Lembro-me de uma determinada professora de filosofia do ensino secundário pela abordagem diferente que fazia nas suas aulas. Conseguia-nos cativar com alguns temas e referências muito especiais. Infelizmente esqueci-me do nome dela, mas ficou uma imagem idealizada dessa professora que tem servido de inspiração.
Sweet Dreams Baby - Roy Lichtenstein |
Um desses assuntos foi a temáticas dos filmes de ficção científica, quando deles tirava conclusões sobre a condição humana e as relações sociais de cada tempo em que eram realizados. Lembro a referência a mensagens que se poderiam retirar de filmes tão populares como “Blade Runner”, “Exterminador Implacável” e “Alien: o oitavo passageiro”. Cada um deles falava da problemática das máquinas com inteligência artificial. Em todos estes filmes, de um modo ou de outro, as máquinas eram os vilões. Ou seja, havia um medo claro dos limites da descoberta científica. Depois, curiosamente, nos anos 90, surgem sequelas, surgem novos filmes em que as máquinas já parecem querer também ajudar contra outras máquinas ou dificuldades. Mudaram-se então as mentalidades? Talvez, ou simplesmente era a novidade que permitia alimentar esta industria tão carente de coisas novas para consumo rápido.
Um outro fenómeno curioso, com o qual também se podem fazer extrapolações, é o crescimento do interesse pelos super-heróis. Se antigamente, a partir dos anos 90 e por ai fora, reinaram filmes de acção populares para os mais jovens em que os heróis eram “mauzões” que dominavam, com meios muito pouco ortodoxos, do tipo anti-heróis e ao estilo “gangster”, desde há uns anos para cá as coisas parecem ter mudado.
São cada vez mais os filmes de super-heróis clássicos (com capas, fatos e nomes originais) e suas adaptações, no seu individualismo e idealismo do "bem", ainda que existam excreções como é normal. Será também uma mudança social e de valores? Ou seja, mantém-se o individualismo típico das sociedades pós-industriais e ultraliberais, mas parece querer renascer o sentimento de altruísmo, do praticar o “bem” e de encontrar um sentido para existência individual? Será o reflexo de sociedades que, vivendo na abundância, pretendem agora a felicidade individual que nem sempre passa por mais bens materiais?
Não se poderá concluir disto grandes certezas. Mas podemos dizer que é possível retirar dos filmes e produções da cultura pop significados e referências mais profundas do que seria expectável em produtos de consumo rápido. Podemos filosofar sobre isso. Podemos usar do intelecto para colocar questões e problemáticas.
Poderá ser a prova de que a filosofia se pode massificar e ao mesmo tempo diferenciar no individualismo ultraliberal, com cada um a poder abordar, sejam quais forem os temas e perspetivas, do modo e no formato que mais lhe convier?
Isto é uma extrapolação arriscada, mas sem arriscarmos o erro e fazer as perguntas não poderemos avançar com mais conhecimento e compreensão. Afinal, até podemos fazer um bocadinho de filosofia assim.
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