizar aglomerados de folhas, formando os primeiros porto-códices. Podem também ter sido os romanos como já se disse, pois há alguns vestígios escritos disso. Não sabemos ao certo se era algo comum por todo o mundo mediterrânico. O que pode ter acontecido foi uma adoção dos códices pelos cristãos como forma prática e diferenciadora de reunirem os seus textos de forma organizada, portátil e fácil leitura. Seria um elemento que os diferenciava simbolicamente e formalmente. Há que lembrar que o cristianismo, quando nasceu, era uma inovação religiosa, social e cultural pelo que não será absurdo que tenham adotado essa inovação em oposição aos usos e práticas literárias das outras religiões e influências culturais.
Posteriormente os livros (codices) tiveram uma grande aceitação sob a influência da cultura islâmica e do ressurgimento cultural do império carolíngio, com as atividades literárias a serem fortemente incentivadas nos mosteiros. Nessa altura os livros já se assemelhavam muito ao que hoje conhecemos. Ainda hoje, apesar dos das alternativas digitais, os livros continuam a ser dominantes. Curiosamente, ou não, algumas formas de cristianismo continuam a assumir muito a sua relação com os livros, especialmente com a bíblia. Algumas fazem disso ainda uma imagem de marca, ao contraria da igreja católica que foi abandonando essa relação privilegiada com o livro.
Referências bibliográficas:
Roberts, Colin H. & Skeat, T. C. (1987). The Birth of the Codex. Oxford University Press.
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